Esta passagem se deu na Iporanga, livraria em que vivi belas histórias.
O caixa da livraria ficava perto da entrada, junto da bancada de jornais. Os freqüentadores gostam de folhear os jornais, que fazem sucesso na hora de ver a programação dos cinemas, servem como um serviço simpático.
Numa oportunidade recebi a visita do maior ponta esquerda que o futebol já viu. José Macia, o Pepe, me dava boa tarde e abria uma Tribuna, o centenário periódico santista. O Canhão da Vila queria dar uma olhadinha na página de esportes, e me falou: - Se tiver o que procuro...
Do meu caixa o cumprimentei e torci para que achasse a matéria que procurava, afinal uma venda é sempre uma venda. Ficamos ali, ele passando os olhos que não podia ver, pois tinha os braços erguidos, criando uma muralha de papel.
Exatamente em frente à livraria ficava uma loja de material esportivo, a tradicional Pap´sports. Quase toda tarde se reuniam para um nervoso jogo de palitinho vários veteranos do Santos. Zito, Formiga e Pepe eram vistos sempre por lá, recepcionados pelo ex-goleiro Lalá, dono da Pap´s. O jogo era nervoso porque quem perdia pagava o café, e derrota nem no palitinho é bem aceita.
Nessa hora me lembrei de consultar o Pepe sobre um papo que ouvira, e falei: - Pepe, me disseram que você escreve umas histórias em forma de causos.
Ele ergueu os ombros e falou:
- Companheiro, escrevo desde os 15 anos, e tenho até hoje os cadernos.
Emendei:
- Nunca pensou em reunir alguns destes escritos num livro?
Canhão:
- Estou para lançar há mais de 20 anos, tinha uma editora, mas o cara sumiu...
Opa! Pensei, e fui pra cima, como um atacante:
- Posso ler os causos?
E ele:
- Passa lá em casa.
Do primeiro encontro até o lançamento se passaram mais 5 anos, em parte pelos compromissos do autor com o futebol e viagens como treinador e também porque estávamos cerimoniosos por conta da estreia como editora.
Demorou a ponto da Iporanga virar Realejo.
Em 2006 fizemos uma festa inesquecível, com o grande Pepe dando centenas de autógrafos em plena Vila Belmiro. Estreamos com o pé esquerdo. Obrigado por tudo, Pepe.
PS.: Aqui vai um agradecimento ao Carlos Julio, filho do Lalá, que numa conversa hoje na Realejo reascendeu esta lembrança.
José Luiz Tahan é livreiro e editor,
e proprietário da Realejo Livros e Edições,
a livraria e publishing house
mais charmosa de Santos
e de todo o Litoral Paulista.
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