25
DE ABRIL é um símbolo de liberdade universal tão expressivo quanto a poesia de
Antero Quental, o monumento literário
que é a obra de Fernando Pessoa ou o
Prêmio Nobel de Saramago. A revolução
dos cravos inseriu Portugal no século XX, na modernidade e fez a civilização
lusitana servir como farol de novo para todo mundo livre. Como todo sonho surgido duma noite escura de
50 anos o movimento provocou tropeços por ansiedade e excessos pelo tanto de desejos
reprimidos, mas vencidos erros do parto Portugal cumpriu seu destino
cosmopolita novamente. Em uma só
primavera de 1974 o país viu florescer a modernização dos costumes, a arrancada para a industrialização, as possibilidades de se tornar uma nação
européia integrada e uma democracia que serve de exemplo na tolerância, na
inovação econômica e no resgate da auto-estima de sua gente. Portugal que atrai turistas e imigrantes ao
invés de exportar seus filhos começou em 25 de abril, - Portugal do Mercado Comum ali também surgiu.... A
descolonização era inevitável e poderia ter sido feita antes com maior
sabedoria e integração com as ex-colônias... a França já tinha perdido a
Argélia traumaticamente , antes tinha sido derrotada na Indochina onde a
superpotência americana também iria perder milhares de vidas no recém fundado
Vietnã: como Portugal poderia manter um
império sem forças diante da Guerra Fria?
Como um castelo de cartas foi-se Angola, Moçambique, Guiné, - mas a
metrópole venceria por sua cultura, seu
espírito milenar, pelo idioma hoje sétima língua mais falada do planeta. Hoje alguém nesse instante celebra o 25 de
abril nas praias do Timor, nos bairros típicos de Macau, nos rincões de Goa , estuda Fernando Pessoa
em universidades canadenses, traduz
Camões em Harvard ou celebra a lusitanidade em Maputo. Portugal hoje é um império da alma, na forma de sentir saudade, no modo lírico de encarar a vida,
degustar o vinho e cantar o mar em qualquer porto onde tremule a Cruz de Malta.
A revolução que foi mesmo radicalmente
uma mudanças de séculos em um dia ensinou que nada valem pão e ordem sem
liberdade: que não importavam as ruas impecavelmente limpas de Lisboa sem
alegria no rosto do povo e opressão , medo não com combinam com
felicidade. Portugal era uma ilha medieval enquanto o homem chegava a lua....
25 de abril tinha três bandeiras : Democracia, Descolonização, Desenvolvimento.
A democracia era tão necessária quanto a
luz do sol, a Descolonização fato consumado, o Desenvolvimento que se vê hoje é
decorrência desses 44 anos de experimento.
Portugal experimentou a ousadia, um socialismo errático, experimentou
até a anarquia até encontrar o consenso entre bem estar social com as regras do
mercado sem perder a imaginagação.
Portugal é hoje sensação , o queridinho de todas as juventudes
inventivas do planeta porque investiu no experimento. Hoje mesmo o governo exitoso dum português de origem indiana é docemente
chamado ´geringonça´ , um experimento que dá certo e fascina a Europa tão
incerta em seus rumos . O século XXI já
é o tempo da criatividade e tecnologia:
Portugal é um milagre literário, um fenômeno poético , agora se prepara
para ser o novo Vale do Silício europeu: a terra da internet , da
digitalização, da inteligência
artificial, da robótica ;- desde a China
‘a gênios da Califórnia investem e acreditam nessa simbiose entre a tradição
desbravadora dos navegantes a qualidade de vida acolhedora de Lisboa passando
pelo Douro até o Algarve como pólos dessa ousadia sócio-econômica que só os
cravos fizeram desabrochar. É preciso
lembrar que antes do 25 de abril dizia-se que Portugal era dominado por três
Fs: Fé, Fado, Futebol. Hoje como nunca a fé católica convive lindamente com a pós-modernidade, o Futebol
faz vibrar como nunca e o Fado se reinventou
com rock e bossa nova. Portugal vai muito além dos esteriótipos, dos
clichês que posso afirmar que são muitos países dentro dum pais com apenas 10
milhões de habitantes. A Síria hoje
despedaçada criminosamente por uma guerra civil para derrubar um tirano é
exemplo do que Portugal se livrou e soube superar: derrubou com cravos em um dia de celebração e
jubilo uma ditadura de 60 anos. A
democracia exige maturidade, só a
política mas muito bem feita é meio de construção de uma sociedade livre. Que 25 de abril sirva de lição a nós filhos
desse mesmo sentimento atlântico do mundo, nós brasileiros outra margem do Tejo
infinito....
Poeta, contista e crítico literário,
Flávio Viegas Amoreira é das mais inventivas
vozes da Nova Literatura Brasileira
surgidas na virada do século: a ‘’Geração 00’’.
Utiliza forte experimentação formal
e inovação de conteúdos, alternando
gêneros diversos em sintaxe fragmentada.
Vem sendo estudado como uma das vozes
da pós-modernidade literária brasileira
em universidades americanas e européias.
Participante de movimentos culturais
e de fomento à leitura, é autor de livros como
Maralto (2002), A Biblioteca Submergida (2003),
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