Para meu amigo Tom Figueiredo
“Nada mais me impressiona.
Eu já fui a todas as festas”
Danuza Leão
Tesão não se explica. Senão, complica. A frase, apesar da rima pobre, vale ouro. E serve para todos. Do rico ao pobre, passando pelo remediado. Sem tesão não dá. A vida fica brocha.
Joe Andreolli se lembrava disso diariamente ao chegar na agência. Afinal, ali o bloco da fealdade tinha apenas uma representante: a porta-bandeira Marcinha. Fora essa indefectível exceção, as outras eram ótimas. Ou quase.
Redator premiado em propaganda, respeitado crítico de cinema do Estadão, poeta, Joe estava na força dos trinta anos. Testosterona, músculos e neurônios a todo vapor. Além disso, gozava de uma vantagem extra: estava solteiro. Melhor, impossível.
Bom de prosa e verso, Joe Andreolli não perdoava. Quando as moças davam fé, já tinha rolado cama. A estratégia deu certo com todas. Quer dizer, todas menos Maria Lúcia.
Morena, esguia, bonita, inteligente e profissional das mais competentes, ela não se abalou com o charme de Joe, quase sempre fatal. O rapaz bem que se esmerou na corte, mas Lúcia era uma fortaleza. Inexpugnável.
Nas reuniões de trabalho, ele caprichava nas sacadas, poderosas, de uma inteligência admirável. Frases cuidadosamente elaboradas para soar espontâneas, naturalmente brilhantes. Qualquer mulher se deixaria impressionar. Até a de César. Menos Maria Lúcia.
Joe, porém, não desistiu. Aquele baluarte de indiferença haveria de cair. No seu colo. Perseverou. E dá-lhe convites para almoços, drinques, jantares. E dá-lhe poemas, bilhetes, serenatas. E dá-lhe flores, bombons, livros e discos. E dá-lhe propostas para shows, teatros, cineminhas. E dá-lhe uisquinho com papo cabeça. Nada. Ela parecia o derradeiro bastião da virtude.
Redobrou os esforços. Acenou com fins de semana na charmosa casa de praia dele em Juquehy, feriados prolongados na montanha e até... férias em Paris! Nada. A moça era de ferro.
Joe não sabia mais o que fazer. Afinal, todo repertório tem fim. Mesmo o de um poeta apaixonado como ele. Até que chegou a noite da grande decisão, o Dia D, a Hora H.
Numa festa em casa de amigos, incentivado pelos mágicos eflúvios do terceiro uísque 12 anos, o bravo Joe Andreolli levou Maria Lúcia pela mão até a janela da sala, que era ampla, generosa.
Depois de um longo silêncio encarando a moça, Joe tirou os óculos e, à luz do luar, mandou seu apelo final:
"Você já reparou que eu tenho olhos azuis?!?!?!"
Sinatra não faria melhor.
é redator publicitário
e cronista.
É autor de
"Pela Sete - Breves Histórias do Pano Verde"
(2003, Editora Codex),
um mergulho no universo
dos salões de bilhar de São Paulo
e escreve todas as quartas
em LEVA UM CASAQUINHO.
Acho que conheci Joe Andreolli, talvez até tenha trabalhado com ele. Kkkkkkkk
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