Ser livreiro é levar um choque de humildade. Praticamente moramos nas nossas livrarias, e recebemos um recado vindo das prateleiras.
Muitos dos livros em nossas estantes não serão lidos... e então me vem este sentimento: o que nos rodeia é bem maior do que nós.
E junto da humildade vem a descontração, “se não há remédio, remediado está”, acho que é por aí o ditado.
Nas minhas leituras tomo dois caminhos. Os obrigatórios e os que dão na veneta.
Os primeiros são dos autores com os quais vou trabalhar, mediando papos com os leitores e encontros seguidos de sessões de autógrafos, ou ainda os originais que recebo para publicação.
Nesta coluna tento pensar alto algumas questões que me encasquetam; espero que algumas delas sejam as vossas.
Em outras oportunidades escrevo um caderno de memórias vividas num balcão, com “causos” e passagens de quase duas décadas conversando com grandes figuras, os leitores.
Sou neto de árabes e costumo dizer que aplico a filosofia dos Armarinhos.
Quando um cliente adentrava aqueles secos e molhados dos meus avós, com alguma mercadoria eles saiam, o sentimento de sobrevivência do imigrante dava uma força na criatividade, e lá seguiam os clientes com uma vassoura ou um chinelo de dedo.
No nosso caso gosto de indicar leituras sem compromisso, me lembrando da iniciativa dos antigos, donos de armarinhos que ilustram a minha infância.
Bem, falávamos da humildade de sermos muito menores do que o que nos rodeia, a fila dos livros intocados por nós, livreiros.
Muitas vezes o leitor nos orienta, é um iniciado no assunto do seu interesse.
Cabe ao livreiro ser um bom ouvinte.
A partir do primeiro papo começam os passos de uma dança hesitante, estudada, sem os pisões nos pés.
Lutemos o judô da ficção.
Claro que esta técnica só funciona com a presença do leitor, portanto cuidemos bem deles.
Na próxima coluna vou contar como foi o meu começo, o texto terá o título "Desorientação vocacional".
Até lá e voltem sempre! Obrigado pela preferência!
José Luiz Tahan, 41, é livreiro e editor.
Dono da Realejo Livros e Edições em Santos, SP,
gosta de ser chamado de "livreiro",
pois acha mais específico do que
"empresário" ou "comerciante",
ainda mais porque gosta de pensar o livro
ao mesmo tempo como obra de arte e produto.
Nas horas vagas, transforma-se
no blues-shouter Big Joe Tahan.
(a ilustração acima é do Seri)
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