"DEPOIS
DA TEMPESTADE", de Hirokazu Kore-Eda, tem como personagem central Ryota
(Hiroshi Abe), um escritor que não consegue sobreviver economicamente, com
compulsão por apostas, sempre endividado, que tem na atividade de detetive o
seu ganha pão. Separado de sua esposa, pai de um filho, que já se cansaram de
tantas promessas feitas por ele. O principal objetivo da vida de Ryota, por
incrível que pareça, é reatar os laços com a sua família. A ambição de
"botar a vida nos trilhos" por vezes parece ser irreal, mas está longe
disso. E é justamente nessas incongruencias de todos nós, no cotidiano sem
grandes sobressaltos, que o cinema do diretor Kore-Eda se debruça. Não há
grandes digressões filosóficas, tampoucos cenas céleres, repletas de ação. Seu
cinema analisa como se ele tivesse um microscópio e ampliasse a simplicidade da
vida de um homem comum. Ryota se pergunta numa certa altura a razão de sua vida
não ter dado certo. Kore-Eda não dá respostas. A personagem mais bela deste
filme é a mãe de Ryota, mostrada nos seus afazeres domésticos no seu
apartamento na periferia de Toquio. Uma senhora viúva representante, com gestos
de uma dignidade ímpar. Como todos sabem, o Japão é assolado por tornados com
frequencia, e o título do filme é uma alusão a esse fato. Mas de forma simbólica,
pois o que Ryota almeja é mudar a sua vida depois da tormenta em que esta se
tornou. Uma pequena obra-prima de um grande diretor. "DEPOIS DA
TEMPESTADE", de Hirokazu Kore-Eda, pode ser encontrado na Vídeo Paradiso.
O diretor polonês Jan Komasa viu seu "REDE DE ÓDIO" premiado no festival Tribeca, nos EUA, como melhor filme estrangeiro, versando sobre um tema bastante atual e relevante, particularmente no Brasil atual. A narrativa segue a vida de Tomasz (Maciej Musialowski), um estudante de direito da universidade de Varsóvia que é expulso da mesma por ter plagiado num de seus trabalhos. Importante notar a origem humilde de Tomasz, nascido e criado numa aldeia da Polonia, que teve a "sorte" de uma família de mecenas bancar os seus estudos. E é a esta família da elite financeira e intelectual polonesa, os Krazuckas, que Tomasz deverá se explicar. Importante notar que a família é também esnobe, olhando as classes operária e de trabalhadores comuns de maneira pretensiosa, do alto para baixo. Tomasz é apaixonado pela filha mais nova da família Krasucka, Gabi, que ao contrário da irmã que tem um desempenho academico elogiável, ainda tem uma dependencia de drogas. Impedido de se aproximar de Gabi, execrado pelos Krasuckas, Tomasz consegue uma vaga numa firma especializada em derrubar mitos da internet, claro que de acordo com os interesses financeiros de um interessado. Em suma, Tomasz mostra sua face sociopática ao se tornar um mestre em aniquilar pessoas através de fake news, e testemunhamos todos os mecanismos sórdidos usados pelo submundo das redes sociais, onde correm solta a xenofobia, o belicismo, as críticas mais vis que almejam destruir as pessoas e a "alma" da democracia e das pessoas de bem. O poder que pessoas com esse poder nas mãos têm, movidas pelos mais diversos tipos de frustrações psicológicas e/ou sociais, pode ser devastador. Vide as últimas eleições nos EUA e no nosso país varonil. Grande filme. "REDE DE ÓDIO", de Jan Komasa, está a disposição no streaming da Netflix.
No comments:
Post a Comment