O otimismo da economia nos anos de governo Lula levaram a uma expansão das mega livrarias e do mercado editorial, este inflado com as vendas de livros para o governo. Com a recessão que veio com o governo Dilma, aquela bolha de otimismo explodiu e hoje o que se vê é esse mercado diminuído, pois o governo federal e os governos estaduais pararam de comprar livros para distribuir nas escolas. Tão cedo esse setor não verá melhoras, pelo que se sabe da economia e pelo rolo em que a política está. O modelo das mega livrarias deve persistir, passada a recessão. No entanto a sociedade está mudando e exigindo e criando novas formas de sociabilidade. Nesse setor, as pequenas livrarias devem reaparecer, combinando venda de livros com cervejas artesanais e cafés especiais e pequenos eventos como lançamentos de livros, palestras e leituras por autores, atendendo à necessidade de criação de espaços de sociabilidade que os shoppings não são capazes, uma vez que muito centrados no consumo e no controle com uma impessoalidade terrível. A alta oferta de títulos também deve levar a uma especialização dessas pequenas livrarias, criando nichos, como as já existentes especializadas em livros de religião. Ainda que possam ter os mais vendidos, poderão surgir livrarias dedicadas à culinária, em combinação com a onda gourmet, esportes, animais, autoajuda... e bebidinhas e comidinhas, criando espaços agradáveis. Quanto às grandes editoras que alimentam esse sistema, baseadas apenas em livros de alta vendagem, serão torpedeadas pelas pequenas editoras que estão sendo criadas, graças às facilidades permitidas pela internet e programas de computador que têm simplificado as atividades e quebrado o monopólio, atendendo a uma demanda crescente que as grandes não dão conta. Em geral essas pequenas editoras que têm surgido focam na demanda crescente de pessoas querendo publicar seu primeiro livro e experimentar a fantasia de ser escritor e o fazem com as pequenas tiragens conseguidas pelas gráficas que atualizaram suas máquinas e imprimem por demanda. A Patuá, de Eduardo Lacerda, tem sido um ótimo modelo, com 350 títulos publicados em poucos anos, agora incrementado com a criação de uma livraria-bar, onde os autores e leitores se encontram para vários lançamentos semanais. Várias editoras como essas se espalham pelo país e um fato recente é que têm aparecido outras investindo em qualidade de conteúdo, publicando traduções e ensaios, como a Luna Parque, de São Paulo, e a Armazém, de Florianópolis, que continua o trabalho iniciado pela editora Cultura & Barbárie. Aquela qualidade estilizada dos livros da semi-finada Cosacnaif está sendo explorada pela editora Carambaia, que publicou apenas quatorze títulos, porém todos de altíssima qualidade, destacando-se entre eles uma caixa com três livros de João do Rio e uma edição de textos de Proust publicados em jornal. Outra característica dessas pequenas editoras é que trabalham com venda direta ao consumidor, sem depender de livrarias, tendo, para isso, um site eficiente com todas as informações dos livros e sistema de pagamento on line, sinalizando que esse é um caminho sem volta permitido pela independência da internet. O problema todo, hoje, é que esse sistema de cultura esbarra num muro intransponível que o governo tem demorado a superar, talvez porque interessa ao sistema econômico a condição de ignorância e escravização dos brasileiros. Esse muro é o fato de que o Brasil é um país em que 75% da população são de analfabetos funcionais e o restante alfabetizado pouco lê. Uma pesquisa feita pelos livreiros e que será lançada na Bienal do Livro proximamente, indica que apenas metade da população lê. Trata-se de uma pesquisa inflada pelo fato de que esse número de 50% é em grande parte alcançado por leitores da bíblia e não de livros de literatura e cultura geral. Por isso, ainda que a sociedade esteja alterando suas formas de convívio, provavelmente nascidas pelas constantes manifestações que exigem muita conversa e espaço e o sistema cultural também passe por transformações positivas multiplicando a atividade, sem superar esse muro de ignorância investindo em educação o país não vai mudar e a tão combatida corrupção continuará endêmica e eterna.
Ademir Demarchi é santista de Maringá, no Paraná,
onde nasceu em 7 de Abril de 1960.
Além de poeta, cronista e tradutor,
é editor da prestigiada revista BABEL.
Possui diversos livros publicados.
Seus poemas estão reunidos em "Pirão de Sereia"
e suas crônicas em "Siri Na Lata",
ambos publicados pela Realejo Edições.
Suas crônicas, que saem semanalmente
no Diário do Norte do Paraná, de Maringá,
passam a ser publicadas todas as quintas
aqui em Leva Um Casaquinho
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