Thursday, November 17, 2016

E AÍ? E AÍ... NADA! (uma crônica de Marcelo Rayel Coirreggiari)



Numa mercearia que duvida claramente de seu poder de venda, convencimento, entre ‘outras bossas’, há de se dizer que um bom ‘Secos & Molhados’ é, acima de tudo, a antítese de uma corporação.

Numa ‘bodega’ como essa, Praiana, pode-se negociar ‘fiado’, beber uma belíssima aguardente, falar de futebol, da vida alheia (pouco aconselhável!), de política (pouquíssimo aconselhável!), entre tantos outros temas. Tente fazer isso no Extra mais perto de sua casa.

E talvez não haja país que melhor acolheu, e melhor representa o espaço de ação das corporações, do que os Estados Unidos da América.

Uma cultura que se apoderou do mundo: é curioso ver determinadas manifestações contra às corporações, suas ações nocivas e quase degradantes, vindas de segmentos, grupos e pessoas que compram combustível, andam de avião e escovam os dentes.

A corporação está em lugares que nem se imagina. Chegou para ficar! É interessante ver algum discurso progressista contra as corporações partir de alguém usando óculos, por exemplo. Mal sabe ele(a) que as lentes na armação são fabricadas por conglomerados gigantescos, suíços, alemães, japoneses... internacionais.

O linguísta Noam Chomsky, grande nome da esquerda estadunidense, não é tão radical quando esse assunto aflora: segundo o professor-doutor do MIT, a corporação está em tudo que nos cerca. Para ele, já não se é possível pensar em ‘vida’ sem a presença das corporações. Precisaríamos de uma mudança extrema de ‘estilo-de-vida’ para, quem sabe, jogarmos pedra no telhado de vidro dos grandes conglomerados.

Uma cultura estadunidense que, com a força do dinheiro, tomou conta de cada canto do mundo. O famoso ‘quanto mais tem, mais quer’. Como grana é ‘bom’, e ninguém dispensa, ficar sem aquele Hyundai na garagem, maneiríssimo, podendo curtir a vida para lá e para cá, nem pensar...!


A eleição do Donald Trump como novo presidente dos EUA desagradou mais de meio mundo. O(A) eleitor(a) daquele país dificilmente segura por mais de dois, três mandatos, alguém do mesmo partido. A alternância lá é fato, e não um discurso ‘bacanudo’ para se fazer em estações de TV ou em mesas de bar.

“Trump, presidente”, expõe uma mazela do mundo: não há mais renovação política em boa parte dos partidos. O Republicano veio com tranqueira, o Democrata com o ‘mais da mesma coisa’. O que há de se dizer dos anciões desses grupamentos?! Atracam-se a um ‘status’ que já não mais existe e, por conta de uma vaidade desmesurada, engavetam ‘o novo’. A resposta anda vindo pelo voto.

As eleições de João Dória, Maurício Macri e, agora, de Donald Trump, mostram claramente que as populações andam muito insatisfeitas com a porra do ‘político-de-carreira’, sujeitos(as) dotados(as) de uma escrotidão ímpar em se fazer eternos bezerros imprestáveis que, como não sabem fazer mais nada de relevo, mamam nas tetas até transformar a ‘vaca-do-Estado’ numa terra arrasada. Já deu, né?!

O(A) homem/mulher ‘de vida pública’ está apartado(a) da vida real, dessa que a gente tem de enfrentar todo santo dia, e as agruras apenas servem de ‘oportunidade’ para uma abordagem messiânica de que somente ele(a) é capaz de curar todos os males.

Esse sebastianismo de quinta cansa. Quando menos se espera... olha aí, o Trump!

Há apostas de um administrador das contas públicas oriundo da administração dos negócios. Um grito surdo: os eleitores querem ser vistos também como contribuintes. Não dá para deixar dinheiro na mão de gente aloprada, maluca. Quem sabe os homens-de-negócio não tratam os recursos financeiros de forma mais apropriada?

#sqn...! Segundo Milton Friedman, o ser humano (vale, aqui, uma belíssima letra minúscula!) costuma gastar muito mal qualquer qualquer dinheiro cujo protagonismo do ganho não foi resultado do suor do próprio rosto. Dinheiro de imposto não exige do administrador público um grande esforço e sacrifício para conquistá-lo: todo mês, ‘tá’ na conta.

A eleição de ‘homens-de-negócios’ para administrar contas públicas é uma tentativa, mas, segundo Friedman, tende a apresentar o mesmo resultado de sempre. Não nos iludamos: pode, até, dar certo. Contudo, se a natureza do “çer umano” pintar na área, dá na mesma!

O(A) eleitor(a) faz o seu. Nessa altura do campeonato, fé, pedidos de misericórdia para uma belíssima intervenção divina estão valendo.

Enquanto isso, muita manifestação de desagrado quanto à eleição de Trump, demandas para uma ‘puxada-de-tapete’ de última hora (posto que a eleição nos EUA é indireta) e grandes motivações para gestos violentos de racismo de ambas as partes.

É quando os Estados Unidos são mais um (e somente!) país americano. ‘The paradise is Canadian’.

Trump foi eleito. E aí?! E aí... nada! Treino é treino, jogo é jogo. Linha dura?! Costuma ser ruim para os negócios. Em momentos quando o focinho bate frontal contra o muro de concreto, a cabeça começa a ficar cheia de ideias, e o que era ‘hardcore’ vira ‘easy listening’ (que segundo o roqueiro Lobão “(...) é uma merda!”).


Uma fortíssima tendência ao ‘mais da mesma coisa’, nada muito diferente do ‘script’ de Bush pai, Bush filho, Reagan e seu cavalo, pepinos para resolver com aquelas mesmas soluções de sempre. Há certa escrotidão no futuro presidente?! Até há, mas na hora de lidar com o mundo real, perceberemos que a performance até agora foi uma tremenda... performance


Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É avesso a hermetismos
e herméticos em geral,
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO





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