Thursday, February 22, 2018

DENISE MARINO ASSISTIU "A FORMA DA ÁGUA" E COMENTA



Penso que gostar ou não de um filme está relacionado a sua experiência de vida.
Assim, por exemplo, se você nunca se apaixonou, não assista ao Forma da Água. Claro, não falo de paixões quaisquer, dessas que, às vezes, a gente tem por simples desejo ou falta do que fazer.
Falo daquela paixão descoberta e definida pelos trovadores medievais: um encontro de almas que se reconhecem pelo olhar.

Nesse encontro as palavras não têm a menor importância. Importam muito mais o silêncio dos olhos que se olham e o tempo dos corpos que se tocam, pois, eles conhecem a urgência.
Mas, quem nunca se apaixonou assim, não vai compreender o amor entre a faxineira muda e a criatura subaquática com o corpo coberto de escamas. Não reconhecerão sequer a metáfora.
Portanto, para esses nem adianta tentar explicar. Eles irão dizer que é apenas fantasia.

De qualquer modo, A Forma da Água não é somente um filme de amor.

Há quem ressalte as referências ao clássico O Monstro da Lagoa Negra, de 1954 – dirigido por Jack Arnold –, e às disputas e espionagens dos “capitalistas x socialistas” do auge da Guerra Fria, iniciado na década de 1960.
Acho que o Forma da Água faz essas referências, mas, acho que faz mais do que isso. O filme fala de ética.

E quem não acredita que existam o certo e o errado além das ideologias, também não deve assisti-lo.



Se você é daquelas pessoas que esperam que os “líderes” lhe indiquem o lado em que deve ficar, você não vai entender um filme que subverte o discurso dicotômico e aponta: o errado está na busca pelo poder!

Em contraposição, o certo está na busca da ciência e do conhecimento, da arte e da beleza; na busca da vida e da felicidade, com todas as suas limitações. Os que buscam o certo farão sempre a melhor escolha.

“Escolha” também é uma palavra fundamental no filme A Forma da Água. Escolha e vontade; vontade e escolha desenhando o caminho das águas: a liberdade!

A água vai para onde ela quer! Desgasta montanhas e abre passagens; vira nuvem e volta em forma de chuva pelo asfalto; escorre pelos bueiros e em forma de lágrima pelos ralos... sempre em direção ao mar.

Assim, meio de repente como uma tempestade de verão ou o estouro do cano da pia, termino meus comentários com os versos de Manoel de Barros:

“Quem anda no trilho é trem de ferro. Sou água que corre entre pedras - liberdade caça jeito.”


Meu nome é Denise Mattos Marino,
mas fui sintetizada: Denise Marino
ou, simplesmente, Dê,
acompanhada ou não do Marino.
Sou historiadora e professora de história.
Atualmente aposentada – fui mais rápida
que a reforma. Mas ainda levo
para os meus aposentos a curiosidade,
o “só sei que nada sei”
e a vontade de ensinar.
Ah! Sou libriana.

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