Monday, May 9, 2016

POEMINHA DE SEGUNDA: AQUI E AGORA (por Peter Balakian, Prêmio Pulitzer de Poesia 2016)



AQUI E AGORA


O dia chega em faixas de vidro amarelo por cima das árvores.
Quando eu digo a você que o dia é um poema
Estou falando só com você, e só o céu está escutando.
O céu está ouvindo; o céu é tão esperançoso
quanto eu ao caminhar pelas sementes de romã
que chicoteiam a muralha do mar.
Se você quiser que esse poema aceite tudo,
ande até uma olmeira,
depois siga para além da muralha do mar
Não estou muito distante de um quarto onde
Van Gogh foi paciente -- sua cabeça num travesseiro
ouvindo a muralha do mar batendo de quilha
ouvindo as folhas defeituosas
desnudarem o sarcófago. Aqui e agora
o ar tépido beija minha mandíbula
e pombos que assombram o azul me amam
por um segundo, antes que o vento
quebre os galhos, sarjeteando-os para o rio.
Que perguntas posso fazer a você?
Como o céu vai responder ao vento?
O amanhecer não parte corações.
O mundo não é repleto de amor.

(tradução: Chico Marques)



HERE AND NOW

The day comes in strips of yellow glass over trees.
When I tell you the day is a poem
I’m only talking to you and only the sky is listening.
The sky is listening; the sky is as hopeful
as I am walking into the pomegranate seeds
of the wind that whips up the seawall.
If you want the poem to take on everything,
walk into a hackberry tree,
then walk out beyond the seawall.
I’m not far from a room where Van Gogh
was a patient — his head on a pillow hearing
the mistral careen off the seawall,
hearing the fauvist leaves pelt
the sarcophagi. Here and now
the air of the tepidarium kissed my jaw
and pigeons ghosting in the blue loved me
for a second, before the wind
broke branches and guttered into the river.
What questions can I ask you?
How will the sky answer the wind?
The dawn isn’t heartbreaking.
The world isn’t full of love.



Peter Balakian nasceu em Teaneck, New Jersey.
Leciona na Colgate University, New York,
onde é diretor de Escrita Criativa desde 1980.
Entre seus trabalhos estão as coleções de poemas:
Father Fisheye (1979)
Sad Days of Light (1983)
Reply From Wilderness Island (1988)
Dyer’s Thistle (1996)
e June-tree: New and Selected Poems 1974-2000
Sua obra mais recente, Ozone Journal (2015),
é um longo poema em 55 partes
onde através de imagens contundentes
e de uma maestria poética impressionante,
evoca a vida urbana em toda a sua complexidade,
e acaba de receber, merecidamente,
o Pulitzer de Melhor Livro de Poesia de 2015.
Curiosamente, Peter Balakian é mais conhecido
por seus livros históricos e de não-ficção
e seu tema mais constante é o Genocídio Armênio.
The Burning Tigris (2004), por exemplo,
chegou a emplacar nas listas de best-sellers
e suas memórias Black Dog Of Fate (2008)
tiveram uma boa acolhida pelo mundo afora.
A obra de Peter Balakian permanece inédita no Brasil.  



No comments:

Post a Comment