“A NONA VIDA DE LOUIS DRAX”: O SAMBA DO ROTEIRISTA DOIDO
por Carlos Cirne para Colunas & Notas
Louis Drax (Aiden Longworth) não é um menino comum. Ele é uma criança “propensa a acidentes”. Segundo sua própria mãe, Natalie (Sarah Gadon, de “Drácula: A História Nunca Contada”), se ele fosse um gato, já estaria gastando sua nona vida. E desta vez, sofreu mais um acidente, bastante grave.
Louis é encontrado na base de um despenhadeiro, sua mãe é encontrada vagando, em choque, e seu pai, Peter (Aaron Paul, da série “Breaking Bad”), desapareceu. Não se sabe bem o que aconteceu, pois a família estava comemorando o nono aniversário do menino.
Louis é levado desacordado para o hospital e, chegando lá, dado como morto. Duas horas depois, ele desperta de um severo caso de hipotermia, e entra em coma profundo. A partir de então, fica numa unidade de acompanhamento de pacientes comatosos, sob os cuidados do Dr. Allan Pascal (Jamie Dornan, o Mr. Grey de “50 Tons de Cinza” e da espetacular série “The Fall”), que talvez seja o médico mais antiético da face da terra.
Explico: além de se envolver pessoalmente, além dos limites, com Louis, seu paciente, ainda se enreda romanticamente com a mãe dele, cujo marido está desaparecido e é o principal suspeito do acidente de Louis, seu filho que está em coma! E, o pior de tudo: eles formam o casal mais sem graça do cinema nos últimos anos; química zero. E tudo isso, que parece um grande spoiler, não é nem metade das reviravoltas que o filme dá.
Dramaturgicamente, o roteiro de “A Nona Vida de Louis Drax” é um verdadeiro queijo suíço, dada a quantidade de buracos que apresenta. Além de não se definir entre um romance, um suspense, uma fantasia, um thriller policial ou um filme sobrenatural – porque atira em todas estas direções – ainda coloca em cena algumas das mais inapropriadas cenas hospitalares que se tem notícia, dignas de um “General Hospital” (novela vespertina norte-americana, que já dura mais de 50 anos), com direito a cena de sexo, inclusive. Sem falar no “samba do roteirista doido” que é a solução encontrada para desenredar a trama, no terço final do filme.
Tudo isso e mais personagens bizarros, incluídos aleatoriamente, confusas idas e vindas no tempo, acabam por colocar por terra um filme que poderia até ser interessante (como o trailer sugere), mas que se perde no roteiro absurdo de Max Minghella (estreia do filho do saudoso Anthony Minghella, diretor de “O Paciente Inglês”, 1996; “O Talentoso Ripley”, 1999; e “Cold Mountain”, 2003), na direção frouxa do francês Alexandre Aja, e desperdiça bons atores como Oliver Platt (o Dr. Perez, analista de Louis), Barbara Hershey ( a avó de Louis, Violet) e o próprio Aiden Longworth, o Louis Drax, bom ator mas sem muita chance aqui. A conferir.
A NONA VIDA DE LOUIS DRAX
(The 9th Life of Louis Drax, 2016, 108 minutos)
Direção
Alexandre Aja
Elenco
Jamie Dornan
Aiden Longworth
Sarah Gadon
Aaron Paul
Oliver Platt
Barbara Hershey
em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping
"ROMANCE À FRANCESA": UM POÇO DE CONSIDERAÇÃO
por Carlos Cirne para Colunas & Notas
Clément (Emmanuel Mouret, também roteirista e diretor do filme) é um poço de consideração. Além de professor dedicado de pequenas crianças, é um bom pai e mantém uma sincera amizade com a ex-esposa, que o abandonou por seu melhor amigo. Sua única “extravagância” é não perder nenhuma peça ou filme da famosa atriz Alicia Bardery (a bela Virginie Efira, da comédia “Um Amor à Altura”, 2016), que ele considera a “mulher perfeita”.
Por uma armação do destino (e de um duvidoso roteiro), Alicia precisa de um professor para ser tutor de seu sobrinho, e Thomas (Laurent Stocker), diretor no colégio onde Clément dá aulas (além de seu amigo pessoal), o indica para a posição. E, é claro, Alicia acaba se enamorando de Clément. Apaixonados, vão morar juntos. Fim do filme? Não é nem o começo.
Só que no segundo ato, praticamente todos os personagens parecem dar uma guinada de 180° em suas atitudes. Menos Clément. Ele continua bom, considerado e, digamos, um banana. Porque nesta parte entra em cena a aspirante a atriz Caprice (Anaïs Demoustier, beirando a insuportável), que se interessa por Clément, e faz de tudo para se instalar em sua vida, mesmo sabendo de sua relação com Alicia. Sem pudicícia ou resquício de culpa, chega a ser desagradável de se observar a insistência com que Caprice se insinua para Clément, até declarar que não se importa em ser sua amante. Desapego, independência ou baixa autoestima? Ou extrema misoginia do roteirista?
Mas, o pior de tudo são as relações entre Clément e os outros a seu redor, assim como de Alicia e do próprio Thomas entre eles. Parece que a paixão está no ar constantemente, e é acionada por um interruptor de muito fácil acesso.
Pior ainda é o desfecho, que contrapõe tudo o que se pregou até então na história, investindo num otimismo descabido em personagens tão cosmopolitas ou resolvidos como estes. Sem falar numa incômoda narração em off (santa praga!), que tenta explicar o inexplicável.
O diretor/roteirista Emmanuel Mouret deve ser grande fã de Woody Allen – repare na fotografia ensolarada e na trilha sonora jazzística, além dos diálogos ágeis e jocosos –, principalmente de sua fase de comédias mais leves, mas certamente Allen teria revisto este roteiro, ou então o radicalizaria definitivamente. Neste meio-termo, dificilmente. De qualquer forma, experimente.
ROMANCE À FRANCESA
(Caprice, 2015, 100 minutos)
Direção
Emmanuel Mouret
Elenco
Virginie Efira
Anaïs Demoustier
Laurent Stocker
Emmanuel Mouret
Thomas Blanchard
Mathilde Warnier
em cartaz no Cinespaço Miramar Shopping
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