20
de janeiro de 2.003.
‘’
o ser humano nasce para a fidelidade’’, citação de Foucault.
[a
fidelidade só pode ser companheira da amizade e espírito, - sexo não conhece
dono e idolatria,- é andador como perene afeto da saudade]
(‘philologo’)
– penso ser todo que escreve ou encena.
Crônica
de colégio, mística da evocação, força ginasial da vontade de querer muito;
impedimentos
da Vida se precipitando como anúncio, anti-universidade! O colégio como iniciação : instituição que se nega e
quer. Já notava voz recitativa interior:
escrevia pensando em tua voz... trama, ‘guion’, desenlace , fragmentos
vertiginosos.
A
escritura é dilaceramento espiritualizado, como esse nosso ensaio dos três
primeiros Atos; algo inumano, como fluir de corpo numa piscina prateada de
madrugada.
As
piscinas e cordas pendentes de forca remetem essa solidão essencial: criativa.
Líquido
e pender de árvores, anti-arquétipos quando ladeados de significação.
Escrever
e representar, Léo , são duas formas equiparadas de pensar na morte e anunciar
algo além do infinito. Além do infinito: Arte anti-numérica. Amuradas,
encômios, bosquejos, - natural acidentado, aguadas. Cenografia idealizada: Céu
e Paraíso.’’
‘’tenho
termos para elaborarmos algo melhor , Léo. Bidimensionalidade, suporte compositivo,
- um véu adamascado, e Ter em mente a ‘cena ‘! encontro entre ator e
personagem, ou entre ação e memória. Imagine a viagem entre Bahaus e rococó...
Tempo
é personagem no compasso da tua sensação e sentimento. Sensação e sentimento intercalados.
‘’
Santos,
23 de janeiro de 2.003.
‘’
impõe-se redefinir antigos pressupostos pré-cibernéticos,
- desregra do pensamento pedindo
formatação apropriada ao
- ritmo-fragmento. Anseio do Ser,
política-estética, avaliação
- pura de mosaico : interconexão. Emoção
pensada, dubiedade
- cristalina. Dúvida exitosa, - intuição
conflitante, eis! arremate
- sem rompimento. Os diques da alma se
sustenham! Quase tudo é
- óbvio se bem disposto em ação ou
palavra.’’
‘’
se queres vamos expondo aprendizagem por atos . Já remetemos em colóquio a
dialogação.’’
‘’
Para você que tanto amei e hoje tens no filho continuidade fisionômica, Carlos,
tenho a lição do conselho pétreo: paciência que ele se torne ator , indiferente
ao primeiro chamado televisivo.
Ator
da Vila Mada, do Baixo ou de Jacupiranga mambebeando.
Se
sentindo calafrios ao palco e em récitas privadas, inegável confiança deposita
na Arte: ela livrará de todas mais mazelas afrontosas dos pardais e gaviões de
carniça urbana. Ao jovem é que digo leia! vá à fonte, deite no revaldo estofado
do teu quarto de cortiça e leia! Amando ou só metendo aos poucos, leia! moço.
Esse
é caminho mais progressista e humanitário que reconheço nesse XXI da porra: ler
e seguir criando a partir do antigo . Seguir é se fazer novo sem perder as
peias encantadas, únicas consentidas.
O
poeta Mário Quintana quando indagado sobre o que deveria ler para compreender
Shakespeare, bradou incontinenti: Shakespeare!’’
Santos,
29 de janeiro de 2.003.
‘’
Torna-te capaz de tua Arte, Fred, age sobre tua perícia!
Como
diz Agatão, ‘a arte ama o acaso, e o acaso ama a arte.
Restitui
‘teorético’ na lida de agitos e esgares cênicos.’’
‘’
Às vezes , só depois de extensa caminhada, ressurge, enfim,
a
obra desejada. O efêmero reluz, seu brilho é passageiro. O
autêntico
perdura, eterno e verdadeiro.’’ Goethe.
‘simpliciter’
‘’Recorrer
à uma folha solta, feito papelão, papelote, como sair à vontade , saindo ...
como fugir, estar, perder... ceder à banalidade.
Perder
as indiferenças do sentido. Como fazer? As perguntas se dispersam, sem núcleo,
perdidas em possibilidades. Tudo, todo, variações de um corredor estreito, como
todo o sentimento.
Ainda
assim, melhor fazer.’’
‘’’-Gostou
desse texto de baú, Fred? É dos achados que fuças que há de vir o agrado da
vontade.’’
‘’Fred,
a mediocridade da interpretação é a ponta só de carretel desalinhado de
vacuidade e imperfeição consentida. Quando tocas no samovar ou tolhe apetite,
revelas ‘oposição de gosto’ ou ‘antipatia estética’[ Thomas Mann] ,- o toque
expõe realidades aproximadas. Simetrias, o dedo certo em seu sexo,
disponibilidade inapelável. Teu patrimônio telúrico, a puberdade em especial é
definidora para artista mais que infância para o homem. Lembra de Nijinsky e
seu casamento com Deus. ‘’(...) escrever diários é comum, atualmente , entre os
artistas que se esforçam por deixar de lado o intelecto e sondar o
inconsciente.’’- ‘a caneta de Deus.’
‘’
(...) para Nijinsky a simpatia literalmente produzia a identidade, sobre Deus e
Cristo.’’ Contorno emocional. ‘’ Aprendi que personagens fortes acabam se
impondo.’’- a lógica do personagem.
‘’
Os personagens, que começam amarrados a estereótipos , vão através das memórias
se redesenhando completamente.’’- do estereótipo ao personagem.
- ‘’Sou um tipo de autor que se torna
amigo dos personagens.’’
- Graham Swift.
- Espaços espectrais, - a faina
ficcional : o ator ficcionista.
- Te fecha na casinha de praia,
Maresias, acerbo e misantropo
- e tece, tece, tece. Sê sensível e
inteligente, arguto no trampo da
- temporada, - revê conceitos , retoma o
bom do adolescente,- a tal montagem imagética. ‘’
- Santos, 31 de janeiro de 2.003.
‘’
MOSES, - devemos aplicar idéias psicanalíticas à cultura, estreitar ao largo a
filosofia e alargando todo pensamento .’’
[
‘’ o oposto da brincadeira não é a seriedade, mas a realidade. Ao invés de
brincar, fantasiam. Essas duas atividades se espelham uma na outra: ambas são
instigadas por um desejo. ‘’
‘’Pode-se
dizer que a pessoa feliz nunca fantasia , apenas a insatisfeita o faz ... (uma
fantasia) é uma correção da realidade insatisfatória ... realidade remodelada,
belamente distorcida.’’]
‘’
O sonho deve ser como a ilusão generosa, dá a fantasia repartida:
- sê generoso interpretando feliz.
Sobressalto intelectual, quando
- descansa o ficcionista é no riso que é
entendimento. O riso ou choro são entendimentos, termômetros da assistência.
Generoso
- e inquisitivo, liberando caráter
compulsivo. Desdobra conjeturas,
- testa atrevido arroubo, possibilita a
cena / encenação.’’
- MOSES, ‘’Não o prelúdio a uma ação
violenta, mas os resquícios de um movimento encerrado.’’
‘’
Tarefa de interpretação, interpenetração. Componente gay ou de ‘’ sodomização’’
literária: atuar escrevendo por dentro . Penetração psíquica, psicológica tão somente então. ‘’
[
‘’ o artista como um neurótico em busca de gratificações sucedâneas para seus
fracassos no mundo real .’’]
‘’
A manifestação expressiva nele contido, em ti contêm tanto que pode ser
expresso! Nota o copo e o leite, a pena e a tinta...’’
[
à experiência estética: a psicologia dos protagonistas, a psicologia do público
e a psicologia do autor. ]
[
‘’ acredito que um acontecimento real estimulou o poeta em seu retrato no
sentido de que o inconsciente nele entendeu o inconsciente no herói.’’ – Freud
s./ Édipo / Hamlet.]
‘’
digressão e inferências’’ / ‘’ exacerbe e contenha-se na medida do que era
antes excesso: o perigo está no reducionismo;
a catarse funciona não para gerar a imitação, mas para torná-la
supérflua’’.
‘’
Léo, é o contraste fixado entre o clima tenso-reprimido e a beleza externa
exuberante, drama no Paraíso, no meio mercadores de especiarias. Poema longo,
conto ou romance, também na dramaturgia litúrgica nota a inflexão/ o desdizer ,
a satisfação visceral da conclusão. Concluir no ponto, a questão da fala, a
interjeição, teu posicionamento ante o protagonista,- a finalização leva de
roldão acerto e disparate no intercurso. Torce as resistências na síntese
maior. Tens óculos especiais? Os sociais são bons em ocasiões no palco bem específicas:
óculos sociais, - de observar-se por um pouco pelo público além da ribalta.
Experimento mesmo!
O
homem ama que viu rápido e espera outro contato, mais que novo, Outro. Fixação
e imobilismo, sem desfecho ou frustração. Sem o chapéu, homem num ambiente
restrito e sua visão persecutória / Pulsão e vago temor. Lembra frases como
ator, Léo ou escolhe lembrar como personagem pronto? Tu quem sabe. Não um
homem, um teste. Léo , mantenha escrivaninha pronta, na eventualidade dos
textos dispersos.’’
‘’
Fui impulsivo ,
Mas
louvada seja a impulsividade,
Pois
a imprudência às vezes nos ajuda
Onde
fracassam as nossas tramas muito planejadas. Isso nos deveria ensinar que há
uma divindade
Dando
a forma final aos nossos mais toscos projetos...’’ – Hamlet,- dedilhado em
nanocomputador, introjetado, não mais repetido, intuído nas falas sutis,
representado na-tu-ral-men-te! nos inflam de paixão e em nanopoemas exalamos as
deixas da tal ‘’divindade’’, em coma artístico. Numinoso,- Léo,- como em
Isaías.
[‘’
Isaías experimentou essa sensação do numinoso que periodicamente baixava sobre
homens e mulheres. No clássico ‘’A idéia do sagrado’’, Rudolph Otto descreveu
essa terrível experiência de realidade transcendente como ‘mysterium terrible
et fascinas’’, é terrível porque se dá como um profundo choque que nos isola
das consolações da normalidade, ‘ fascinans’ porque, paradoxalmente exerce uma
atração irresistível.’’ – Karen Armstrong; ‘’Uma História de Deus.’’]
‘’-
observâncias cultuais.’’
‘’
A escolha do papel, o compromisso, Léo, já por si é definição psicológica e
preferência semântica, a palavra justa ao olhar milimétrico.’’
[
Hamlet : - ‘’Senhor, o definimento dele não sofreu perdição na sua bola, embora
eu saiba que dividi-lo inventarialmente tontearia a aritmética da memória, e
seria apenas desviarmos da rota um barco tão veloz. Mas concordo na veracidade
do seu panegírico, é uma alma muito bem dotada, com uma essência de tão
peregrina raridade, que, para dizer a verdade final, só encontra semelhante no
seu próprio espelho; e só pode segui-lo a sua sombra- ninguém mais.’’
- sobre Laertes.]
‘’
Definamos pois que seja intérprete como ente íntimo amalgamado ao termo dito.’’
[
Hamlet : ‘’E o correlacionamento, senhor?
Por
que embrulhar o cavalheiro nesse mau hálito verbal?’’
Horácio
à parte, a Hamlet : ‘’ Sua bolsa de metáforas esvaziou. Já gastou todas as
palavras de ouro. ‘’]
‘’
O palco, gato,- é esteio e estuário de tanto antevisto e construído; monstro
marinho em reverberação : desejo por expressar! Adejando em sinal de lança ao
Sol agitando-se entre greias e górgonas,- Perseu ante platéia atônita com tua
execução da trama ou abstração consentida.
Não
paira inerte, - traz prá frente / os pés conjugados, pisando a revoada; não
seja sintoma de nada ser fechado : noz cálida / tivera dois fatos que me
assegurassem fortaleza e tomaria papel de árvore e casulo, transportando as
tendas / casa em ruína / traçando muros / me consolando em jazz! Moro cá dentro
de novo, - pronto! percebe a fronte ,- retine cuidadoso espanto.
Tenho
volumes em três atos, manuscritos pantagruélicos, - embora nota a mínima soma
de aspectos conversos num drama.’’
‘’
A inovação técnica do século XVI foi combinar elementos dos dois estilos
musicais, o polifônico e o harmônico. Essa fusão produziu um certo número de
novas formas, tanto para a voz solo quanto para a voz acompanhada de
instrumentos.
A
principal delas foi o madrigal, uma forma poética mais flexível do que a
cantata pelos trovadores --- ou menestréis—na Idade Média: a balada, a sextilha
e outras. À semelhança das canções populares que continuaram a ser escritas e
cantadas, os poemas líricos que forneciam as letras de peças vocais do século
XVI tratavam de temas eternos: amor, infortúnio, morte, primavera e bebida. A
música de um madrigal podia variar de estrofe para estrofe e, como vimos, uma
série de tais poemas podia ser apresentada quase como uma peça teatral; não havia
estribilho nem versos repetidos palavra por palavra para deter o
desenvolvimento da idéia.
O
madrigal originou-se na Itália e foi aí cultivado por muitas e talentosas mãos;
inspirou também na Inglaterra uma escola de brilhantes compositores que floresceu
desde meados século XVI até ao primeiro
quartel do século seguinte. Embora ignorados por muito tempo, no século XX
vieram a ser colocados entre os mestres da composição musical.’’
- do madrigal.
‘’
Outras formas do século XVI, como a ‘pastorale’, ‘a masquerade’ e o balé ( a
forma de entretenimento com recitativo, dança e música que é a ancestral do que
hoje conhecemos com esse nome ), concretizavam a mesma intenção.
Quer
o tema fosse os amores de pastores e pastoras na ‘pastorale’, ou os deuses e
deusas pagãos no balé ou na ‘masque’, as emoções a serem sublinhadas pela
música eram mundanas, não as conhecidas emoções de fundo religioso.
Um
conjunto de regras deve, portanto, ser criado para garantir uma comparável
disciplina formal.’’
- da disciplina do profano na ausência
do sagrado.
[
‘’ Da alvorada à decadência.’’
Jacques
Barzun; Editora Campus. ]
‘’
Vamos unir contrários, sob o arquétipo do Homem Original ; quando me falaste em
‘carpintaria teatral’, Felipe , substitui o termo por magia ou algo mais
humano: ouriversaria teatral,
-sutil
construção, passo à passo do tablado...
Que
seja inacabado? Por que temes ? o lapso no mais das vezes é curto e certeiro.
Prefiro um enormeeeeeee Amor com pontinhos de luz raiando à um coice de
determinação estéril.
Até
melhor, Felipe! Seja determinado sobre ser Ator mais variado no ofício; tudo
que te digo parece tanto com um tropo: a
mandala que viceja sem ser sentida: roçamos o Céu farfalhando a Terra com
brilho azul no rosto. Todo artista precisa desse brilho azul ou ‘seu’ brilho
azul mirando a superfície das horas, - com ele se chega ao âmago, a plenitude
psicológica na dobra de uma constelação: a angústia de Coleridge no espelho
amplo de Hesíodo. De carpinteiro à desenhista, proponho-te o escorço, o bordejo
na garatuja: vamos alinhavando a ‘persona’, o personagem : nele tu te
encontra.’’
‘’
Écloga urbana / nossa conversa Felipe segue no café onde o Mar faz a volta.’’
‘’
Vê, Marte com Vênus? Esse para nós Uranos, é útero, força fértil do desafio! A montanha
chegando ao Atlântico ou a colina numa estepe!
Essa
mulher é o pericarpo, o mesmo mundo que tu vês na outra ponta do percurso: vês
como criatura o cenário cósmico animado. Marte com Vênus é o símbolo maior
diante o qual somos eu e Tu, Felipe, os satélites que mais estranham por que
estranhamos demais o que tocamos e o Todo visto. Sensibilizássemos! nossa rota
é mesma num molde de cristal da forja de Vulcão. Os cavalinhos de vidro ou
material translúcido :
Agora
toma! Vê também a Grande Dama como Tennesse Wiliams em ‘’A margem da Vida’’;
Nos
amamos , mas Géia tem apelo irresistível sobre nós: eu escritor e vc. no palco
perfazemos a soma : a Terra nos acolhe sem mais peias.’’
‘’
Seremos onze nessa Companhia: Anu e Varuna da Babilônia ao Vale do Indo,- vem
do centro espargindo cosmogonia.’’
Santos,
01 de maio de 2.003.
‘’
o corvo negro: dicotomia ator e escritor; junção,
convergência.’’
‘’
Eu Alexis, escrevo e leio com nítida impressão
do
precisamente Belo se reconhecendo no texto criado. Vc. em cena, lança apelos
diretos ao ponto derradeiro para qual Arte se destina. Esse alguém na platéia é
menos porém que o que desvela meia página na alcova branca de aprendiz de
sábio. Tão raro um belo rosto enrugar com pensamentos aprofundados : mas das
criaturas , a mais próxima do Divino, é que compõem fugaz soma. O ator por
banal seja o texto é modelo vivo para escritor.’’
Publicado originalmente em
MEIO TOM - POESIA & PROSA
editado por Constancio Negaro.
http://www.meiotom.art.br
MEIO TOM - POESIA & PROSA
editado por Constancio Negaro.
http://www.meiotom.art.br
Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Vem sendo estudado como uma das vozes
da pós-modernidade literária brasileira
em universidades americanas e européias.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
Contogramas (2004) e Escorbuto, Cantos da Costa (2005).
No comments:
Post a Comment