Este humilíssimo
merceeiro, às vezes questionado sobre a lambança de nome Brexit, tenta resumir
tudo num ‘tweet’.
História longa:
daria umas 400 páginas. De fato, uma briga interna no Partido Conservador entre
o ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, e o ex-Primeiro-Ministro, David
Cameron, uma das várias escaramuças, se eu não me engano, vindas da época de
Universidade de Oxford, traz em si o coração do imbróglio que levou ao
derretimento tudo o que se entendeu como política dentro do Reino Unido.
Com a escolha do
‘leave’ (“sair”, da União Europeia), os intelectuais brigaram com os menos
instruídos, os pobres passaram a odiar ainda mais os ricos, os jovens botaram a
culpa nos mais velhos.
“The Land of Confusion”, no melhor estilo Genesis.
Como se chega a
isso?! Super simples, caro(a) freguês(a): a arrogância de acharmos que nossos
excelentes procedimentos e maravilhosos pensamentos são o bastante para
convencer qualquer um a estar “... do lado do bem”.
Mas, afinal...
qual o lado do bem?! Qual o “lado certo da mesa”?!
Arrogância pura!
Os ‘de direita’ acham que vão salvar o mundo da grande ameaça esquerdista‘, os
‘de esquerda’ acham que sua retórica é suficiente para causar bem-estar a
todos, e ‘el pueblo’ que, de fato, não é nem de um lado, nem de outro, acaba
sempre por levar na tarraqueta a maior parte do tempo.
Convencer a
massa da população de que a visão corrente de mundo globalizado não é a pior
das ideias torna essa tarefa bastante ‘ardida’: a comunicação das vantagens,
pelo menos, precisa ser exata e indefectível. Sem ela (a comunicação), pouco a
pouco um mundo opressor e sem qualquer vantagem possível para todos acaba por
tomar seu lugar na lida diária com os problemas reais.
‘Id est’, não é
apenas uma persuasão: é preciso que as pessoas vejam a vantagem de ‘um mundo
globalizado’, ou ‘um bloco econômico-social’ (como a União Europeia). A tarefa
maior: fazê-las ver que a globalização é inclusiva.
Mas... de
fato... a globalização é inclusiva?
Se é, ainda não
deu as caras em vários lugares do mundo. Não parece ser, essa, a máxima. Nas
duas últimas décadas de sua possível instalação, provou-se incapaz de resolver
um problema crônico: o da pauperização. Nunca o mundo foi tão globalizado e tão
concentrador de renda, os ricos ficando trilhardários, os pobres passando cada
vez mais necessidade.
Tanto que ‘as
esquerdas’ ao redor do mundo estão sendo dizimadas com sua paupérrima abordagem
“progressista”: basta um moleque desmiolado de ‘você tubo’ abrir um canal e se
auto-proclamar “liberal”, ou ‘direita conservadora’ que toda a velha guarda
& militância da antiga ‘esquerda’ vai para o espaço em fração de segundos.
Utilizando as
mesmas táticas criadas pela própria ‘esquerda’, os ‘neo con’, uma nova direita
conservadora, pulverizam qualquer concorrência de não deixar pedra sobre pedra.
Coisa de louco! Xingamentos, “pancadaria”, argumentação parcial,
tendencionismo, as mesmas táticas da antiga ‘esquerda’, só que com “... a chave
invertida”.
Pois bem! Tanto
um lado quanto outro é mestre em partir para um debate sem antes destruir a
reputação de algum possível oponente. Ataques vis, pessoais... algo de
estarrecer. Tudo vale para botar abaixo de barata a reputação de qualquer um
que não pense igual.
Não precisa ser
nenhum ‘bidu’, gênio, para saber que esse tipo de abordagem arrebenta com
qualquer ânimo para a temperança. É nessa que entra a atual cultura da
“lacração” e o espaço para um bom debate fica arruinado. Todo mundo quer
“lacrar”, mas ninguém se dedica o bastante para a produção, quando necessário,
de um excelente ‘fôlego dissertativo’.
O aumento
exponencial de crimes como os vistos essa semana, o massacre da escola estadual
Raul Brasil, em Suzano, e as 49 mortes nas mesquitas em Christchurch, Nova
Zelândia, não são à toa. Acabou a conversa. E quando a conversa acaba, o tal
‘partir para a ignorância’ torna-se mandatório para a solução de problemas que
necessitem de alguma abordagem em torno da tolerância.
“Não podemos
tolerar mais!” é tudo o que atenta contra eventuais operações em favor da
globalização. Tal visão de mundo (a globalização) é extremamente tolerante em
seu alicerce porque colocar num mesmo bloco continental como a Europa, por
exemplo, as suas distinções de cultura, formação de povo e língua será sempre
uma tarefa de lidar com ‘o diferente’.
De repente,
vemos a faceta primordial do ‘ser humano’: o bichinho mais intolerante que se
possa imaginar. Até há gente ‘de bem’, mas sem a compreensão de que todo mundo
‘oscila’ boa parte do tempo, nem esse ‘bem’ consegue botar as coisas para
frente.
O resultado são
essas carnificinas testemunhadas ao longo dessa semana que passou. Se a
mercearia vai mal, a culpa é da desonestidade do meu concorrente que usa &
abusa de métodos ilícitos para roubar meus clientes, porém jamais de minha
parca capacidade de atender bem a clientela. Se não tenho emprego, ou trabalho,
a culpa é de um determinado segmento social que veio para roubar as vagas, mas
nunca de uma eventual precariedade na preparação para a ocupação de certa
função. Se minha vida sentimental está ruim a ponto de não arrumar um(a)
namorado(a), a culpa é dessa gente que só pensa em bens materiais, muito sexo
sem compromisso, nenhuma responsabilidade diante do sentimento envolvido,
todavia sem me ater às limitações pessoais do meu próprio comportamento quase
nada propício para a manutenção de um relacionamento decente & saudável.
A velha toada de
que “... a culpa sempre é do(a) outro(a)”.
Enfim, um mundo
que anda cansando, em vários aspectos. Quando alguém se cansa, termina por se
irritar (com quase tudo): um pequeno passo para que as abordagens &
comportamentos se tornem agressivos.
Desse ponto para
a violência, é um pulo.
Quando estamos
próximos do fim, somos incapazes de falar. Somos incapazes de ouvir a própria
voz, entender o que nós mesmos falamos. A incapacidade de resolver até mesmo
problemas antes corriqueiros se acumula. Vez e outra, estoura. No momento desse
“estouro”, a explosão. Silenciosa, sorrateira, ladeando com frequência a
péssima surpresa.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É autor de Areias Lunares
(à venda na Disqueria,
Av. Conselheiro Nébias
quase esquina com o Oceano Atlântico)
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
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