“Todo o Dinheiro
do Mundo” gerou polêmica antes mesmo de ser lançado, quando, às vésperas do
lançamento, os produtores resolveram substituir Kevin Spacey, que fazia o papel
do bilionário americano Jean Paul Getty, por Christopher Plummer.
Como as denúncias
contra Spacey se deram próximas ao final do ano e os produtores esperavam
indicações ao Oscar, o filme só seria indicado se fosse lançado em algum cinema
até 31/12 do ano corrente. Para que isso fosse possível, houve uma corrida para
refilmar as cenas das quais Spacey participava.
Quando li essa
noticia, imaginei que participação de Jean Paul Getty se resumiria a um
coadjuvante importante, mas de participação discreta. Ao contrário, Plummer
tem, além de um papel importantíssimo, muitas cenas no filme. Imagino o inferno
que deve ter sido recrutar todo o elenco novamente após o filme finalizado, filmar
e montar novamente tantas cenas com outro ator.
Pesadelos à
parte, não se percebe essa pressa no filme, Plummer está ótimo, a indicação ao
Oscar de coadjuvante é merecida, apesar de eu achar que existe um desejo de
cutucar Spacey, que pode até lhe render o Oscar.
Mas vamos ao
filme.
O filme é
baseado num caso de sequestro bastante famoso no início dos anos 70 quando o
neto do magnata americano Jean Paul Getty foi sequestrado na Itália. Confesso
que até assistir o filme o nome de Getty só me era associado ao belíssimo museu
em Los Angeles que recebe o seu nome. Não sabia que ele era, na época, o homem
mais rico do mundo. Acho que nos anos 70, não havia, como hoje, essa obsessão
por listas de pessoas mais ricas. Lembro bastante de Onassis, mas, a fama se
dava muito mais pelo casamento com Jaqueline Kennedy do que por figurar nas
tais listas.
Partindo do
sequestro, Ridley Scott aproveita para mostrar os efeitos que uma quantidade absurda
de dinheiro pode fazer a uma pessoa e a todos que a rodeiam. Getty aparece como
uma figura magnânima, cercada de serviçais, enquanto seu filho, no início, é um
cidadão comum que formou família e optou por levar a vida longe do pai. É
justamente a decisão de reaproximação que transforma a vida de todos.
Getty envia o
filho para gerenciar os escritórios de sua companhia petrolífera na Itália e se
aproxima dos netos, até então distantes. A partir daí o filho de Getty sucumbe
ao peso que é viver à sua sombra e o neto passa a conviver com a pressão que é
ser um Getty, constantemente ressaltada pelo avô. Os valores da família estão
diretamente ligados ao dinheiro e ao poder associado a ele. A única que parece imune
a esse contagio é sua nora, Gail -– a sempre excelente Michelle Williams,
também indicada ao Oscar com toda justiça.
Gail aparece
desde o início como uma mulher forte, capaz de contrapor Getty, e é exatamente
isso que o sequestro do filho, após a separação do marido, vai fazer. De um
lado o avô, que se recusa a pagar o resgate mesmo sendo o homem mais rico do
mundo, e do outro a mãe, fazendo o impossível pra ganhar tempo, conseguir o
dinheiro e receber o filho de volta. Gail ganha a ajuda de Fletcher Chase (Mark
Walberg), uma espécie de preposto do bilionário para situações de crise, enquanto
o jovem Paul acaba conquistando a simpatia de um dos sequestradores no
cativeiro.
O filme alterna
entre o embate entre Getty e Gail e o dia a dia do sequestro na Itália, criando
uma dinâmica ágil que mantem o interesse do espectador, mesmo que este já saiba
o desfecho da história. Getty é a figura central do filme, mesmo quando ele não
está presente, é impossível não parar de pensar em como uma pessoa seria
afetada por aquela quantidade absurda de dinheiro. Um pouco da velha discussão
se dinheiro traz felicidade, mas colocada de uma forma muito mais interessante
do que costumeiramente.
Ao mesmo tempo
em que gasta milhões com obras de arte, ele parece tratar o sequestro do neto
como mais uma de suas negociações rotineiras, ao ponto de se preocupar se o
dinheiro pago pelo resgate pode ser abatido do imposto de renda. Plummer está
excelente mesmo tendo tido pouquíssimo tempo para se preparar para o papel, não
consigo imaginar o filme sem ele.
“Todo o Dinheiro
do Mundo” é um dos melhores entre os concorrentes ao Oscar desse ano e, na
minha opinião, o melhor filme de Ridley Scott em anos.
Vale
decididamente uma passada no cinema.
TODO O DINHEIRO DO MUNDO
(All The Money In the World, 2017, 135 minutos)
Produção e Direção
Ridley Scott
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