Em
2015, numa cerimônia na Universidade de Turim, Umberto Eco declarou:
“As
mídias sociais deram direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente,
falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade.
(...) O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da
verdade”.
Muita
gente torceu o nariz para o escritor italiano: “elitista” – pensaram. E alguns
correram a defender o direito à voz dos excluídos da razão e do bom senso e a
saudar a internet como um espaço democrático de comunicação e informação.
Passados
quase três anos, duvido que exista um único internauta ativo que, pelo menos
três vezes por semana, ao deparar com certos posts em sua linha do tempo, não
tenha exclamado com convicção: “imbecil!”, “idiota!!”.
Dá
para ouvir Umberto Eco em seu descanso eterno: - Tesoro, non te l´no detto?
Mas
o filósofo e professor de Semiótica não parou por aí. Ele criticou o excesso de
informação, tão prejudicial quanto a falta de informação: “O excesso de
informação provoca amnésia” – disse.
Falou
também sobre manipulação política e, como não podia deixar de ser, falou sobre
as mentiras, que podem transformar a internet num “mundo selvagem e perigoso”.
De
fato, as mentiras e as deturpações maliciosas dos fatos, das fotos e das falas
acirram os ânimos e promovem o tal “ódio” de que um lado acusa o outro. “Selva”
é uma boa imagem.
Então,
por que razões as pessoas publicam e compartilham mentiras?
A
primeira razão é óbvia. Desde tempos imemoriais as mentiras têm sido usadas
para denegrir os adversários ou inimigos. Estratégia de poder ou mera
canalhice, simples assim.
Entretanto,
tanto no passado como atualmente, os canalhas necessitam dos mensageiros para
reproduzir e espalhar suas maledicências.
Vejo
mensageiros de três tipos: o primeiro é contratado. O segundo é o crente, o
iludido que realmente acredita no teor das mensagens que o “líder” lhe sugere
propagar. E o terceiro é o militante, que sabe que as mensagens são falsas, mas
acredita que elas podem favorecer a “causa” que é única coisa que importa. Em
outras palavras, o militante adota a tese de que “os fins justificam os meios”
esquecendo que diferentes caminhos conduzem a diferentes destinos.
Ao
se despedirem da ética ou do senso crítico, os mensageiros se aproximam do
território da imbecilidade e da idiotia mencionadas por Eco. Sem eles, o
canalha teria dificuldades em sobreviver.
Mas,
os mensageiros não são os únicos a compartilhar mentiras. Há os distraídos, os
apressados e os idiotas de verdade que se deixam levar pelo tom alarmista e não
checam as fontes; não ponderam, não comparam e saem compartilhando,
alucinadamente, como se tivessem vindo ao mundo, exclusivamente para isso.
Enfim,
assim como os canalhas criadores de calúnias e mentiras, os mensageiros não são
exclusividade contemporânea. Que seria dos grandes tiranos da história se não
fossem os mensageiros pagos, os militantes e os fanáticos crentes? Por outro
lado, que seria da intriga e da fofoca se não fossem os apressados,
superficiais e os idiotas?
Todavia,
atualmente, chama a atenção um propagador de mentiras que, me parece, constitui
uma novidade.
Trata-se
do “compartilhador indignado”. Ele navega como uma espécie de inspetor das
redes sociais. Assim que detecta uma mentira ou falácia, compartilha,
revoltado. Porém, via de regra, acredita que sua indignação será compreendida.
O que acaba acontecendo, ao contrário, é insuflar a coragem aos idiotas para
assumirem suas idiotices.
Dialético!
Tentarei explicar com exemplos.
O
idiota está em sua casa cogitando sozinho... “Esse Sérgio Moro é esquisito,
persegue o Lula; olha pra cima quando fala; estudou nos Estados Unidos...”
De
repente, o estulto entra no feicebuque e dá de cara com um post do
“compartilhador indignado”: “Moro é da Cia”.
O
tanso se agita: “ahá, eu sabia!”
E,
assim, com forças renovadas, sentindo-se o máximo, como só os idiotas sentem,
saí gritando nas redes: “o Moro é da Cia! O Moro é da Cia!”
Um
outro exemplo, com a imbecilidade oposta, para tornar-me compreensível.
O
idiota está em sua casa cogitando sozinho... “Essa Marielle é do PSOL, apoia o
Lula, defende bandidos...”
Eis
que o estulto entra no feicebuque e dá de cara com um post do “compartilhador
indignado”: Marielle foi casada com o Marcinho VP”
O
tanso de agita: “ahá, eu sabia!”
E,
assim, com forças renovadas, sentindo-se o máximo, como só os idiotas sentem,
saí gritando nas redes: “a Marielle é do tráfico! A Marielle é do tráfico!”
A
psicologia explica a reação do imbecil. Sozinho, ele é capaz de um pouco de
autocrítica ou controle. Mas, quando o imbecil se vê num grupo de iguais ele se
sente forte e a imbecilidade se fortalece.
Esse
é o fenômeno que explica as violências praticas pelas torcidas organizadas,
pelos que praticam estupro coletivo ou mesmo pelas milícias formadas pelos
governos totalitários de direita e esquerda ou, paralelamente, pelos criminosos
e traficantes.
...
Mondo selvaggio e pericoloso.
O
compartilhador indignado deve estar me xingando: “Porra! Não sou o culpado!”
Não,
não é integralmente. Os mensageiros ainda existirão. Mas você pode fazer a sua
parte, deixando de divulgar as mentiras e falácias com as quais não concorda. E
se não resistir, porque elas lhe incomodam demais, em vez de reproduzir,
explique porque são mentiras ou falácias.
Explique,
não grite! Use o bom senso, em vez da raiva.
Creio
que podemos colaborar com 25% menos de imbecilidade.
Meu nome é Denise Mattos Marino,
mas fui sintetizada: Denise Marino
ou, simplesmente, Dê,
acompanhada ou não do Marino.
Sou historiadora e professora de história.
Atualmente aposentada – fui mais rápida
que a reforma. Mas ainda levo
para os meus aposentos a curiosidade,
o “só sei que nada sei”
e a vontade de ensinar.
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