por Chico Marques
Em meados dos Anos 80, quando eu era redator publicitário e trabalhava em Pinheiros, na Rua Fradique Coutinho, entre a Cardeal Arcoverde e a Teodoro Sampaio, costumava almoçar com frequência numa Rotisserie deliciosa que havia alí na região chamada Nássimo Morad Especialidades Árabes.
O proprietário era uma figura muito simpática, que lembrava um dos velhinhos do camarote do Muppet Show. Me chamava de santista, e me recebia sempre fazendo festa. Dizia que gostava muito de visitar Santos, mas sempre que descia a Serra nem se dava ao trabalho de ver o mar. Chegava de ônibus, sentia a maresia no ar, andava da Rodoviária até o Nicanor Bar na Rua Amador Bueno, tomava uma dúzia de chopes acompanhados de pasteizinhos e canapés de aliche, e então subia a Serra de volta ao Jabaquara.
Mas se como turista o velho Sr. Morad era um desastre, como cozinheiro ele era um craque absoluto. Tudo o que saía da cozinha da Nassimo Morad Especialidades Árabes era muito, muito especial, e com requintes bem peculiares.
Os quibes servidos lá, por exemplo, traziam sempre Castanha do Pará, cebola e hortelã picadas e bem misturadas à carne no recheio, o que proporcionava um belo diferencial no sabor.
As esfihas da casa podiam até parecer comuns, mas tinham um sabor bem marcante, devido a uma combinação de ervas que ele não revelava.
Mas o grande diferencial estava no zattar que fazia parte de todos os produtos com carne vermelha servidos na casa.
Nas casas árabes mais abrasileiradas, usa-se hoje em dia cada vez menos zattar, por ser um tempero considerado forte demais para o paladar médio brasileiro.
Nas casas árabes mais abrasileiradas, usa-se hoje em dia cada vez menos zattar, por ser um tempero considerado forte demais para o paladar médio brasileiro.
Vai entender o paladar médio brasileiro...
Havia por lá, sempre no balcão, bolinhos de frango marroquino que pareciam Falafel mas, segundo o próprio Sr. Morad, eram na verdade, sabe o que?
Coxinhas de galinha, só que com um sabor mais étnico.
Com grão de bico misturado à massa e vários tipos de pimenta perfumando o recheio de frango desfiado.
Com grão de bico misturado à massa e vários tipos de pimenta perfumando o recheio de frango desfiado.
Absolutamente delicioso.
Mas os carros chefe da Nássimo Morad Especialidades Árabes eram mesmo os sanduíches de pão sírio com kafta grelhada em formato de meia lua.
A kafta, sempre bem avantajada, era encaixada dentro de metade de um pão árabe tamanho grande e complementada com recheios à escolha do cliente.
Qure podiam ser: coalhada seca, babaganouche, homus, beringela em conserva ou vinagrete.
Pois bem: quase 30 anos se passaram, a Rotisserie fechou, soube que o Sr. Morad morreu, e nunca mais vi em lugar algum esse tipo de sanduíche preparado daquela maneira.
Mas um dia desses, aqui em Santos, estava eu em O Beduíno -- casa árabe tradicional da cidade, com mais de 50 anos de funcionamento --, que recentemente acrescentou ao seu cardápio cerca de 10 kebabs.
Curioso, decidi experimentar o Kebab de Kafta com Homus e Molho Taratur.
Para minha surpresa, tanto o Kafta (na grelha, não no espeto) quanto o Homus (com alho na medida certa) tinham um sabor bastante semelhante ao que era servido pelo Sr. Morad na velha loja da Fradique Coutinho, em São Paulo.
Viajei do tempo quase 30 anos em apenas algumas mordidas.
Para minha surpresa, tanto o Kafta (na grelha, não no espeto) quanto o Homus (com alho na medida certa) tinham um sabor bastante semelhante ao que era servido pelo Sr. Morad na velha loja da Fradique Coutinho, em São Paulo.
Viajei do tempo quase 30 anos em apenas algumas mordidas.
Fiquei tão impressionado com a experiência que voltei a O Beduíno no dia seguinte.
Pedi um Kebab diferente: o Falafel, com Bolinhos de Grão de Bico temperado, Pepino em Conserva, Tomate Picado e Molho Taratur.
Simplesmente saborosíssimo.
Agora já não me remetia mais a nenhum sabor do passado.
Era um original O Beduíno mesmo.
Nao resisti e voltei a O Beduíno mais uma vez dois dias atrás, na hora do almoço.
Pedi um Kebab diferente: o Falafel, com Bolinhos de Grão de Bico temperado, Pepino em Conserva, Tomate Picado e Molho Taratur.
Simplesmente saborosíssimo.
Agora já não me remetia mais a nenhum sabor do passado.
Era um original O Beduíno mesmo.
Nao resisti e voltei a O Beduíno mais uma vez dois dias atrás, na hora do almoço.
Experimentei dessa vez o Kebab de Linguiça de Cordeiro com Snoubar, Homus e Tomate Picado.
Resultado: Nirvana sem escalas.
Mal consegui trabalhar à tarde com aquele sabor intenso passeando pela minha boca a tarde toda.
Estava tão absolutamente delicioso que deu pena de escovar os dentes depois da refeição e não sentir mais os resquícios do almoço.
Ainda tenho pela frente a dura tarefa de experimentar mais sete tipos de Kebab de O Beduíno.
Não vai ser fácil, mas, como dizem lá em Brasília, alguém tem que fazer o trabalho sujo, não é mesmo?.
O BEDUÍNO
Avenida Ana Costa 466
Telefone 3289-6095
Gostaria de saber onde encontrar o zattar em Natal/RN. Não consigo comer nenhuma comida síria aqui pois o paladar é outro. Nos quibes, até o mais querido pela população potiguar, não pode ter canela, hortelão, pimenta síria, etc. A população aqui não aceita e a franquia Habib"s alterou, para cá, o que a população potiguar queria. Tem muito movimento mas eu não sou frequentadora pois, embora não tenha sanguinealidade com árabes, sempre convive com a colônia árabe em Bauru/SP. Mas quando quero fazer em minha casa, não consigo os temperos. Peço-lhes que me indiquem onde encontrar em Natal/RN. Os supermercados daqui, os quais são rede, principalmente de Rio de Janeiro e São Paulo não os têm por não ter saída. Meu e-mail é catarinacpcastro@gmail.com. Mandem-me e-mail onde encontarar?
ReplyDeleteE aquela linda moça que servia no balcão do Nassimo Morad? Onde será que anda? Acho até que era filha dele…um musa inesquecível!
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