TIRA-TEIMA
Tire a faca do peito
e o medo dos olhos
Ponha uns óculos escuros
e saia por aí. Dando bandeira
Tire o nó da garganta
que a palavra corre fácil
sem desculpas nem contornos
Direta: do diafragma ao céu da boca
Tire o trinco da porta
liberte a corrente de ar
Deixe os bons ventos levantarem a poeira
levando o cisco ao olho grande
Tire a sorte na esquina
na primeira cigana ou no velho realejo
Leia o horóscopo e olhe o céu
lembre-se das estrelas e da estrada
Tire o corpo da reta
e o cu da seringa
que malandro é você, rapaz
o lado bom da faca é o cabo
Tire a mulher mais bonita
pra dançar e dance
Dance olhando dentro dos olhos
até que ela morra de vergonha
Tire o revólver e atire
a primeira pedra
a última palavra
a praga e a sorte
a peste, ou o vírus?
Bernardo Vilhena nasceu
na cidade do Rio de Janeiro
em 10 de janeiro de 1949.
Depois de participar do coletivo
NUVEM CIGANA nos anos 70,
tornou-se o principal letrista
dos LPs iniciais de Lobão e Ritchie.
Foi sócio do lendário Bar Bukowski,
palco de muitos saraus em Botafogo.
Sua poesia está reunida no livro
"Vida Bandida e Outras Vidas",
(Azougue Editorial)
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