Quem diria que "Noites de Cabíria", belíssimo drama de Federico Fellini, iria virar um grande musical e chegar à Broadway com a bênção de seu criador?
"Sweet Charity" fez sua estreia nos palcos de Nova York em 1966, numa adaptação engenhosa do grande teatrólogo Neil Simon, com música de Cy Coleman e Dorothy Fields, e direção e coreografia de Robert Fosse -- com a fantástica Gwen Verdon, mulher de Fosse, no papel principal.
Foi um sucesso instantâneo.
Para situá-la melhor na noite da cidade de Nova York, a Cabíria prostituta do filme italiano deu lugar a Charity Hope, uma dançarina de boates com a mesma alma ingênua e dadivosa concebida por Federico Fellini.
E então, após mais de 600 apresentações e 12 indicações ao Tony, "Sweet Charity" foi finalmente negociado com Hollywood e ganhou uma festejada versão cinematográfica.
Para o filme, os produtores apostaram na capacidade de Robert Fosse de cuidar da direção.
Fosse não era nenhum estranho em Hollywood, já tinha participado de diversas produções de cinema como coreógrafo, mas essa seria sua primeira experiência como diretor.
Com sua amiga multitalentosa Shirley MacLaine no papel título, Fosse não teve maiores problemas com a produção.
Simplesmente confiou no talento dela, deixando que conduzisse sua personagem, e tratou de se preocupar com outros aspectos do filme.
"Sweet Charity" conta a história de Charity Hope Valentine, uma dançarina da noite absolutamente ingênua que sonha em encontrar o verdadeiro amor, não cansa de procurar em momento algum, e não pára de cair em roubadas o tempo todo.
Então, um belo dia, ela conhece Oscar Lindquist (John McMartin) e se apaixona perdidamente, acreditando que dessa vez vai dar tudo certo.
Quando descobre o que ele realmente faz da vida, seu mundo ameaça desabar.
Edith Head assinou os figurinos magníficos, que exploram a moda dos anos 60, com cores muito intensas, que valorizam o espaço das cenas na tela grande.
No entanto, esse impacto só acontece plenamente quando o filme é exibido numa tela de 70mm.
Em telas menores, muito se perde, infelizmente.
Bob Fosse, como de hábito, coreografou as cenas musicais inserindo ousadias formais inusitadas e erotizando as coreografias no limite do permitido pelos códigos vigentes na época.
E entre erros e acertos, o saldo final é bastante positivo a favor de Fosse.
Nada mal para um estreante.
Mas apesar de Robert Fosse ter-se revelado logo de cara um diretor tão ousado quanto o Robert Fosse coreógrafo, o resultado final de "Sweet Charity" acaba soando um pouco desconjuntado.
É que as cenas musicais são tão impactantes visualmente que acabam fazendo das cenas dramáticas escritas por Neil Simon -- que funcionavam muito bem no palco -- meros compassos de espera até o próximo número musical.
Fica no ar a dúvida se a responsabilidade por essas falhas é de Fosse ou se foi barbeiragem dos editores responsáveis pelo final cut de "Sweet Charity" -- e como Fosse morreu antes do advento do DVD e da moda dos "director's cuts", vamos continuar sem saber.
Shirley MacLaine domina o filme com o seu carisma e seus múltiplos talentos, mas mesmo assim os 150 minutos de duração do filme acabam demorando um pouco a passar, o que é um pecado mortal para um filme musical.
Em consequência disso, a grande renascimento do filme musical que "Sweet Charity" pretendia promover acabou tendo que esperar um pouco -- mais precisamente até 1972, quando Fosse voltou à carga com o soberbo "Cabaret", e depois em 1979, com sua obra-prima "All That Jazz", baseado livremente em "Fellini 8 1/2".
Se "Sweet Charity" resiste relativamente 45 anos depois de ter sido realizado, é principalmente graças à performance de Shirley, que vai na mesma sintonia dramática de Giuletta Masina em "Noites de Cabíria", só que carregando um pouco mais nas cores de sua caracterização, já que estamos num filme musical.
Ela abraça a personagem de uma maneira tão intensa e fascinante que fica difícil não ficar encantado com sua atitude artística.
Vai ser muito difícil encontrar em qualquer outro musical americano uma atriz trabalhando no limite como Shirley faz aqui.
É ela quem torna "Sweet Charity" um filme que, 46 anos depois de realizado, com suas falhas ainda mais acentuadas com o passar do tempo, merece (e muito) ser visto com carinho e atenção.
É que as cenas musicais são tão impactantes visualmente que acabam fazendo das cenas dramáticas escritas por Neil Simon -- que funcionavam muito bem no palco -- meros compassos de espera até o próximo número musical.
Fica no ar a dúvida se a responsabilidade por essas falhas é de Fosse ou se foi barbeiragem dos editores responsáveis pelo final cut de "Sweet Charity" -- e como Fosse morreu antes do advento do DVD e da moda dos "director's cuts", vamos continuar sem saber.
Shirley MacLaine domina o filme com o seu carisma e seus múltiplos talentos, mas mesmo assim os 150 minutos de duração do filme acabam demorando um pouco a passar, o que é um pecado mortal para um filme musical.
Em consequência disso, a grande renascimento do filme musical que "Sweet Charity" pretendia promover acabou tendo que esperar um pouco -- mais precisamente até 1972, quando Fosse voltou à carga com o soberbo "Cabaret", e depois em 1979, com sua obra-prima "All That Jazz", baseado livremente em "Fellini 8 1/2".
Se "Sweet Charity" resiste relativamente 45 anos depois de ter sido realizado, é principalmente graças à performance de Shirley, que vai na mesma sintonia dramática de Giuletta Masina em "Noites de Cabíria", só que carregando um pouco mais nas cores de sua caracterização, já que estamos num filme musical.
Ela abraça a personagem de uma maneira tão intensa e fascinante que fica difícil não ficar encantado com sua atitude artística.
Vai ser muito difícil encontrar em qualquer outro musical americano uma atriz trabalhando no limite como Shirley faz aqui.
É ela quem torna "Sweet Charity" um filme que, 46 anos depois de realizado, com suas falhas ainda mais acentuadas com o passar do tempo, merece (e muito) ser visto com carinho e atenção.
CURIOSIDADES
A Academia indicou "Sweet Charity" para três categorias: Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora. Mas o filme não recebeu indicações para as categorias mais importantes.
A Academia indicou "Sweet Charity" para três categorias: Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora. Mas o filme não recebeu indicações para as categorias mais importantes.
Chegaram a rodar um final feliz para "Sweet Charity", que não foi usado nos cinemas, mas foi incluído como bonus em algumas edições do filme em DVD. Fosse lutou muito para manter o final original, que mostra Charity abandonada pelo amante, mas ainda com esperança na vida e no amor. Ou seja: nem tão desalentador quanto o final do filme de Fellini, nem tão alegrinho quanto queriam os produtores de "Sweet Charity", que não conseguiam aceitar a idéia de um musical sem um final feliz.
Quem reclama do título brasileiro "Charity, meu Amor", é porque não conhece o título esdrúxulo que o filme ganhou em Portugal: "A Rapariga Que Queria Ser Amada"
Quem reclama do título brasileiro "Charity, meu Amor", é porque não conhece o título esdrúxulo que o filme ganhou em Portugal: "A Rapariga Que Queria Ser Amada"
CHARITY, MEU AMOR
(Sweet Charity, 1969, 149 minutos)
Direção
Robert Fosse
Coreografia
Robert Fosse
Roteiro
Peter Stone
Neil Simon
Argumento
Federico Fellini
Música
Cy Coleman
Dorothy Fields
Elenco
Shirley MacLaine
John McMartin
Ricardo Montalban
Sammy Davis Jr
Chita Rivera
Paula Kelly
Quarta - 14 de Outubro - 19 horas
OFICINA CULTURAL PAGU
Rua Espírito Santo, 17
quase esquina com Av. Ana Costa
Campo Grande, Santos SP
Telefone: (13) 3219-2036
Ao final da exibição,
um breve debate com os curadores
do Cineclube Pagu:
Carlos Cirne e Marcelo Pestana
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