Saturday, November 28, 2015

RANDY NEWMAN, O MENINO MALUQUINHO DAS TRILHAS DE CINEMA, COMPLETA 72 ANOS.

por Chico Marques


Randy Newman é uma das figuras mais ímpares e mais intrigantes da cena musical americana em todos os tempos, Nascido numa família de grandes compositores e arranjadores de Hollywood, Randy sempre quis seguir caminhos musicais diferentes dos de seus tios. Passou a perseguir um conceito completamente original de compor canções pop, que fosse diferente de tudo o que já tivesse sido feito até então. E achou. Logo, suas canções passaram a ser disputadas por vários cantores e cantoras com base em Los Angeles, como Gene Pitney, Petula Clark, Dusty Springfield, Jackie DeShannon e Eric Burdon. Sua carreira solo começou para valer em 1968, quando foi contratado pela Reprise Records, dando início a uma série de discos deliciosamente estranhos, verdadeiras anomalias pop, com canções sempre narradas em primeira pessoa por personagens inusitados que ele criava. O resultado disso eram pequenas obras primas como "Political Science", "Simon Smith & The Amazing Dancing Bear", "Guilty" e "Sigmund Freud's Impersonation Of Albert Einstein in America".


Depois de passar toda a década de 1970 totalmente imerso em seus idiossincráticos projetos solo, Randy recebeu em 1991 um convite para compor a trilha sonora para "Ragtime", filme de Milos Forman, e decidiu aceitar o desafio. O resultado final foi um triunfo artístico magnífico, que rendeu logo de cara duas indicações ao Oscar, transformando-se num dos álbuns de trilha sonora mais vendidos dos Anos 80. A partir daí, Randy nunca mais parou de compor trilhas sonoras -- algumas soberbas, como as dos filmes "The Natural", de Barry Levinson, "Parenthood", de Ron Howard e "The Three Amigos", de John Landis. Com o passar do tempo, passou a se especializar em trilhas e canções para filmes de animação, descobrindo nas crianças um público perfeito para suas canções estranhas e divertidas. Tornou-se responsável primeiro pelas trilhas dos filmes de animação da Dreamworks, e depois pelas trilhas dos filmes da Pixar. Já recebeu mais de 20 indicações ao Oscar, mas ganhou apenas duas estatuetas até agora -- por conta de "Monsters Inc.", em 2011. Randy ganhou prêmios também por "It's A Jungle Out There", canção tema do seriado de TV "Monk". É um artista espetacular, e muito divertido. Sempre foi.



Em 2000, Randy virou personagem de uma peça musical do prestigiado grupo teatral  South Coast Repertory. A peça se chamava "The Miseducation Of Randy Newman", e contava sua história de vida com suas canções clássicas mescladas com canções novas escritas especialmente para o espetáculo. Que, por sua vez, ficou em cartaz por mais de um ano em Los Angeles, para depois seguir em tournée pela América. Em 2010, uma outra peça musical chamada "Harps & Angels", novamente mesclando velhas e novas canções, mas dessa vez repleta de personagens inspirados por essas canções, ficou em cartaz por vários meses no Mark Taper Forum, em Los Angeles. Falta a Broadway descobrir Randy Newman. Se bem que Randy Newman e Broadway são coisas que, aparentemente, não combinam.



Aos 72 anos de idade, Randy é um artista completo. Plenamente realizado. De tempos em tempos, lança um novo disco com sua lavra recente de canções adultas, mesmo sabendo que as vendagens nunca serão muito expressivas. Para comemorar seu aniversário, reunimos os 5 filmes que contém suas trilhas mais originais. Todos eles, claro, facilmente localizáveis nas estantes da Vídeo Paradiso.





NA ÉPOCA DO RAGTIME
(Ragtime, 1981, 155 min, direção Milos Forman)
São várias tramas paralelas, montando um fantástico painel que retrata o início do Século XX na América. A belíssima corista Evelyn Nesbit (Elizabeth McGovern) se casa com um milionário, Harry K. Thaw (Robert Joy), que ensandecido quando descobre que Stanford White (Norman Mailer), um arquiteto responsável por uma estátua nua que está exposta em local público, usou sua mulher como modelo. Desesperado de ciúmes, decide matar o arquiteto. Paralelo a isso, Tateh (Mandy Patinkin), um ex-aristocrata russo, se reinventa como diretor de cinema para tentar salvar seu casamento, e seu cunhado se envolve com a vedete Evelyn. Para completar, temos o drama contundente de um pianista de bar, Coalhouse Walker Jr., que é desrespeitado por bombeiros e por policiais no caminho do seu trabalho em New Orleans. Inconformado, tenta de todas as maneiras lutar por leis de igualdade entre as raças. Mas quando sua mulher vai pedir ajuda num comício do vice-presidente da República e morre espancada por um dos guardas, Walker decide fazer justiça com as próprias mãos. E enfrenta a ira do Chefe de Polícia racista Rhinelander Waldo (James Cagney). Um dos melhores filmes americanos do Século 20. E a trilha, magnífica, é de Randy Newman.
UM HOMEM FORA DE SÉRIE
(The Natural, 1984, 134 min, direção Barry Levinson)
No início do século XX, Roy Hobbs é uma criança que vive numa fazenda e possui um imenso talento natural para o baseball. Ele mesmo faz seu taco com a madeira de uma árvore atingida por um raio, no qual grava a inscrição "Wonderboy" ao lado do desenho do raio. Quando seu pai morre subitamente, Roy (Robert Redford) resolve air jogar baseball entre os profissionais. Despede-se da vizinha adolescente Iris Gaines (Glen Close), dizendo que voltará para buscá-la e se casarem. Mas em 1923, com dezenove anos de idade, jogando no Chicago Cubs, sua vida muda quando ele se envolve com a bela e misteriosa Harriet Bird (Kim Basinger), e acaba sendo vítima de um tiro disparado por uma ex-namorada ciumenta (Barbara Hershey) que o deixa entre a vida e a morte, incapacitado fisicamente de voltar a jogar. Então, dezesseis anos depois, em 1939, Roy reaparece misteriosamente na Primeira Divisão de Baseball, jogando no time do New York Knights. Ninguém sabe sua história e o treinador o acha muito velho para iniciar uma carreira numa equipe profissional. Aos poucos, Roy demonstra seu imenso talento para o jogo e fica próximo de realizar o seu sonho de criança: o de ser uma lenda do baseball. Claro que os problemas que o mantiveram afastado durante tantos anos acabam retornando. mas com o apoio de antiga namorada Iris, ele consegue chegar onde pretende. Baseado no belíssimo romance de estreia de Bernard Malamud, com uma trilha sonora grandiloquente e inesquecível de Randy Newman.
O TIRO QUE NÃO SAIU PELA CULATRA
(Parenthood, 1989, 124 min, direção Ron Howard)
Os Buckman formam uma família moderna, encarando o dilema de como educar os filhos no caminho certo. No meio da tempestade está Gil (Steve Martin), que luta para manter seu senso de humor único enquanto tenta conservar uma carreira de sucesso e ser um marido e pai amoroso ao mesmo tempo. Simultaneamente, Gil e o resto dos Buckman descobrem que ser uma família perfeita quase sempre quer dizer 'deixe as crianças seguirem seu caminho'. Mary Steenburgen, Rick Moranis. Tom Hulce, Jason Robards e Dianne Wiest adicionam interpretações vibrantes a esta comédia deliciosa e cativante. Um dos melhores e mais despretenciosos filmes de Ron Howard. A trilha de Randy Newman é muito delicada, e a canção "I Love To See You Smile", composta de cantada por ele, é uma pequena obra prima.
TEMPO DE DESPERTAR
(Awakenings, 1990, 121 min, direção Penny Marshall)
Bronx, 1969. Malcolm Sayer (Robin Williams) é um neurologista que conseguiu emprego em um hospital psiquiátrico. Lá ele encontra vários pacientes que aparentemente estão catatônicos, mas Sayer sente que eles estão só "adormecidos" e que se forem medicados da maneira certa poderão ser despertados. Assim pesquisa bem o assunto e chega à conclusão de que a L-DOPA, uma nova droga que já estava sendo usada para pacientes com o Mal de Parkinson, deve ser o medicamento ideal para este casos. No entanto, ao levar o assunto para o diretor, ele autoriza que apenas um paciente seja submetido ao tratamento. Imediatamente Sayer escolhe Leonard Lowe (Robert De Niro), que há décadas estava "adormecido". Gradualmente Lowe se recupera e isto encoraja Sayer em administrar L-DOPA nos outros pacientes, sob sua supervisão. Logo os pacientes mostram sinais de melhora e também mostram-se ansiosos em recuperar o tempo perdido. Mas, infelizmente, Lowe começa a apresentar estranhos e perigosos efeitos colaterais.
TRÊS AMIGOS!
(The Three Amigos, 1986, 115 minutos, direção John Landis)
Carmem (Patrice Martinez) pede ajuda a um trio de atores desempregados e descartados por Hollywood -- Lucky (Steve Martin), Dusty (Chevy Chase) e Ned (Martin Short) --, que ainda são populares no México, para ajudar o povo do vilarejo de Santo Poco a combater a um grupo de forasteiros fora da lei que pretende matar todos os homens e estuprar todas as mulheres. Os três atores, habituados a um mundo irreal, atendem ao chamado achando estarem em meio a um filme. O que acontece daí para a frente é um desafio para qualquer sinopse. Um clássico de John Landis, certamente seu filme mais cultuado, e também o que melhor resistiu ao tempo. O roteiro é de Landis com Steve Martin e o compositor da trilha sonora -- divertidíssima! -- é Randy Newman.

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