Tuesday, March 21, 2017

REVENDO A PRIMEIRA TEMPORADA DE "MAD MEN", UMA OBRA PRIMA DA TV




É chover no molhado dizer que os seriados americanos, erroneamente ainda chamados no geral por alguns desinformados de enlatados, justamente por serem dos Estados Unidos, estão num momento excelente.

Há seriados para todos os gostos. É bom diferenciá-los das minisséries, com começo, meio e fim e ainda dos sitcoms, os quais exibem como os seriados, temporadas, mas diferenciam-se desses por serem sempre em cenários mais marcados e como diz o nome, apresentar elementos da comédias de costumes, do modo de vida americano, ainda que um tanto esteriotipados, salvos algumas exceções, desde os geniais Mary- Tyler- Moore até o presente e popular Two and a half men.


Geralmente, os seriados sofrem com o fantasma da audiência: um seriado medíocre pode cair nas graças do público e perdurar por cinco ou mais temporadas, enquanto outros interessantes, dependendo da política da emissora que o transmite às vezes não passa de uma primeira.



Venho falar de um veiculado pelo canal HBO, que vem se mantendo pelo enorme prestígio e qualidade, pois foge, por conta de seu ritmo mais lento, da audiência de um House ou um Prison break, por exemplo, dois grandes sucessos (merecidos) da telinha.

É o caso de Mad Men, que ganhou um subtítulo desnecessário de “Inventando Verdades”, que acaba por reduzir a proposta do seriado. Esses homens do título, loucos ou mais propriamente a meu ver, “insanos”, são o motor da sociedade do pós guerra, nos anos 60, nos Estados Unidos, em que bens de consumo estão em uma crescente mudança assim como a sociedade que os consome.


O autor do seriado, Matthew Weiner, foi também responsável pela escrita de alguns episódios de A Família Soprano, e muito inteligentemente, traça um panorama social por meio dos adventos dos produtos que vêm suprir a carência de pessoas que se comunicam por meio de valores materiais, pois os morais são via de regra varridos para debaixo do tapete.


É curioso como os roteiristas conseguem construir dois textos: ao que estamos assistindo e aquele que está nas entrelinhas dos atos dos personagens que vivem suas vidas por meio de chavões, piadas misóginas e pela visão (até hoje atual) da população como uma massa ávida por ter. Aliás, ter significa ser, sem culpas em curto prazo.


No seriado, vemos a figura do personagem principal, Don Draper (Jon Hamm, ator que é a encarnação do papel), ele mesmo ironicamente, uma figura inventada, pois só nós sabemos de seu passado que ele prefere encobrir para ter uma vida perfeita com sua também perfeita esposa, Birdie, a linda atriz  January Jones (nome que combina com a personagem pois aparentemente ela está sempre em órbita, tentando ser a mulher linda, zelosa mãe e esposa, mas lutando com algo que não sabemos o que é). Até que a ela é sugerida uma visita a um psicanalista, ideia também que deve que ser vendida, a fim de que as pessoas ao redor não pensem que só perturbados mentalmente procuram esse tipo de profissional, ou seja, entende-se que cada americano médio é o espelho do outro e ser diferente custa muitíssimo.


O galã, apesar do casamento aparentemente dos sonhos, trai a mulher com qualquer rabo de saia sem nenhuma aparente culpa. Há em todo o seriado um machismo e uma misoginia que são alternadas ao bel prazer dos homens da história, que exibem relações conflitantes entre o que são na essência e o que devem aparentar uns para os outros. (Na verdade, de lá para cá tal ponto não se alterou tanto assim, relativamente falando, é claro!)

Contudo, surge um personagem feminino que foge aos padrões da forma com que são concebidas as personagens ditas “respeitosas” da sociedade americana; pois, sim, vemos mulheres interessantíssimas, como por exemplo a amante do galã, que vive com artistas e sabe muito bem de sua condição feminina, porém estas acabam sendo marginalizadas pela sociedade organizada na época.


A tal personagem que consegue essa proeza é Peggy (Elizabeth Moss), secretária de Don, que mostra talentos extra burocráticos, pois às secretárias, cabe o papel único de serem graciosas, atenciosas, insinuantes, e serem chamadas por nomes pejorativos como sweetie, dear, candy, ou seja nomes genéricos que não dão a mínima identidade a essas mulheres.

Peggy consegue submergir nesse mundo, pois ela entende que seus atributos não são a sensualidade nem tampouco o senso comum. Ela age por instinto, errando , deixando por vezes ser humilhada na condição de minoria, mas muitas vezes também acertando, e o inteligente e sobretudo prático Draper nota isso, pois ele não a enxerga absolutamente como uma mulher, mas como uma mulher que pensa, quase um homem, na visão estreita da época.


Dito assim pensa-se que se cai no clichê dos homens serem personagens tipos, esteriotipados, mas não; eles demonstram fraquezas, em diferentes situações, quando estão doentes, bêbados, ou seja, vulneráveis, muitas vezes dentro do seio familiar, contanto que o vizinho ou o colega do lado nunca possa vir a desconfiar.


Cabe à mulher (mãe, amante ou esposa), tida como sexo frágil, silenciosamente dar as cartas desse jogo social.


É ótimo notarmos que não há aquela profusão de referências para nos lembrar que estamos na década de 60... elas aparecem normalmente no contexto dos episódios, há menções que vão desde filmes como Marty, Se meu apartamento falasse, canções que vão do popular até o cool jazz e livros coqueluches da época como o então polêmico O Amante de Lady Chatterley, o qual as secretárias leem de modo um tanto histérico.

Também é bem divertido notar para pessoas como eu que amam a indústria cultural, de onde vem o passado consumista e cultural que nos atrai até hoje. Pela mente desses homens e pela observação da sociedade, vemos surgir produtos, slogans e é inevitavelmente cômico com o olhar contemporâneo que temos hoje assistir a essas contínuas “invenções da roda” que perpassaram credos, sentimentos, opiniões políticas, tabus e outros elementos que acompanham a chamada evolução da sociedade, sociedade a qual a aparência era o elemento motor e a essência um simples adorno que fazia com que as pessoas pensassem ter sentimentos e as fizessem sempre comprar.

Eduardo Vieira é um professor de Português,
que lê compulsivamente,
vai ao cinema com frequência, 
mas é viciado em novelas e séries de TV
desde a mais tenra idade,
e acaba de unir forças
ao time de colaboradores
de LEVA UM CASAQUINHO.

Seja bem-vindo!
SO LONG FAREWELL
AUF WIEDERSEHEN
GOODBYE
VERÃO!

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