por Chico Marques
Neville de Almeida e Plínio Marcos possuem muito em comum. Ambos são fascinados pelo submundo da alma. Ambos transitam por um universo temático onde os instintos básicos de seus personagens dão as cartas o tempo todo. E ambos apostam em obras que são sempre audaciosas em suas propostas, mas que resultam em produtos finais constantemente dominados pela auto-indulgência.
A idéia de Neville era contrapor a aridez do texto original de "Navalha na Carne", de Plinio Marcos -- que já havia sido filmado em 1969 de forma extremamente intensa e neo-realista por Braz Chediak, com Anecy Rocha, Jece Valadão e Emiliano Queiroz no elenco -- a uma espécie de musical.
Ou seja: quebrar com o tom amargo da peça original ao acrescentar externas da noite da Zona Boêmia do Rio -- entre a Praça Mauá, a Lapa, o Leme e o Lido -- em clips musicais com números de grandes artistas.
O resultado é bonito, mas não é uma unanimidade.
Há quem prefira os 27 minutos de cenas de rua em preto e branco no centro do Rio, sem diálogos de espécie alguma, da versão original de Chediak.
Ou seja: quebrar com o tom amargo da peça original ao acrescentar externas da noite da Zona Boêmia do Rio -- entre a Praça Mauá, a Lapa, o Leme e o Lido -- em clips musicais com números de grandes artistas.
O resultado é bonito, mas não é uma unanimidade.
Há quem prefira os 27 minutos de cenas de rua em preto e branco no centro do Rio, sem diálogos de espécie alguma, da versão original de Chediak.
Quando começam as cenas de interiores, a alegria das ruas cede a vez para a claustrofobia cruel dos personagens de Plínio Marcos.
Vera Fischer faz Neusa Suely, a prostituta decadente que não consegue lidar com a chegada da idade, com o desprezo de seu cafetão e objeto de desejo, Vado (interpretado pelo ator cubano Jorge Perugorria, de ''Morango e Chocolate''), e com a inveja da bichinha maldosa Veludo (interpretada brilhantemente por Carlos Loeffler).
Vera Fischer faz Neusa Suely, a prostituta decadente que não consegue lidar com a chegada da idade, com o desprezo de seu cafetão e objeto de desejo, Vado (interpretado pelo ator cubano Jorge Perugorria, de ''Morango e Chocolate''), e com a inveja da bichinha maldosa Veludo (interpretada brilhantemente por Carlos Loeffler).
Vera domina o filme, obviamente.
Ela tem coragem, é louca de pedra, e é também uma mulher admirável.
Sempre quis fazer Neusa Suely no teatro ou no cinema, a ponto de topar ser co-produtora do filme.
E apesar de não ter nem metade da envergadura de Anecy Rocha como atriz, ela consegue fazer uma Neusa Suely mais ambígua e menos realista.
Da mente dela brotam tanto imagens delicadas com anseios e sonhos de felicidade quanto delírios visuais magníficos, que sempre envolvem questões bíblicas, revelando toda a educação católica da personagem.
Ela tem coragem, é louca de pedra, e é também uma mulher admirável.
Sempre quis fazer Neusa Suely no teatro ou no cinema, a ponto de topar ser co-produtora do filme.
E apesar de não ter nem metade da envergadura de Anecy Rocha como atriz, ela consegue fazer uma Neusa Suely mais ambígua e menos realista.
Da mente dela brotam tanto imagens delicadas com anseios e sonhos de felicidade quanto delírios visuais magníficos, que sempre envolvem questões bíblicas, revelando toda a educação católica da personagem.
Diante disso tudo, recomendo a quem acompanhou esse texto até aqui ver primeiro a versão de 1969 de "Navalha na Carne", de Braz Chediak.
É um filme excepcional, e está disponível na íntegra na janelinha do YouTube logo abaixo.
É um filme excepcional, e está disponível na íntegra na janelinha do YouTube logo abaixo.
E então, só depois disso, assistam à releitura de Neville de Almeida que será exibida nesta quinta, dia 1 de Outubro, no Cineclube Pagu.
Daí, tirem suas próprias conclusões.
Daí, tirem suas próprias conclusões.
NAVALHA NA CARNE
(1997, 118 minutos)
Direção e Roteiro
Neville de Almeida
Música
Almir Chediak
Elenco
Vera Fischer
Jorge Perugorria
Carlos Loeffler
Quinta - 1 de Outubro - 19 horas
OFICINA CULTURAL PAGU
Rua Espírito Santo, 17
quase esquina com Av. Ana Costa
Campo Grande, Santos SP
Telefone: (13) 3219-2036
Ao final da exibição,
um breve debate com os curadores
do Cineclube Pagu:
Carlos Cirne e Marcelo Pestana
No comments:
Post a Comment