Friday, June 10, 2016

CAFÉ E BOM DIA #27 (por Carlos Eduardo Brizolinha)



Não, não tenho os mais de 45 livros de Charles Bukowski publicados em vida e após a morte, nem lá perto, mas tenho uma boa e essencial colecção da sua obra há muitos anos na minha estante. Bukowski faleceu em San Pedro, Califórnia, em 1994, aos 73 anos de idade. Para a quantia de cigarros e charutos que fumou enquanto bebia litros de cerveja, vinho e outras substâncias celestiais mas mortais, nada mal. Ou então tudo não passou de uma pose bem urdida ao longo da vida, deixou as mais atrevidas, corajosas e indecentes páginas na literatura norte-americana de todos os tempos, nem Hunter S. Thompson se tornou a sua sombra na literatura da maldição, e Henry Miller parecerá um menino de escola dominical ao seu lado. Escreveu ao mesmo tempo dos Beat, a que alguns críticos ainda tentam associa-lo, mas ele só derramou desprezo sobre esses que ele chamava de oportunistas, os que desfrutaram do recém-descoberto amor que a Academia esquerdizada passou a dedicar a todo e qualquer rebelde intelectual a partir dos anos sessenta. Bukowski levou ao extremo na sua vida pessoal e de escritor nada mais, nada menos do que a Pregação Americana do Individualismo: que a sociedade me deixe em paz, não se preocupe comigo, que eu sobrevirei como quiser e entender.




A frenologia, teoria que estuda o caráter e as funções intelectuais humanas, através das conformações cranianas; era para o poeta uma fonte de enigma e inspiração pelas estranhas e exuberantes palavras: amatividade, maravilhamento, filoprogenitura, veneração, secretividade, aprovabilidade, idealidade e suavidade. Termos extraídos do resultado do exame do poeta. Ele considerava que todas as coisas são objeto da poesia, inclusive ‘as receitas, os sermões e as piadas’. Por que não essa fonte intrigante de novos termos frenológicos ? Consta, que a crítica literária americana cita Walt Whitman como um precursor do que se tornou mais tarde uma tendência, trazer à poesia o não-poético. Não porque Whitman estivesse interessado em afirmar uma transcendência, ou filosofia em sua poesia, ou ainda transformá-la em metafísica, mas porque os poemas eram feitos com o mesmo tecido de realidade que ele dividia, como homem comum, com todos os outros homens. As reflexões whitmanimanas em torno do comum, levou-o a valorizar o amor como bem supremo espiritual, independente de sexo, capaz de amar indistintamente. Ao espírito, preso à carne restaria, paradoxalmente, ansiar por ela. A solução encontrada pelo poeta diante desse dilema, assumindo a ambos como matéria e energia de sua poesia, é o amor. Amor sim, ainda o amor, porém indistinto e superior, ainda que lascivo. Sob a pena sublime do amor nasceria o poeta.

POUCAS VEZES TIVE OPORTUNIDADE DE OUVIR ALGUÉM QUE TIVESSE DOMÍNIO DE WALT. PASSEI UMA TARDE COMO OUVINTE A BASE DE CAFÉ E COM CAFÉ ABRA A JANELA PARA SEXTA ENTRAR. BOM DIA


Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada na Rua Bahia sem número,
quase esquina com Mal. Deodoro,
ao lado do EMPÓRIO SAÚDE HOMEOFÓRMULA,
onde bebe vários cafés orgânicos por dia,
e da loja de equipamentos de áudio ORLANDO,
do amigo Orlando Valência.


No comments:

Post a Comment