Três
dias afastado das redes e do noticiário,
descubro a que ponto chegou a intransigência nacional. É inacreditável o
baixíssimo nível da discussão que assolou a rede, com ataques que
surpreenderiam o mais torpe dos canalhas. Tenho a impressão de que as pessoas
andam com peitos carregados de ódio e, dependendo do lado escolhido (esquerda
ou direita, soltam as matilhas com violência e crueldade surpreendentes.
No
caso da vereadora carioca, Marielle Franco, do PSOL, acredito que o copo tenha
transbordado. E por vários motivos. Antes de mais nada, fica claro que foi algo
encomendado; crime de interesse, seja político ou não. Por isso, o PSOL nunca
deveria ter partido para a politicagem barata, usando o corpo da vítima para se
vitimar. Uma das frases de um de seus integrantes, bem representado numa faixa
exibida em passeata dizia: "Quem fez os disparos fez o golpe!", clara
alusão à queda de Dilma Rousseff. Um erro tático que só serviu para que os
loucos da direita extrema voltassem com essa imbecil cantilena dos militares no
poder.
Na
realidade, nenhum dos lados têm razão. A morte da vereadora deve ser usada como
forma de pressão, porém uma pressão que venha a favorecer toda a sociedade. São
milhares de mulheres que sofrem abusos, são agredidas, assassinadas diariamente
no País e todas deveriam ter seus casos levados a sério como o da vereadora. Há
a necessidade de mostrar ao país que somos uma população de pessoas com os
mesmos direitos e deveres, nunca como se fossemos uma Índia, onde ainda prevalece
o sistema de castas.
Mas,
e essa é a nossa triste realidade, enquanto Marielle era enterrada no Rio de
Janeiro, juízes reuniam-se em frente ao prédio do STF, em Brasília, ameaçando
uma greve geral em defesa do imoral auxílio moradia, mamata que premia até os
juízes que tem casa em seus redutos de trabalho! Em nenhum lugar do mundo
existe aberração tão grande! Então fica a pergunta: quem está realmente
preocupado com o País? Se uma classe privilegiada como a dos juízes chega ao
ponto de fazer greve e piquete por algo injusto e imoral, o que acontecerá caso
os miseráveis deste mesmo País resolverem enfrentar o sistema e exigirem o que
lhes é devido por tanto tempo?
Para
que a situação fique mais complicada ainda, nossa classe política atual é o que
há de pior em toda História do País. Nunca se viu um metro quadrado brasiliense
lotado com tanta gente ruim e incompetente, isso para ser generoso.
Apresentam-se para encarar as eleições de outubro, nada menos do que 12
candidatos, por enquanto, mostrando que há, realmente, algo de especial naquela
maldita cadeira de presidente da República. Em sã consciência: como enfrentar
uma administração burra, burocrática, complicada e sem solução a curto prazo?
Qual o verdadeiro interesse em eleger-se para um cargo que encontrará sem
dinheiro, que não terá uma Câmara à sua retaguarda e que a maioria dos
deputados quer apenas o tal governo de coalisão, engenharia política inventada
pelo presidente boquirroto e que acabou se transformando numa das piores coisas
já concebidas pelo homem?
Chega-se
à conclusão de que algo está errado. Como há muito de errado no julgamento da
morte da vereadora carioca. Numa análise fria, ela é mais uma vítima da
bandidagem que tomou conta do Rio de Janeiro e a comprovação final de que a
Cidade Maravilhosa virou uma Medelín Tropical, onde as quadrilhas de bandidos
dominam todos os setores da sociedade. Tanto que até agora, Pezão, governador
do Estado, parece ter mudado para Marte, onde ainda não existem as rádios e TVs
atuais que passam dias discutindo o assunto. Da mesma maneira que vive mudo,
Pezão continuou aparvalhado, como se o cargo que representa fosse uma espécie
de condecoração, e mais nada!
Assim,
com essa falência de políticos competentes; com essa falência de líderes, fica
em aberto um espaço para os ensandecidos que sonham com os militares no poder.
Sempre é bom deixar claro que os militares, depois da democratização do país,
nunca pensaram em voltar ao poder. Este ou aquele, reminiscentes dos velhos
tempos, ainda se arriscam a lançar comentários mais duros da tribuna do Clube
Militar, sem nunca provocar qualquer repercussão mais importante. São senhores
que para fugir da monotonia, resolvem se juntar num clube para discutir a
situação do País, nada mais do que isso.
Assim,
a sociedade civil precisa aprender a ter mais calma. As redes sociais precisam
ser encaradas como um encontro entre amigos, onde até o contraditório é
permitido, mas a discussão não pode chegar às agressões verbais. No dia em que
as pessoas resolverem dividir opiniões, conversar com seriedade e pensar mais
no País do que no próprio ego, acredito que poderemos chegar a algum lugar.
Enquanto isso não acontece, prevalece a barbárie...infelizmente. Inté.
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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quando esquece que está aposentado.
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