Depois que Leonard Cohen se foi, Clint Eastwood foi elevado à categoria de meu octogenário favorito. É impressionante como ele consegue se manter ativo, com uma capacidade de produção só comparável a Woody Allen.
Além de prolífico, Clint também se arrisca bastante, para alguém que pode facilmente escolher seus projetos. Nos últimos anos dirigiu alguns filmes bem diversos de sua tradicional filmografia, especialmente o musical Jersey Boys, de 2014.
Em Sully ele retorna ao tema mais recorrente de sua obra, alguém que dedicou a sua vida a algo e é visto com desconfiança pelo establiishment, principalmente por ter envelhecido. Só pra citar alguns dos filmes mais recente, vímos isso em Os Imperdoáveis, Cowboys do Espaço, Menina de Ouro e Gran Torino. Em todos esses filmes é fácil perceber o desconforto dos mais experientes com os novos tempos, sejam eles quais forem.
O filme conta a famosa história do milagre do rio Hudson, onde um avião perde as duas turbinas logo após a decolagem e o piloto resolve fazer uma aterrisagem forçada no rio Hudson, em Nova York.
A principal dificuldade em fazer um filme sobre uma história verídica, amplamente divulgada, é que quase todo mundo já sabe o final. Não pode ser considerado spoiler dizer que todos os passageiros se salvaram na arriscadíssima manobra. Como manter o interesse da plateia?
Mais uma vez, Clint se sai muito bem. Dessa vez mudando um pouco o foco. Saímos um pouco do acidente e nos concentramos na investigação deste, que, ao menos para mim, não era conhecida. Nem sabia que houve uma investigação tão rigorosa sobre o caso, obviamente por não conhecer os rígidos procedimentos da aviação comercial e me atentar somente para o suposto heroísmo do piloto, como a maioria do grande publico.
O componente desconhecido que faltava é exatamente onde o diretor melhor trafega, Clint se concentra no confronto entre o piloto experiente, que tomou em pouquíssimo tempo uma decisão que colocou em risco centenas de vidas e os burocratas, que a julgam de suas salas com ar condicionado. Em momento algum Sully é mostrado como um herói. É apenas um sujeito experiente, que dedicou toda a sua vida a alguma coisa, aquele sujeito retilíneo do passado, um homem antiquado, para os dias de hoje.
No confronto com a burocracia, a tecnologia dos simuladores de voo e a pressão de todas as partes interessadas, é impossível não ter duvidas, e elas estão presentes durante todo o filme, fazendo com que o lado heroico do personagem seja justamente suporta-las com dignidade.
E quem melhor do que Tom Hanks -- ligeiramente envelhecido, para deixar claro a experiência do personagem -- para representar alguém assim? A interpretação contida e os papeis de bom moço, que já estão em nossa memória, fazem todo o trabalho. É muito fácil simpatizar com Sully. Já cruzamos com pessoas parecidas com ele alguma vez na vida. O filme também conta com ótimos coadjuvantes: Aaron Eckhart, como o co-piloto e a excelente e subvalorizada Laura Linney, entre outros.
O filme é curto, tem uma montagem ágil, mantem a atenção do começo ao fim e ainda consegue tocar com profundidade em temas caros ao diretor em meio a tudo isso.
Mais uma vez estamos diante de uma vitória de Clint Eastwood, aos 86 anos. Que carreira!
SULLY
(Sully, 2016, 96 minutos)
Direção
Clint Eastwood
Roteiro
Todd Komarnicki
Elenco
Tom Hanks
Aaron Eckhart
Laura Linney
estreia dia 1 de Dezembro
nos cinemas em todo o Brasil
Fábio Campos convive com filmes e música
desde que nasceu, 50 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.
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