Neila
Tavares é jornalista e também apresentadora de televisão. Nasceu na cidade de
Niterói, Rio de Janeiro, em 18 de setembro de 1948. Atua ainda em teatro e em
cinema. Sua carreira artística começou quase por acaso. Em 1968, foi chamada às
pressas, para substituir Suely Franco, na peça” Inspetor Geral”, de Gogol, no
Teatro Opinião. Ela foi e se saiu muito bem.
Em
1973, ela convenceu Nelson Rodrigues a escrever a peça “Anti-Nelson Rodrigues”
para que ela protagonizasse. E ele escreveu. Na ocasião, Neila era casada com o
ator Paulo César Peréio, que também participou da peça, assim como o ator
Carlos Gregório. Neila e Peréio tinham a companhia teatral Bléc-Bêrd.
Em
televisão, Neila trabalhou na Rede Manchete, na Rede Globo, na TVE-Brasil, e
até na TV Tupi. Começou na TV Tupi, em 1969, na novela “Enquanto Houver
Estrelas”. Em 1972, fez “Tempo de Viver”. A partir de 1975, na TV Globo, atuou
em “Gabriela”, “Anjo Mau”, “O Casarão” e “Sinal de Alerta”.
Neila
Tavares fez muitos trabalhos em cinema. Foram dez anos de atividades
cinematográfica, entre 1969 e 1979, que renderam quase 20 filmes -– entre eles:
“Marcelo Zona Sul”, “Vai Trabalhar Vagabundo”, “A Estrela Sobe”, “Bandalheira
Infernal”, “Um Marido Contagiante”, “Os Sensuais”, “O Namorador”, “As
Borboletas Também Amam” e “O Coronel e o Lobisomem”.
Como
jornalista, Neila escreveu para as revistas Pais e Filhos, Mulher de Hoje, Ele&
Ela” e para a Folha de São Paulo. Como modelo, posou seminua para as lentes do
grande fotógrafo Luís Trípoli, e as fotos foram publicadas na Playboy Brasil em
1976.
Neila,
você é atriz, jornalista e trabalha com televisão, cinema, literatura e música,
um currículo extensíssimo. Gostaria de começar com a pergunta de praxe: como e
quando seu deu o encontro de Neila Tavares com a arte?
Pois
é. A arte, que eu me lembre, chegou a mim a través do cinema. Eu tinha 4 anos,
quando inaugurou um cinema bonito, moderno, ao lado de minha casa, em Niterói.
O Cinema São Jorge, no Fonseca. Então eu fui. A censura mínima era 5 anos e o porteiro
barrava ou deixava entrar. Quando passamos, ele disse: "Que idade tem a
menina?" Minha mãe respondeu: "Cinco". E eu: "Mentira,
moço. Tenho 4." Mas entrei. O filme era O Maior Espetáculo da Terra, com
Charleston Reston. Fiquei deslumbrada. Saí dali, dizendo: "Vou ser
artista." E nunca mais mudei de idéia. Quero fazer um curta sobre A
Primeira Vez. Ouvindo gente da minha geração (sem TV, sem computador, nada)
sobre a primeira vez que viu cinema.
Como
você mexe com muitas áreas, gostaria de começar pelo teatro. Você já atuou, fez
diversos trabalhos, inclusive teve uma ligação com Nélson Rodrigues e sempre
está envolvida com o projeto Tertúlia Teatral. Como foi a sua chegada no
teatro? Faz uma avaliação.
Foi
bacana. O Teatro Opinião era ao lado de minha casa, e eu decidi pentelhar o
Vianinha, o João das Neves, o Denoy de Oliveira, fundadores do importantíssimo
Opinião. Colei neles. Via todos os ensaios, buscava sanduíche pro pessoal,
sabia todos os papéis de cor. Era 1968. Aí eles faziam O Inspetor Geral, de
Gogol (Paulo Gracindo, Agildo Ribeiro, Ducina, no elenco) e a Suely Franco ia
deixar o espetáculo. Me candidatei ao papel e entrei, substituindo.
Como
é que se deu o "Anti-Nelson Rodrigues"?
Bom,
tinha a paixão por Nelson Rodrigues desde 11 anos de idade. Não sei porque, mas
eu fiquei louca quando uma amiga me deu uma peça dele pra ler. Eu, Peréio e
Carlos Gregório éramos duros, mas criamos uma Cia de Teratro. A Bléc-Bêrd.
Queríamos montar Nelson mas as peças dele tinham muitos personagens. Não dava.
Aí eu que já conhecia Nelson por tê-lo entrevistado para meu livro Roberto
Rodrigues - Desenhos - um irmão do Nelson, desenhista, assassinado aos 20 anos
- voltei na casa dele, pedi uma nova peça e ele fez. Pra mim, Peréio e Carlos
Gregório. Queria também o Paulo Gracindo e escreveu numa rubrica: "Paulo
Gracindo, neste momento, está no meio do palco". Mas Gracindo não gostava
de Nelson, eu acho, porque ninguém gostava, e não fez.
E
o Tertúlia Teatral?
Bom,
essa foi uma invenção do pessoal do Casarão dos Arcos, encenando textos de
autores velhos e novos. Mas só participei de uma tertúlia.
Você
já atuou no teatro, no cinema e na televisão. Apesar de serem três atividades
distintas, todas elas correspondem ao seu trabalho de atriz. Como se dá a
adaptação para tres formas diferentes de atuação? Como você concilia? Na
televisão você já foi, inclusive, apresentadora. Como é que foi essa
experiência?
Na
televisão, gostei mais de ser apresentadora que de ser atriz. Como atriz achei
a televisão uma chatura, um trabalho muito improvisado (eu gosto de elaboração)
e nervoso.
No
cinema vou já fez um bocado de coisa, né? Já atuou, já escreveu roteiro, já fez
um monte de coisas. Como se deu essa relação com o cinema?
Você
sabe de tudo, né? O cinema é um paraíso para o ator, a possibilidade de
trabalhar pequenos músculos, expressões minimalistas. É o sonho. Mas escrever
também é bom pra burro. Um trabalho solitário, que só depende de você. Dirigir
também é legal, dar forma, dar dicas pro ator, criar imagens impossíveis.
Cinema é tudo, em qualquer função.
Agora
vamos para a poesia. Você desenvolveu um trabalho chamado "Poesia na
Prisão". Como foi que você chegou à poesia e como se deu essa publicação?
Eram
poemas escritos por presidiários. Então, eu os visitava, na Frei Caneca, e
recolhia Poemas. Também falava com presidiário de outros estados. No Recife,
por exemplo, tinha Marcelo Mário Melo, que outro dia vi na TV. Preso em
Itamaracá. Era a ditadura e esses presidiário que estou falando eram presos
políticos e comuns. Tive que esperar a abertura para publicar.
Falando
de poesia, como estamos agora, eu quero falar de "Mulher", a sua
parceria com Geraldinho Azevedo. Como foi que se deu essa parceria musical?
Então.
Eu faço teatro, escrevo livros, dirijo cinema, mas a inveja que eu tenho mesmo
é de quem faz música. Porque a música atinge todo mundo, igualmente, não
importa a idade, a cor, a posição social, nada. Morro de inveja. E Geraldo é
mais que irmão, mais que amigo, mais que companheiro. Geraldo é a maior
conquista de minha vida, a mais importante. Eu não imaginaria minha vida sem
Geraldo. E fizemos essa parceria. Depois ficamos exigentes e não fizemos mais
nenhuma. Mas tenho uma peça infantil, musical, parceria com Gonzaguinha. Tenho
parceria com Geraldo Amaral e com Mirabeau.
Você
desenvolve um outro projeto ligado à poesia: o Armazém do Manuel. Como se
desenvolve as atividades do Armazém?
Vai
mal. Vai muito mal. Como anda a cultura brasileira. Não entendo como se pode
pensar num governo revolucionário sem uma verdadeira revolução cultural.
Você
está com 03 livros na praça: "As histórias maravilhosas para ler e
pensar", "Os mais belos pensamentos dos grandes mestres do
espírito" e "Orações para as pessoas de todos os credos". À
primeira vista, esses 03 livros trazem uma religiosidade pronunciada. Qual a
proposta deste trabalho?
Eu
sou uma pessoa religiosa, mas não pertenço a nenhuma religião. Fiz uma pra mim.
Gosto do sufismo, de Ramakrishna, de Jesus Cristo, de Teresa D’Avila e João da
Cruz, de algumas coisas de Osho e de Gurdjieff (algumas, outras não). Mas acho
lindas as religiões que de fato falam de um espírito livre, de uma ética, de um
aprimoramento constante do caráter, de uma superação de si mesmo, de uma forma
de se comportar com o outro como um verdadeiro irmão. Assim como sou
completamente avessa às religiões que se utilizam dessas coisas para aprisionar
a mente e explorar os incautos. Religião pra mim é, antes de mais nada,
liberdade. Então, andei estudando essas coisas. E acabei juntando material de
pensamentos e de histórias religiosas. E fiz esta série. Não pretendo ficar
escrevendo a respeito. A não ser talvez, publicar meus estudos sobre
personagens da Bíblia um dia.
Você
também é uma pessoa de participação política e já trabalhado muito nessa área
também. Pergunto: como é que você está vendo o Brasil hoje?
Ah,
acho tudo uma merda. Não quero nem falar a respeito.
Para
encerar, que projetos Neila Tavares está preparando e tenciona desenvolver?
Vou
te falar de sonhos. Meu sonho agora é ter uma câmera digital pequena e leve,
mas de grande qualidade. Enfiar ela na bolsa e sair pelo Brasil, sem pressa,
parando aqui e ali, sem destino certo, sem ponto de chegada, documentando o
Brasil. Fazer horas e horas e horas de imagem. E quando estivesse saciada,
parava pra editar tudo. Aí, sim, na ilha de edição eu via como aproveitar
melhor o que fiz, de norte a sul do país. É este meu sonho.
(entrevista concedida a
Luiz Alberto Machado
do blog TATARITARITATÁ)
O Coronel e o Lobisomem (1979)
Os Noivos (1979)
As Borboletas Também Amam (1979)
O Namorador (1978)
Os Sensuais - Crônica de Uma Família
Pequeno-Burguesa (1978)
Assim Era a Pornochanchada (1978)
Um Marido Contagiante (1977)
Bandalheira Infernal (1976)
As Desquitadas em Lua-de-Mel (1976)
As Deliciosas Traições do Amor (1975)
A Estrela Sobe (1974)
Vai Trabalhar Vagabundo (1973)
Ali Babá e os Quarenta Ladrões (1972)
Bonga, o Vagabundo (1971)
Um Uísque Antes, um Cigarro Depois (1970)
Marcelo Zona Sul (1970)
A Penúltima Donzela (1969)
Memória de Helena (1969)
ENCERRAMOS NOSSA HOMENAGEM
A NEILA TAVARES RESGATANDO
TRÊS FILMES BEM DISTINTOS
DE SUA CARREIRA CINEMATOGRÁFICA:
O EXPERIMENTAL "BANDALHEIRA INFERNAL",
A COMÉDIA "UM MARIDO CONTAGIANTE"
E O CLÁSSICO 'VAI TRABALHAR VAGABUNDO"
DE HUGO CARVANA.
DIVIRTAM-SE
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