para COLUNAS E NOTAS
Charles M. Schultz previu um triste fim para seus personagens: ele disse que estes acabariam quando ele se fosse, porque ninguém os conhecia como ele, que ele era a essência dos Peanuts. E tinha razão. Após sua morte, em 2000, ninguém seguiu desenhando seus personagens. As publicações atuais são de tirinhas clássicas, desenhadas pelo próprio Schultz (no máximo, colorizadas).
E seus herdeiros sempre relutaram em transportar suas histórias para outras mídias, até que seu filho Craig e seu neto Brian resolveram desenvolver o roteiro que resultou neste “The Peanuts Movie”.
E não espere nada além do que sempre foi o forte das tirinhas de Schultz: contundentes observações sobre o amor, a amizade e a vida, nas experiências do deslocado Charlie Brown (alterego assumido do autor) e sua turma de amigos (também baseados em vários de seus parentes).
A trama, simplérrima: perto das festas de fim de ano, uma nova aluna chega à escola, tornando-se imediatamente alvo de avassaladora paixão por parte de Charlie Brown que, é claro, tem certeza de que não está à altura de sua atenção. Num plot paralelo, Snoopy – o irreverente beagle de Charlie Brown – e seu parceiro Woodstock (um passarinho amarelo) enfrentam o ás da I Guerra Mundial, Barão Vermelho, pelas atenções da poodle francesa Fifi. Seu veículo, é claro, é sua casinha de cachorro, que “voa” pelos céus de Paris.
E é isso! E basta. O processo de animação por computador valoriza o traço simples de Schultz, acrescentando profundidade e volume aos personagens, com um detalhe muito interessante: muitas das expressões faciais destes, clássicas para quem conhece a obra, são mantidas em desenhos 2D sobre o fundo 3D, criando um ruído muito interessante que elimina a “pasteurização” do resultado.
E a dublagem original é toda feita por ilustres desconhecidos do grande público, o que valoriza o texto e a apreciação do desenho, evitando que as pessoas “enxerguem” o dublador sobre o personagem. A única exceção é a presença de Kristin Chenoweth, uma das divas da Broadway (a eterna Glinda, de “Wicked”), dublando uma das personagens que não “fala” exatamente: a poodle Fifi. Ah sim: as vozes dos adultos são feitas todas por “Trombone Shorty”, indistintas e perfeitas.
Resumindo: a vida é dura, Charlie Brown. Mas fica melhor com seus amigos por perto. Simples assim. Não perca!
por Roberto Bueno
para OBSERVATÓRIO DO CINEMA
Quando em 2 de outubro de 1950 o cartunista norte-americano Charles M. Schulz lançou uma tirinha em quadrinhos denominada Peanuts, inicialmente em sete jornais dos Estados Unidos, não deve ter imaginado que ela acabaria se tornando a mais influente tirinha em quadrinhos do mundo todo e uma das mais duradouras. No auge do seu sucesso, Peanuts era impressa por 2600 publicações de 75 países, traduzida para 21 línguas e lida por aproximadamente 355 milhões de pessoas.
Porém, a tirinha deixou de ser publicada definitivamente em 13 de fevereiro de 2000. Charles acabou morrendo em 12 de fevereiro do mesmo ano. Ele já não conseguia mais desenhar, porque estava com Mal de Parkinson. Em conjunto com a família, o autor resolveu que a tirinha não deveria ser continuada por outro cartunista. Em 2012, Craig Schulz, filho de Charles; Bryan Schulz, filho de Craig e neto de Charles; e Cornelius Uliano, amigo de Bryan, apresentaram um roteiro para um longa para Ralph Millero, executivo da Fox Animation Studios. Eles também sabiam que o diretor de Horton e o Mundo Dos Quem (2008), Steve Martino, um fã de Peanuts, gostaria de dirigir uma animação baseada nos personagens criados por Charles.
Assim, o Charlie Brown, o inseparável beagle dele, Snoopy, o passarinho Woodstock, o filósofo Linus e seu cobertor azul, sua irmã, a mal-humorada Lucy, o pianista Schroeder, a esportista Patty Pimentinha e os demais personagens desta famosa tirinha acabaram deixando de ser em duas dimensões para se tornarem três dimensões em Snoopy e Charlie Brown – Peanuts: O Filme.
A história escrita por Craig, Bryan e Cornelius mostra os principais personagens da tirinha no primeiro dia de nevasca no inverno, quando eles não precisam ir à escola. Todos eles poderão sair e só brincar. Charlie Brown, então, quer fazer algo que ele tenta há tempos fazer, porém, nunca consegue e obviamente não dá certo. Afinal, ele fracassa porque é Charlie Brown. Porém, mesmo sempre fracassando, Charlie nunca desiste dos seus sonhos, por mais frustrações ele tenha no caminho. Esta ideia é a principal guia da história do longa.
Um dia, muda-se para a casa ao lado da de Charlie Brown, uma nova menina. Esta é a oportunidade para que Charlie pudesse demonstrar que ele não é tão fracassado assim. Ao mesmo tempo, Snoopy, o ás da aviação, terá que enfrentar o seu principal inimigo nos ares, Barão Vermelho. Mas Snoopy não deixará de estar ao lado do seu dono nas diferentes empreitadas nas quais Charlie irá se meter para fazer com que a nova garota o perceba.
O roteiro de Snoopy e Charlie Brown – Peanuts: O Filme foi maravilhosamente escrito, porque o trabalho realizado por Craig, Bryan e Cornelius não fugiu do espírito das tirinhas. A aguçada observação da realidade feita por Charles está integralmente presente nesta animação. Eles parecem não terem alterado em nada a personalidade de cada um dos integrantes da turma do Charlie Brown. Percebe-se o trabalho minucioso de estudo das 17.897 tirinhas produzidas e publicadas pelo cartunista. Porém, nem tudo é perfeito.
Um ponto negativo neste trabalho é que o filme parece ser para quem já conhece os personagens que formam a turma. O inicio do filme tem um ritmo rápido demais e os espectadores que não conhecerem os personagens além do Charlie Brown e o Snoopy só irão entender os demais personagens ao longo da primeira parte do filme. Mas o diretor norte-americano Steve Martino foi muito minucioso no seu trabalho. Snoopy e Charlie Brown – Peanuts: O Filme tem um ritmo bom. A sensação de aventura fica presente o tempo todo. A edição realizada por Randy Trager (Rio 2) consegue manter essa sensação. Steve manteve o ritmo forte quase o tempo inteiro, só o diminuindo em uma parte da história que faz sentido fazer isto.
A produção de arte, os efeitos visuais e a animação estão excelentes. No aspecto da criação física dos personagens, por exemplo, um que deve ter sido dos mais trabalhosos de se fazer, Snoopy, está fantástico: o nariz e os pelos que têm texturas semelhantes aos de cachorros de verdade, mas ao mesmo tempo mantêm a ideia de quadrinho é sensacional de se ver.
Outros exemplos do cuidado com a produção são as roupas usadas pelos personagens. As roupas, principalmente os casacos, parecem de verdade, assim como os pelos do Snoopy também, tudo isso sem perderem a sensação de ser um desenho. Os cenários de perseguição do Snoopy e Barão Vermelho são deslumbrantes e mantendo a ideia geral combinam, na dose certa, imitação do real com desenho. E os detalhes bem feitos? Potes de vidro, a neve, o gelo, a grama, copinhos de plástico, tudo como se fossem reais. O equilíbrio entre o que era “real” e desenho está muito bom. A trilha sonora composta por Christophe Beck (Homem-Formiga) o transporta suavemente também para dentro da história e a embala de forma a dar uma aparência de um clássico.
Snoopy e Charlie Brown – Peanuts: O Filme, pelos personagens icônicos, pela ideia de que mesmo sendo um perdedor não se deve jamais desistir, pela ideia de amizade e pelo clima onírico trazido pelo Snoopy é uma animação que você não deve deixar de assistir.
SNOOPY E CHARLIE BROWN - PEANUTS, O FILME
(The Peanuts Movie, 2015, 93 minutos)
Direção
Steve Martino
Com as vozes de:
Trombone Shorty
Rebecca Bloom
Anastasia Bredikhina
Francesca Capaldi
Kristin Chenoweth
Alexander Garfin
Noah Johnston
Bill Melendez
Hadley Belle Miller
Noah Schnapp
Venus Schultheis
Mariel Sheets
Madisyn Shipman
A.J. Tecce
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