Tuesday, August 11, 2015

NATHANAEL WEST ESTÁ DE VOLTA ÀS LIVRARIAS COM "O DIA DO GAFANHOTO"



Nathanael West (1903-1940) é um dos novelistas mais subestimados dos Estados Unidos. Digo novelista, e não romancista, porque seus quatro romances são peças relativamente curtas, mais de acordo com o conceito italiano da "novella" -- nada a ver com as nossas novelas --, usado com frequência para definir contos um pouco mais longos, que não pretendem ter a densidade exigida por um romance, mas que se situam num meio termo um tanto quanto incômodo entre esses dois formatos literários.


Seu livro mais famoso, "O Ano Do Gafanhoto", já em domínio público, está chegando às livrarias em uma nova e -- dizem, não vi ainda -- bem cuidada edição pela Editora Carambaia, com uma nova tradução -- de Alcebíades Diniz -- e alguns bonus interessantes: contos e poemas publicados em revistas da época que nunca haviam sido reunidos em livro. No entanto, confesso que o preço, R$72,00, me pareceu um tanto quanto salgado para uma brochura de 350 páginas com uma obra em domínio público.   

"O Dia do Gafanhoto", para quem não sabe, já teve duas edições aqui no Brasil. 
A primeira, de 1975, pela Editora Record, lançada no vácuo do sucesso da versão cinematográfica dirigida por John Schlesinger, é um verdadeiro horror. Foi traduzida pelo onipresente e burocrático A. B. Pinheiro de Lemos -- na verdade, um escritório de traduções que funcionava na Avenida Rio Branco, no Rio, cujos funcionários traduziam de foma impessoal e a toque de caixa praticamente tudo o que a Editora Record adquiria em Frankfurt e publicava por aqui na época. 
Já a segunda tradução foi encomendada pela Editora Brasiliense a Paulo Henriques Brito em meados dos Anos 80, e é infinitamente superior à anterior. Veio incluída no mesmo volume que trazia "Miss Corações Solitários", outra "novella" extremamente interessante do mesmo autor. Em princípio, não vejo razão para essa nova tradução de "O Dia do Gafanhoto" existir, na medida em que a tradução anterior era tão boa. Presumo que ela tenha sido encomendada mais por razões comerciais do que artísticas.
Estamos em Los Angeles nos anos 30. Enquanto a economia norte-americana sofre as consequências do crack-up da Bolsa de Nova York de 1929, Hollywood atrai um grande contingente de pessoas em busca de fama e sucesso no mundo do cinema. "O Dia do Gafanhoto" apresenta uma galeria de personagens que circula pelos estúdios, mansões de milionários, bordéis, e sets de filmagem da cidade. Entre eles, a trínca formada por Tod Hackett -- um jovem artista que ganha a vida desenhando figurinos e cenários --, Faye Greener -- uma bela dançarina aspirante ao estrelato -- e Homer Simpson -- um contador que se mudou para a Costa Oeste para se recuperar de uma pneumonia. 

Sim, você leu certo: Homer Simpson. Mas não adianta procurar por maiores similaridades entre ele e o Chefe de Família devorador de donuts do desenho animado. A única coisa que os dois personagens tem em comum é o caráter enviesado. O Homer de Nathanael West não é um loser divertido. Muito pelo contrário: é apenas uma figura patética, assim como a maioria dos personagens que povoam "O Dia do Gafanhoto". "Típicos sujeitos que vão para a Califórnia para morrer", como descreve o autor.
Publicado pela primeira vez em 1939, "O Dia do Gafanhoto" permanece como o mais cruel e mais sarcástico retrato dos bastidores de Hollywood durante a Grande Depressão. Ao lado de John Fante, outro grande autor subestimado da Los Angeles daquele mesmo período, Nathanael West mergulha fundo na alma inexistente daquele "universo de fachada" que se apresenta como "o sonho americano" para uma nação combalida e sem perspectivas.

Vale a pena ler "O Dia do Gafanhoto". Mas se eu fosse você, ao invés de pagar caro nessa nova edição recém-lançada, procuraria na Estante Virtual ou no Livronauta pela edição da Brasiliense publicada nos Anos 80. É fácil de encontrar. E não vai custar mais do que R$10 reais. 

Considerando que estamos vivendo uma crise que promete ser não muito diferente da que os americanos viviam nas páginas de "O Dia do Gafanhoto", não deixa de ser uma atitude prudente.




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