Há
pouco mais de um ano, no dia 12 de Junho de 2019, LEVA UM CASAQUINHO
interrompeu suas atividades. Para mim, como editor, estava difícil, quase impossível seguir adiante -- a publicação estava começando a colecionar mortos entre seus colaboradores, e isso estava me incomodando demais. Nossa primeira baixa foi o querido Carlos Eduardo Motta, o Brizolinha, que todas as semanas enviava para LEVA
UM CASAQUINHO suas pensatas e devaneios sobre vida e arte redigidos de seu observatório: sua banca de livros usados no Gonzaga, hoje administrada por seu filho. A segunda baixa foi o igualmente querido
Alvaro Carvalho Jr, jornalista tarimbadíssimo, que teve bruscamente interrompido o melhor momento de
sua aposentadoria ao lado de sua mulher, seus filhos e seus netos em sua casa na mítica Vila Belmiro. Suportei bravamente a perda desses dois amigos. Mas a terceira baixa do time de LEVA UM CASAQUINHO veio de forma devastadora. A morte do queridíssimo amigo (e dublê de mentor) Márcio Calafiori
me deixou completamente sem rumo. A criação de LEVA UM CASAQUINHO havia sido muito
orientada por ele, que estava recém-aposentado e com tempo de sobra na ocasião. Márcio me indicou colaboradores e foi fundamental para dar uma cara
e um Norte para o projeto. Mesmo sem colaborar com textos nos dois últimos anos
de LEVA UM CASAQUINHO, já que estava ocupado demais preparando um livro com
textos de seu pai, suas dicas e conselhos continuaram chegando, e eram sempre muito bem-vindos. Mas então, de repente, Márcio se calou. E o chão sumiu. Não parecia fazer sentido seguir em frente sem ele.
Quatorze meses se passaram, e então, algumas semanas atrás, lá estava eu novamente desolado, agora com a
morte de um grande amigo de mais de 50 anos: o agitador cultural e teatrólogo Alcides
Mesquita, o Mesquitinha. Saudoso, comecei a procurar por textos de conversas
que trocávamos pelo Messenger e pelo WhatsApp. Para minha surpresa, a maioria delas dizia respeito a LEVA UM CASAQUINHO, do qual Mesquitinha era leitor entusiasmado e pauteiro
eventual. Nossas conversas, sempre carinhosas, raramente tratavam de assuntos
pessoais. Focavam em questões culturais que ele julgava muito relevantes e que gostaria
que virassem matérias, se possível. E quando viravam, ele era sempre o primeiro a disparar os
links para sua extensa lista de amigos, aqui e em São Paulo, orgulhoso.
Mesquitinha sempre foi um
apaixonado pela Cultura. Respirava Arte 24 horas por dia. Trabalhou pelas Artes
até seu último dia de vida. Faz uma falta dos diabos por aqui. Ao sair de cena, deixou em mim um rastro curioso. Fez com que me sentisse egoísta e irresponsável por ter matado um projeto
cultural sedimentado que, por mais modesto que fosse, estava fazendo falta nesse momento
crítico e desolador em que vivemos -- de Desmonte Cultural pelo Governo Federal, de
uma Pandemia Gravíssima inviabilizando manifestações artísticas presenciais, de
toda a Classe Artística e todos os Produtores Culturais repensando suas atividades
para resistir às adversidades e sobreviver a tantos infortúnios.
Em homenagem a esse abnegado incansável sempre de coração aberto, que circulava pela cidade em sua bicicleta, e que mantinha seu sorriso aceso mesmo nos momentos em que sentia que o câncer estava começando a ganhar o jogo, LEVA UM
CASAQUINHO está de volta a partir de hoje. Para resistir. Para agitar. Para fazer alguma diferença. Para tentar ser relevante de alguma maneira.
Desculpa o sumiço, pessoal.
(Chico Marques)
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