Já dizia a música que “(...) o novo sempre vem! (...)”. A questão, às vezes, não é perceber que você ficou velho e, em breve, será substituído: o ponto seria tentar entender qual é a graça do negócio.
Calça ‘boca-de-sino’, a turma do ‘iê-iê-iê’, discoteca, Sônia Braga, Santos de Pelé, cubismo, costeletas, ‘surf wear’, rock’n’roll, simbolismo, romance de cavalaria, poesia concreta, funk carioca, biquini asa-delta... passando a lupa em tempos idos, cada geração trouxe alguma geringonça que ora sumiu, ora veio para ficar.
Achar que isso não acontecerá conosco, nós, que passamos a frequentar o geriatra e ganhamos o novo status social de vovô(ó), são outros 500.
O novo sempre vem...
Essa envelhecida Mercearia foi relatada de um comunicado recebido pela sede da Nintendo, responsável pelo ressurgimento da ‘trepidação do momento’, o Pokémon Go: “Parabéns!”, dizia a mensagem. Nela, em anexo, um relatório do Google Analytics, instrumento que fornece às empresas os resultados de perfil de usuários que utilizam sites de busca: pela primeira vez na história da internet, o termo “Pokémon Go” estava na frente da palavra “porn” (‘pornô’, em língua inglesa).
O que força essa Mercearia a vaticinar: esqueçam essa coisa enfadonha de sexo! A reprodução humana ocorrerá em ambientes virtuais.
A japonesa Nintendo teve a manha: resgatou um desenho animado falido, cuja falência, inclusive, se deve à semelhança da quantidade de personagens com qualquer serviço público federal no que tange a cargos comissionados.
Assim como na política, onde postos comissionados parecem os Gremlins, ou seja, não podem ver água que se multiplicam aos borbotões, o problema do Pokémon (que, num primeiro momento, parece uma corruptela de “Pocket Monster”, ou ‘monstro de bolso’ no idioma nacional) era a quantidade de gerações que o desenho produzia.
Parece-nos que o famigerado Pikachu era a primeira geração de monstrinhos. Depois dele, há mais duas gerações, por baixo (salvo estejamos redondamente enganados!). Há um bichinho que põe fogo pelo rabo... o próprio Pikachu tem um ‘rabo elétrico’. Essa vocação que os japoneses têm de transformar um quase culto religioso numa suruba franciscana chega a ser inominável.
Bom... chegou uma hora que para assistir ao desenho, o(a) sujeito(a) precisava da companhia de um mapa de personagens. Essa mistura de mangá com “Cem Anos de Solidão”, de García Marques, podia ser literário pacas, mas muito pouco funcional em termos de comercialização do empreendimento imagético.
Até que...
... veio a Nintendo e avacalhou o cangaço. Utilizando o princípio de ‘realidade aumentada’ (que usa cenários já existentes para nelas aplicar situações e seres criados artificialmente), a famosa empresa de ‘games’ ressuscitou o cadáver. O resto da história vocês já conhecem.
Há aula de matemática para chocar ovos de pokémon viralizando na web. Numa caminhada pela madrugada silenciosa em “Enguaguaçu: a ilha que encolhe”, a fonte 9 de Julho (conhecida também como Praça das Bandeiras) tinha mais gente empenhada em tarefas de captura do que qualquer plantão médico! Às três de la mañana...
Corre-se à boca-pequena de que o Sesc local já teria autorizado à empresa de segurança a utilização de chicotes para conter os(as) mais assanhadinhos(as) que insistem em capturar os monstrinhos nos setores administrativos do prédio.
Enfim, um furdúncio...
Para não ficarmos em grande desvantagem, essa Mercearia foi apresentada a tal efeméride no portão principal do Urbano Caldeira. Um colega de empreitada, que inclusive é jornalista profissionalmente, associou o Dia dos Pais com a necessidade de levantar algum ‘cascalho’ (o feijão ‘tá’ caro pacas, minha gente!) e mostrou como funciona a ‘bagaceira transgênica’ antes da abertura dos portões (sim, caçava pokémons para os filhos!).
Os ‘bichinhos’ estão espalhados pela cidade inteira. O troço é uma mistura de Google Maps com monstrinhos a espreita. O(A) jogador(a) vai até o local e atira virtualmente uma bolinha por três vezes seguidas (operação que pode ser repetida se o monstro escapar). Uma vez capturados os tais personagens, essa ignorante Mercearia desconhece o que se pode fazer com eles.
O ‘trem’ até possui alguma graça, mas não para tanto. Passar a madrugada na rua até seria compreensível nos casos de agrura da existência, ou caçando ‘emoções fortes’ para abrandar a miséria do que se é. Agora, para caçar ‘bichos virtuais’... estranho. Enfim, cada qual com seu encanto.
Os relatos vindos de outros países costumam ser trágicos: atropelamentos, acidentes automobilísticos graves em grandes rodovias, invasões. Recentemente foi publicado o caso de um casal nos EUA preso por invasão de propriedade: o tal pokémon estava numa concessionária de veículos fechada por ser fim-de-semana.
Semana passada, soube de um sujeito que, por causa do jogo, não entrou no ‘espírito olímpico’ de praticar com sua consorte a mais fina arte do badminton (badminton, para os desavisados, é aquele jogo onde o participante dá aquela ‘raquetada na peteca’).
‘Id est’, o cidadão se esfalfando na captura do Pikachu e o pokémon da patroa passando em brancas nuvens...
Vejam o lado bom da coisa: um excelente anti-concepcional (ombro-a-ombro com o preço do leite ninho). Como diria o locutor Milton Leite: “Que beleza!”.
Em tempo: não são todos os jovens (ou adultos) que aderiram à febre. Aliás, a quantidade de críticas que o jogo recebe derrubaria qualquer prefeito, governador ou presidente. A antipatia pelo ‘game’ também é grande.
Ficamos, assim, na torcida de que o tal jogo seja alguma calça ‘boca-de-sino’: que já existiu tempos atrás, mas que ninguém teria hoje a coragem de praticá-la.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
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