A
fração de jogadores da equipe brasileira que desembarcou no Galeão depois de
eliminada da Copa do Mundo da Rússia, era um retrato triste e melancólico do
que se transformou o País nos últimos tempos. Mostrou ainda os erros cometidos
por toda comissão técnica e escancarou (ou denunciou?) talvez o mais
importante: como nossos principais jogadores não têm mais qualquer
identificação com sua torcida. Exagerando, talvez até com o País.
Uma
boa parte da equipe ficou na Espanha, outra em Paris, outra em Londres, outra
na Alemanha, onde têm casa, uma vida faustuosa, bajulação dos
dirigentes de seus clubes e sequer lembram de suas origens humildes. No Galeão
desceu uma meia dúzia que veio apenas para rever familiares, encontrar amigos,
voltando em seguida para seus países de moradia. Apenas três jogadores ainda
atuam no Brasil, Fagner, Cássio e Geromel voltaram, realmente para suas
origens: dois para o Corinthians (Fagner
e Cássio) e outro para o Grêmio, Porto Alegre, o zagueiro Geromel. Se
considerarmos os 23 convocados, o percentual de “brasileiros”, na seleção é bastante pequeno.
Talvez
por isso, por mais que se esforce, a torcidade brasileira não consegue se
identificar com a seleção como em tempos idos. O que se vê, nos dias de jogos,
é muito mais a curtição do meio feriado não previsto, do churrasco, da reunião
dos amigos. E se caem em finais de semana com feriados próximos, então, é a
perfeição! Vestem-se as camisas, colocam-se bandeiras nos carros,r churasqueiras
são acesas como se fossem altares aos Deuses do Futebol, cervejas são geladas
com capricho e a festa começa. Mas, na verde, onde entra o futebol nesse meio
todo? Nas redes sociais, por exemplo, a maioria dos memes publicados foi de
raiva com a desclassificação para a Bélgica, mas não com o futebol em si, mas
com o feriado previsto na terça-feira e com outro feriado dia 9 de julho,
segunda, tudo cancelado!!! Terrível...
O
futebol, na verdade, nem deve ser discutido. Perdemos para equipes melhor
organizadas, para equipes onde os técnicos alteram suas táticas no meio da
partida, têm jogadas e mais jogadas ensaiadas e nquanto o treinador brasileiro
ficava ao lado do campo sem tomar atitude. Na verde, sem saber o que fazer. São
dois os problemas de Tite. Está completamente defasado das novas maneiras de
administrar uma partida e é extremamente teimoso. Essa combinação gera um ser
estranho, teatral de má qualidade que prefere enfiar a auto-juda goela abaixo
dos jogadores a novas táticas do futebol. Não podia dar certo mesmo.
Mas
ele não é e nunca será o único culpado. Crucificá-lo agora é uma atitude
irresponsável e desnecessária. O leito já foi derramado e tentar juntá-lo agora
é impossível. Questiono apenas sua continuidade, pois, além da auto-ajuda, não se
viu nada de novo na equipe. Tite sequer teve a competência de enfrentar
grandes seleções na fase preparatória e pelos resultados na Copa do Mundo -- sabemos exatamente como andam as seleções sul-americanas, equipes que o Brasil
já cansou de sacudir ao longo dos anos. Portanto, sem um futebol forte ao seu
redor, o Brasil perde completamente o prumo, não tem como se comparar. Não sabe
o que ocorre de novo no mundo do futebol e fica marcando passo. Triste.
Assim,
nossa seleção é um retrato claro do momento em que está enfiado o País.
Dividido, sem forças para retormar o caminho do futuro e nas mãos de muita
incompetência. Aliás, incompetência é algo do qual não conseguimos nos livrar.
Nos últimos 13 anos, especialmente, a mistura de incompetência e manutenção do
poder irresponsávelmente, jogou o País na lama; quebramos economicamente,
socialmente e moralmente. Recolher os cacos agora e tentar remontar esse
quebra-cabeças será um trabalho hercúleo. O mesmo se pode usar para o futebol.
A recuperação do futebol brasileiro levará um bom tempo (tenham paciência para
festejar o hexa...) e tem um ingrediente mais sério ainda: como nos livrarmos,
primeiro, da incompetência e em segundo, como nos livrarmos dos bandidos que
tomaram de assalto a CBF. Exatamente como fizeram com o Páís...
Não
temos treinadores -– nenhum, na verdade -- que estejam atualizados, que conheçam bem o futebol moderno e
nem temos um mágico que nos faça retornar aos tempos em que os clubes formavam
craques, jogadores de futebol e não super atletas. Enquanto professores de
Educação Física mantiverem essa mentalidade de que um jogador de futebol é um
atleta, a coisa não vai andar. Sim, jogador de futebol é um atleta, mas ele
depende demais de sua criatividade, de sua malevolência, de sua elasticidade
para atingir os altos padrões. Os professores de Educação Física correm no
sentido contrário, tentando formar jogadores que consigam correr “180” minutos,
tal o preparo condicionado por eles. O problema é que uma partida dura apenas
90 minutos e o excesso de preparo, na maioria das vezes, tira do jogador o que
ele tem de mais importante, que é a criatividade. É discutível? Claro, mas os
grandes craques (com suas exceções) não são muito chegados a treinos
extenuantes. Enfim, só temos uma saída: dar tempo ao tempo e sonhar.
Final
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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quando esquece que está aposentado.
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