Sunday, August 2, 2015

O BLOG AMIGO DA SEMANA: OLAVO PASCUCCI, E SEU PENSAMENTO VIVO, HIRTO E PULSANTE

OLAVO PASCUCCI

O pensamento vivo, hirto e pulsante do engenheiro Olavo Pascucci.

06 MAIO 2015


DA VIDA SEXUAL DAS SUBCELEBRIDADES. CAPÍTULO DOIS: SIMONY GALASSO.

O leitor amigo anuirá gravemente, enquanto torna a mergulhar o sushi de quinoa no molho de miso e gergelim, se eu asseverar que a Internet é uma fonte de horrendas distrações, que no mais das vezes tornam impossível nos dedicarmos a sério a qualquer cousa de mais elevado. Concordará, decerto, pensando n’algum vídeo retrô dos Menudos pré-adolescentes a velejar em camisetas sem manga e de shortinho, as pernocas glabras à mostra, e enjeitando enfastiado a nova tradução de Morte em Veneza que comprou na Argumento do Leblon (indicação de Manoel Carlos). Eu mesmo já relatei, alhures, minha suprema indecisão quando confrontado, no mesmo dia, com uma gravação completa e gratuita da Vigília Noturnade Rachmaninoff e com a reprodução igualmente completa e igualmente gratuita do clássico Debbie does Dallas  (mormente, permiti-me precisar na ocasião, a cena em que um desses heróis anônimos daquela indústria vital perfura o cu escuro e sujo da srta. Jenny Cole).

Entre les deux mon cœur balance, sentenciará o leitor, com uma piscadela cúmplice e uma pausa quase imperceptível entre o mon e o cœur, como que a buscar o meu endosso à equivalência que afinal se estabeleceu — malgré moi, acrescentará, sempre na língua de Gide — entre Mann e Ricky Martin, de um lado, e Rachmaninoff e Bambi Woods, de outro.

Toda esta conversa-mole vem à guisa de introdução para o que se segue: ontem, quando eu me preparava para retomar a minha própria tradução, do latim, das Confissões de Santo Agostinho, fui interrompido da maneira mais descortês por uns leitores que, mais que implorar, exigiam um pronunciamento meu sobre matéria publicada no Ego, um site dedicado a escancarar vidas e xavascas de subcelebridades.

matéria em questão trata, como o amigo leitor nunca viu e preferia aliás não saber, das intimidades conjugais da ex-cantora e ex-gorda Simony Galasso com o engenheiro (o site qualifica-o assim) Patrick Silva. Simony, se puxarmos bem pela memória, era a única fêmea no foursome infantil Balão Mágico, que em vão assegurava, lá se vão três décadas, que somos amigos, amigos, amigos — o telespectador atento já percebia que ali, malgrado a tenra idade dos participantes, tinha de haver sacanagem: as bolsas de apostas limitavam-se a especular sobre se quem comia o cu à saltitante Simony era o filho do bandido, o filho do Jair Rodrigues, o bestial Fofão (hipótese que eu à época favorecia) ou o perfeitamente inútil Toby ( Vímerson). Como esse material humano justificasse poucas punhetas, mesmo entre os coetâneos de Simony, a Globo acabou substituindo o programa pelo muito mais proveitoso Xou da Xuxa, duplicando a audiência nesse processo (os senhores pais, afinal de contas, tomaram-se de interesse súbito pelos hábitos televisivos dos filhos, e foram recompensados com farto material para punhetas não apenas na srta. Meneghel, mas também em suas Paquitas — sobretudo a Andréa Sorvetão e a Pituxa Pastel [a Miúxa não] — e, se fôlego restasse, também na Cheetara, na She-Ra e na Smurfette).

Simony, entrementes, caiu no mais sólido anonimato, de onde debalde buscou sair, a partir de fins dos noventa, fazendo-se periodicamente emprenhar por presidiários. Passaram-se outros quinze anos, e eis que a já balzaquiana subcelebridade reaparece, diante de nossas barbas perplexas, confessando-se ex-gorda e casada com um colega engenheiro, e no pleno exercício do pátrio poder sobre uma caralhada de crianças ranhentas com ípsilon no nome. Mais: sem demasiados circunlóquios, diz que, desde que perdeu 25 quilos, passou a foder “em todas as posições” com o engenheiro (palavras textuais suas); que seu macho passou a dar-lhe surras de piroca históricas (paráfrase minha); que os dois apreciam tanto quanto eu ver filmes de sacanagem (não elaborou a respeito, de modo que ficamos sem saber se o casal favorece obras com gang bang, A2M e espôrros faciais ); e, por fim, que “nunca gostou” de sexo grupal (decerto buscando, com isso, dissipar de uma vez os rumores irresponsáveis sobre a real natureza de seu relacionamento com Jairzinho, Mike, Toby e Fofão — ao que eu, espírito de porco que sou, me permito chamar a vossa atenção para a formulação um tanto equívoca: “nunca gostei”).

Tudo isso, vindo de quem vem, me pareceria perfeitamente natural e até escusável, não fossem três pequeníssimos detalhes que a peralta Simony deixa transcender quase que sem querer: a folhas tantas de sua confissão (digo folhas e não sei se o pasquim de fato existe em forma impressa, para limpar as manchas de esperma do azulejo do banheiro onde se lê essa merda) — a folhas tantas, dizia, Simony deixa claro que o engenheiro é fissurado em cu (“ele ama meu bumbum”); que, enquanto a sodomiza brutalmente, as bolas a fazer tlec-tlec-tlec nas nádegas, admira-lhe a musculatura rija (“ele adora brincar com meus novos músculos”); e, por fim, que o que nela não aprecia de jeito nenhum são as tetas a balangar ao sabor da foda (“ele acha que está excessivo”).

Como se nada disso bastasse, há ainda um quarto elemento a merecer a nossa censura mais enfática e inapelável: enquanto a fode, o engenheiro Silva canta obras de um desses sambistas que desde sempre (ou desde Jair Rodrigues Jr.) fizeram a cabeça e umedeceram a xavasca à inefável Simony. Quer-me parecer que, não sendo ele próprio sambista, o procedimento revela uma propensão perigosa à cornitude. Mas passemos ao largo desse detalhe pitoresco e concentremo-nos no quadro que as confissões de Simony nos permitem compor: o sujeito gosta de cu (o que é louvável), mas se e somente se o parceiro tiver pernas, braços e abdômen torneados, e de preferência peitos nenhuns (o que não é).

Os senhores tirarão disso tudo as conclusões que quiserem. Eu, de minha parte, estou encaminhando esse material ao Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, para as providências cabíveis.

15 JANEIRO 2015


PUNHETA PÓSTUMA PARA ANITA (OU: "FODENDO EM BRANCO E PRETO")



Eu queria comer uma mulher em branco e preto. 


A estudante de Belas Artes, o crítico de cinema, o leitor do caderno de cultura d’O Globo e da Ilustrada da Folha, os senhores Rubens Ewald Filho, Vladimir Safatle e Milton Hatoum bem fariam em deixar pender para um lado (o esquerdo) a trosoba alheia, triste e mole, que tentam ressuscitar à força de brutos chupões e prestar a atenção devida a esta minha confissão, que eu não vou explicar de novo (, caralho): É a mulher, não a foda, que é em branco e preto.


Digo isso enquanto sopeso a verdade última encerrada no juízo definitivo do acadêmico Jaguar sobre esta nossa passagem por este vale de lágrimas e sumos vaginais (“assim é a vida: uma bosta”). Verdade sentenciada, no caso dele, em protesto pelo fechamento da Uisqueria Bico Doce, no Beco das Cancelas, entre a Rua do Rosário e a Rua Buenos Aires, ao lado dum estabelecimento prostibular que anunciava “promoção: caldo verde + strip tease: R$ 10” (isso o Jaguar não referiu). E relembrada, no meu caso, pelo triste passamento da mais longeva musa de punhetas de que se tem notícia: a sueca Anita Ekberg. Isso, recorde-se, numa semana já bastante pródiga em notícia merda (Je suis Charlie. Será que ele é Maomé?).


Saramago certa feita disse que a velhice é sentir como uma perda irreparável o acabar de cada dia. Eu cá suspeito que o portuga, em seus anos derradeiros, escreveu demais e tocou punhetas de menos. A velhice, meus amigos, é a punheta retrospectiva. Começa quando o sujeito passa a esganar a rôla pensando não nas vadias de hoje, nas vadias vigentes, mas nas vagabundas de outrora, nas que comeu ou quis comer na sua juventude, em toda a exuberância de peitos, peida e pentelhos perfeitamente anacrônicos (sobretudo os últimos, que já quase não se usam). E, ao rememorar as fodas havidas ou frustradas, o pobre-diabo sente por uns minutos (não mais que cinco) a onipotência de quem se vinga da vingança do tempo (que le hace ver deshecho lo que uno amó — Discépolo) e desafia até o Código Penal (na punheta retrospectiva, fodem-se até menores púberes, eis que o fodedor, na sua fantasia, também ele tem treze, quatorze anos [a velhice é a punheta com enredo]).


O leitor de vinte-e-poucos (anos, não centímetros) que laboriosamente vai pinçando um por um os cutelhos para não destoar dos companheiros derave não perceberá a profundidade destas minhas reflexões, nem a justiça de certas homenagens, ainda que póstumas, à Anita Ekberg, entretido que anda com homenagens outras ao Matheus Solano, ao Caio Castro, ao centroavante Fred ou ao zagueiro Thiago Silva. Não perceberá, talvez, por ter-se acostumado a um ideal de mulheres perfeitamente anti-sépticas, sem as tetas ubérrimas, absolutamente pornográficas da Anita, sem a opulência de pentelhos crespos que decerto povoavam as cercanias e lonjuras duma xavasca majestosa, que eu imaginava pontilhada de romanas gotículas da mesma fonte onde a srta. Ekberg — estou certo disso — gargarejou depois de saciar o nosso herói Mastroianni, para tirar o gosto ruim (ou assim me assegura a Danusia Barbara).


No princípio foi a Anita. Depois vieram Sophia Loren, Claudia Cardinale, Ornella Mutti, a retardada fudeca do AmarcordValeria Ciangottini(perdoa-me, padre) e as outras, não italianas (mas não por isso menos putas), Brigitte Bardot, Catherine Deneuve, Sophie Marceau, e as suecas — de todas as mais putas, nem trezentos anos de catolicismo à vera —, Bibi Andersson, Britt Ekland, Ingrid Bergman. E Anita Ekberg.


O amigo leitor não me entenda mal: não serei eu, justo eu, a revirar os olhinhos, alisar a borda do roupão púrpura com o polegar e o indicador e sentenciar, dorso da mão na cintura, que mulheres eram as de antes. AMarina Ruy Barbosa querendo, estou a postos para dar-lhe beijinhos no umbigo (por dentro). Mas o público heterossexual deste nosso Brasil (todos os cem) há de convir comigo que havia um quê de tocante em tetas, peidas e xavascas como as do cinema europeu dos anos sessenta — algo que falava a algum instinto primevo nosso e nos fazia querer sair por aí a perfurar rachas e arrebentar entrefolhos desregradamente. Sem medo de passar a semana seguinte a regurgitar pentelhos.


E, se concorda comigo, talvez já ache um pouco menos insólita a tara que me aflige desde que vi a Judy Garland adolescente, peitinhos em riste e vestidinho de chita, a cantar sobre um lugar onde the dreams that you dare to dream really do come true. Como o de comer uma mulher em branco e preto.


02 OUTUBRO 2014


DA VIDA SEXUAL NO CANGAÇO



Mocetões: esta manhã, enquanto eu perscrutava, com olhar de proctologista, as fotos do cu da arqueira ianque Hope Solo (parênteses: ¡viva o desporto feminino!, ou algum dos senhores acharia graça em fotos do lorto do goleiro Cássio, do Curíntia, que reputo, talvez, quase tão feio quanto seus cornos?) — enquanto eu perscrutava as tais fotos, dis-je, deparei-me com uma dessas notícias que, quase tanto quanto comentário de leitor em site de jornal, dão a medida justa de nossa miséria. Segundo me informa o site da Veja, está no prelo, obra dum juiz aposentado, uma biografia do delinqüente Lampião onde se sustenta que o famoso Rei do Cangaço apreciava mesmo era uma trosoba hirta e cheia de espinhos (à maneira das cactáceas de sua caatinga natal) a magoar-lhe furiosamente os entrefolhos, mais do que já estaria magoado pelos restalhos duma dieta a base de bodes e carcarás.

Mais: a notícia dá conta de que uma popular resolveu entrar em juízo para impedir a publicação da obra, movida talvez por essa tendência que viceja entre nós de tratar bandido como prócer, e de achar que obra nenhuma pode tirar os próceres de seus pedestais.

Ora, muito bem. Duas cousas me estarrecem nessa patacoada: (1) que alguém, não sendo descendente direto do bandido, ou mesmo sendo-o, foda-se, tenha legitimidade ativa para propor uma ação dessas (e reparem que nem chego a discutir o mérito da causa); e (2) que qualquer um (e creio-me insuspeito de fazer apologia de bandido) possa questionar a heterossexualidade dum sujeito que tinha pica e estômago para comer aMaria Bonita. Ora, caralhos ma fodam, comer a Marina Ruy Barbosa ou aEmma Watson qualquer um come — até viado, sem demasiadas demonstrações de nojo. O verdadeiro teste de masculinidade, a verdadeira audição para o papel de Groo, o Errante, está no encarar uma fêmea do quilate justamente da Maria Bonita ou da Miriam Leitão.

Aliás, há uma terceira cousa a embasbacar-me nesse episódio: que haja, no Brasil, público para ler (nem falemos de autores para escrever) uma obra de 300 páginas sobre a vida sexual dum bandido feio pra caralho com uma fêmea idem e outras duas dezenas de machos com os mesmos predicados. Seria de perder o sono imaginar que o Dr. Pedro de Morais, autor da obra,even as we speak, pode estar tratando do licenciamento da versão cinematográfica (em breve num cinema perto de você).

Ah, sim, antes que eu me esqueça: cada povo tem a Bonnie and Clyde que merece.

30 MAIO 2014


O BONEQUINHO VIU HOUSE OF CARDS... E TOCOU TREZE PUNHETAS

O leitor que me acompanha há uma década sabe que eu sou um cavalheiro de gostos refinados, capaz de embevecer-me até às lágrimas tanto com a audição da Vigília Noturna de Sergei Rachmaninoff como com a redescoberta, no XHamster, da cena clássica em que o cu escuro e sujo da srta. Jenny Cole é perfurado com precisão cirúrgica em Debbie does Dallas (1978). Muito pelo ecletismo de meus interesses artísticos — que, como se vê, abarcam da pornografia à música erudita —, mas outro tanto, estou certo disso, por um desejo recôndito de que eu lhes arrebente selvagemente os entrefolhos, muito jornalista costuma assediar-me esperando pronunciamentos meus sobre o que quer que esteja trending now (eles falam assim, revirando os olhinhos), da telenovela aoanalingus.

O leitor atento também terá reparado que eu raramente condescendo em deixar publicarem os meus juízos estéticos nos pasquins que, aqui no Brasil, fazem as vezes de imprensa. Credite-se muito do meu silêncio à natural modéstia com que me pauto sempre que o assunto em tela não são as dimensões da minha trosoba. No entanto, os chefes de redação me ajudariam muito a ajudá-los se, em lugar do Fernando Rodrigues, mandassem entrevistar-me a Fernanda Rodrigues, que, desde os tempos deMalhação, tem muito melhor sintaxe, vocabulário, concatenação de idéias, peitos, peida e xavasca do que o seu quase-homônimo.

Isso não obstante, hoje me vejo forçado a abandonar as sublimes leituras a que me vinha dedicando para compartilhar convosco, para ensinança do público e escarmento da crítica, uma epifania estética que me acometeu no último fim de semana. Andava eu em estado do mais completo emputecimento, ocasionado pelos singulares ataques de pelanca em que se desfaziam uns filhos viados de um vizinho enrustido, que comemoravam gol de time estrangeiro na final da Copa dos Campeões Europeus (o que, o leitor há de convir comigo, é comportamento de quem espera ter os intestinos ambos preenchidos por uma bruta trosoba preta para daqui a, no máximo, quinze minutos). Inspirado talvez em Borges — que optou por escancarar sua superioridade intelectual proferindo palestra sobre a imortalidade na hora precisa em que a Argentina disputava sua partida inaugural na Copa do Mundo de 1978 —, deliberei eu tornar patente o meu interesse por cousas mais excelsas assistindo a um filme de sacanagem na televisão. Como (a queixa é recorrente) minha senhora cortou a minha assinatura do Sexy Hot já há quase dez anos, tive de contentar-me com o sucedâneo mais à mão (a esquerda, que a direita se entretinha em labores outros), e assim terminei assistindo, de cabo a rabo, à série americanaHouse of Cards.

Autores piores que eu já se terão pronunciado sobre o enredo e sua verossimilhança, sobre a perspicácia e exatidão com que a série retrata a profunda malaise (disseram assim, com o dorso da mão na cintura) dacivitas americana diante de um sistema político cada vez mais corrompido pelo poder nefasto do dinheiro, mormente de Citizens United v. Federal Elections Committee para cá, e pela conseqüente incapacidade do referido sistema de extrair dos eleitos os anjos melhores de sua natureza (como sãopiores que eu, seguramente não citaram nem a jurisprudência, nem o fecho do primeiro discurso de posse de Abraão Lincoln).

Pois muito bem: com a experiência que acumulei nesta minha passagem por este vale de lágrimas e sumos vaginais, descreio da eficácia dessa conversa-mole para aquilo que interessa, que é garantir ao opinador pernóstico o acesso franco às xavascas da audiência. De modo que o leitor formado em Ciência Política me escusará se, ao analisar a obra, me limito a esmiuçar os seus méritos estritamente onanísticos. E, neste particular, ouso dizer que a obra em questão é o que de melhor se produziu, fora da indústria especializada, desde pelo menos O Nome da Rosa (mormente a cena em que aparece o cu da Valentina Vargas).

O leitor que franze o sobrolho e cofia os pêlos do cavanhaque enquanto enche o cachimbo de tabaco com sabor de baunilha fará bem se, em lugar de questionar o meu juízo ilustrado, prestar a atenção devida a cinco vagabundas fodibilíssimas que tornam a série um deleite para os olhos e uma maratona para o jonjolo do expectador heterossexual.

(1) Comecemos por minha favorita: a srta. Kate Mara — até aqui uma celebridade relativa que interpretara a filha gostosa de um dos perobos emBrokeback Mountain, além de uma cheerleader fancha em Nip/Tuck — desempenha com louvor o papel de Zoe Barnes, uma jornalista vagabunda que usa a xavasca para conquistar fontes, notícias e a ascensão funcional. O onanista leitor se deleitará, como eu me deleitei, com a naturalidade com que a mocinha afeta inocência (usando rabo-de-cavalo, roendo as unhas, vestindo-se de adolescente em suéter e jeans no ambiente de trabalho) para com isso garantir o acesso à trosoba senil de patrões, âncoras e deputados. A série infelizmente não o documenta de maneira exaustiva, mas fica claro ao observador atento que a mocinha dá cu, se não com gosto, ao menos com naturalidade e profissionalismo. Atenção à cena em que ela arreganha o furingo para o deputado tirar fotos. (Nota aos editores da Folha: se quiserdes que eu abrilhante o vosso pasquim com meus palpites ocasionais, é favor tentar convencer a srta. Patricia Campos Melo a usar os mesmos expedientes com a minha excelsa pessoa.)

(2) A segunda menção não faz exatamente o meu gênero, diga-se de cara — prefiro prexecas mais jovenzinhas, menos maltratadas pelo uso —, mas tem sido tão festejada nos círculos onanistas que não poderia deixar de ser mencionada. A srª. Robin Wright interpretou Claire Underwood, a consorte do protagonista deputado (e portanto filho da puta). Não vislumbro ali peitos ou peida capazes de justificar mais do que oito punhetas, mas os aficionados assinalam que a megera tem um je ne sais quoi que é garantia de que ali se fode bem (ou, por outra, que é garantia de que ela fode bem, ao menos no que respeita ao aspecto puramente mecânico da foda). Há de ser verdade, embora a insistência da augusta senhora em dar sovas de buceta num seu amante fotógrafo (e portanto homossexual) esteja aí a indicar que tamanha energia represada tem sido dissipada irresponsavelmente em trepadas perfeitamente insatisfatórias. Em defesa da personagem, admito que as muitas insinuações (algumas bastante óbvias) de que o relacionamento da srª. Underwood com o tribuno do povo consiste basicamente em ela seviciá-lo horrivelmente com uma cintaralha preta e com veias (isso ficou evidente, creio, na cena do ménage com o guarda-costas) ao menos demonstram ser ela dotada de um mínimo de espírito cívico. É mais do que se pode dizer de toda a classe política brasileira.

(3) Christina Gallagher (interpretada por Kirsten Connolly) é assessora parlamentar de um deputado alcoólatra, toxicômano, putanheiro e careca. Suas funções consistem, portanto, em limpar-lhe o vômito pendente do queixo, administrar-lhe supositórios de cocaína, tirá-lo da cadeia quando é pego cheirando ou freqüentando primas e, ocasionalmente, incutir-lhe um mínimo de amor-próprio aos gritos de "seja macho, porra". Frustrada com a incompetência política e a inapetência viril do patrão, acaba indo buscar pastagens mais verdes junto à primeira trosoba do mundo livre. Fode pouco, e é pena. Pela carinha de devassidão contida, bem poderia proporcionar-nos ao menos um par de espanholas finalizadas com o pearl necklace regulamentar.

(4 e 5) A puta e a evangélica ou, por outra, Rachel Posner (Rachel Brosnahan) e Lisa Williams (Kate Lyn Sheil). Recomendo ao amigo leitor passar ao largo dos episódios em que a primeira de nossas heroínas exerce a prostituição por quaisquer três vinténs nas ruas e hotéis do Distrito de Colúmbia e atende pelo alias de Sapphire. A coisa começa a melhorar quando, desintoxicada e de cara lavada, a putinha vai-se exilar na Virgínia profunda e lá conhece a evangélica fudeca, de violão em punho para cantar que yes, we gather by the river, the beautiful, the beautiful river. Com a prexeca em chamas pela prática da abstinência, a mocinha entrega-se gostosamente ao amor fancho, que aparentemente não é pecado (aliás, atenção, sapatas do nosso Brasil: o que as senhoritas fazem, com o ar de quem pratica enormes transgressões, é absolutamente irrelevante do ponto de vista religioso, tanto assim que não há uma única referência ao tribadismo ou ao chupar bucetas nas proibições em numerus clausus do Levítico e Deuteronômio — ao contrário da pederastia, que é abominação). O ponto alto da série é a cena em que a putinha enfia quatro dedos da mão, até a terceira falange, na xavasca da crente, e a fode com tamanha maestria e vigor que o espectador ilustrado não pode deixar de fazer a associação livre com as Fucking Machines do site homônimo.

Segundo nos garante a crônica policial, a série causou furor em Brasília, onde os homens públicos se sentem perfeitamente redimidos com a demonstração tão gráfica de que são todos carmelitas descalças diante do que se pratica em democracias mais evoluídas do que a nossa. Dizem até que a série é a favorita da presidente Dilma Rousseff. Tendo em vista, no entanto, a sofisticação intelectual de nossa primeira mandatária — comparável à daquele seu antecessor-general que entrou para a Academia Brasileira de Letras porque um dia sentou pelado num monte de farinha e fez um O com o cu —, tenho cá a suspeita de que ela aprecia a série pelos mesmos motivos que eu.



31 JANEIRO 2014


EFEMÉRIDES QUE REALMENTE IMPORTAM



Amanhã é fevereiro, e os pederastas que, depois do passamento do Dr. Roberto, passaram a gerir a Rede Globo (essa corja vil que, quando não está manjando a rola dos nativos de Asa Branca, Curicica, ali pertinho do Projac, está legislando sobre a proscrição da expressão castiça "perigo de vida" ou sobre a proibição do uso do artigo definido feminino antes do nome da Juventus, Internazionale ou Roma) começarão a martelar os nossos bagos com material relacionado ao carnaval. Pederastas que são, têm naturalmente uma visão distorcida da serventia da festa e, em vez de bombardear-nos com closes de bordas marrons de lortos a ultrapassar a tanga diminuta atolada nos entrefolhos dalguma vagabunda global ou não, pretendem submeter-nos a insistentes sessões de memorização de letras de sambas-enredo perfeitamente descartáveis. O leitor que porventura tiver os colhões de adamantium poderá, ainda, expor-se a mesas-redondas inteligentíssimas em que se debaterá sobre o caráter transgressor do desfile do Joãosinho Trinta em 1989 ou sobre o uso da metalinguagem em Bumbum Paticundum Prugurundum (o samba que fala de samba, vejam que prodígio). Tudo isso, claro, em detrimento da exibição muito mais proveitosa das Olimpíadas de Inverno, que renderiam muito melhores punhetas com a exibição depolaquinhas chupabilíssimas de quatro a esfregar o chão (num desporto decerto idealizado por algum degenerado leitor de Casa Grande e Senzala).

Não me restam dúvidas, portanto, de que, com esse mindset homossexual a condicionar a gestão dos negócios do carnaval, o dia 6 de fevereiro próximo passará em branco na grade da Vênus Platinada — como se não se tratasse, para a cultura pátria, de data tão importante quanto a da publicação deGrande Sertão: Veredas (que, se eu entendi bem, é um livro sobre um paraíba que quer comer o cu de outro paraíba, e arrebenta-lhe os entrefolhos mesmo quando descobre que o segundo paraíba é na verdade portador de um bucetão perfeitamente aproveitável). Ora, caralhos ma fodam, foi nessa mesma data, no ano da Graça de 1989, que uma senhorita de nome Enoli Lara pela primeira vez exibiu uma xavasca humana (as bovinas já o fizera o Globo Rural em mais de uma ocasião) em rede nacional de televisão, enquanto saltitava aos versos de Festa Profana, da União da Ilha do Governador. Constrangida, depois, a explicar-se a um auto-da-fé de repórteres homossexuais, a brava Enoli negou que tivesse desfilado nua: — Estou de botas, como bem se vê.

Só a exibição da buceta até à pleura, somada ao panache da resposta, já deveriam bastar para inscrever o nome de Enoli Lara em fulgurantes letras roxas (roxo-cu) na História da cultura brasileira. Isso se a então moçoila já não fosse semicelebridade de alguma rodagem. No ano anterior, 1988, sempre pela União da Ilha, desfilara com todo o time do Flamengo sem nem botas — apenas com a xavasca escamoteada por elegantes chamas em vermelho e preto, que da prexeca se irradiavam até os ombros, como que a indicar que, também na sua xavasca, quem manda nesta porra é a torcida do Urubu (todos os 40 milhões). Alguns anos antes, tornara-se referência obrigatória na jurisprudência pátria, depois de ganhar em juízo uns trocados do BANERJ, que exibira apenas o lorto da jovem modelo — sem cara, sem nome, sem HP — em propaganda televisiva. Até os dias que correm, não há professor de Direito Civil que não cite algo contrariado o nome de Enoli Lara, enquanto caminha com visível dificuldade rumo ao quadro-negro, ao explicar o conceito de direito à imagem a seus pupilos.

Foi a performance ginecológica de 1989, no entanto, que mudou para sempre, e para pior, os rumos do carnaval e da televisão brasileira. À visão da pentelhama hirsuta e das bordas da racha que nela mal se escondiam, entraram em pânico diretores de programação, acionistas, jurados e carnavalescos. Baixou-se a regra de que buceta, não. No ano seguinte, a modo de protesto, o indefectível Joãosinho Trinta resolveu ilustrar o enredo Todo o mundo nasceu nu com a imagem constrangedora de Jorge Lafond com o corpo todo, poronga inclusive, coberto de purpurina. Novamente se reúnem executivos globais e, algo menos convictos que da vez primeira, alguns ainda salivando, decretam que está terminantemente proibido desfilar com "a genitália desnuda, pintada ou decorada".

Os historiadores e críticos de arte não percebem — talvez pela mais absoluta falta de curiosidade intelectual por essas coisas de buceta —, mas acabaram ali os anos 80 no Brasil. O mundo ainda esperaria alguns meses, até a queda do Muro de Berlim e a conseqüente abertura da Hungria e da República Tcheca ao trabalho pioneiro dum Woodman ou dum Stagliano, que inauguraram a estética dos anos 90. O Brasil, no entanto, caminhou na direção contrária, e o ambiente libertário da Nova República foi aos poucos cedendo a vez ao obscurantismo e à perobagem. Ao se proibirem bucetas nas transmissões carnavalescas, estavam lançadas as sementes que, um dia, frutificariam no CONAR, com seus auditores pederastas a desfazer-se em singulares ataques de pelanca a qualquer sugestão de que pussy sells.

É, portanto, tomado de profunda nostalgia que eu encareço o leitor amigo a desocupar também a mão direita para juntar-se a mim numa salva de palmas à srª. Enoli Lara e à época que ela encarnou melhor do que ninguém. Uma época em que banco comercial tinha a desfaçatez de vender caderneta de poupança e fundos overnight com imagens de lortos femininos — e todo o mundo achava normal. Uma época em que propaganda de iogurte tinha a castimônia de mostrar mulher babando Danoninho em cima das próprias mamas, numa sugestão evidente de que, para além das funções alimentares, os peitos estão ali para a prática da espanhola e do pearl necklace, e o CONAR que se foda. Uma época em que jogador de futebol — nosso role modelquintessencial — apreciava vagabunda em lugar de travesti, e os clubes sancionavam e sacramentavam a prática botando prostitutas de renome para desfilar seminuas, até a prexeca pintada de vermelho e preto, antes de cada final.

Criança, não verás nunca mais país nenhum como este! Se fodeu!



1 comment:

  1. Valeu a pena ler cada palavra deste maravilhoso artigo. Obrigado pelo tempo que investir para escreve-lo!

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