A luz irrompe onde nenhum sol brilha;
onde não se agita qualquer mar, as águas do coração impelem as suas marés;
e, destruídos fantasmas com o fulgor dos vermes nos cabelos,
os objetos da luz
atravessam a carne onde nenhuma carne reveste os ossos.
Nas coxas, uma candeia
aquece as sementes da juventude e queima as da velhice;
onde não vibra qualquer semente, arredonda-se com o seu esplendor e junto das estrelas o fruto do homem;
onde a cera já não existe, apenas vemos o pavio de uma candeia.
A manhã irrompe atrás dos olhos;
e da cabeça aos pés desliza tempestuoso o sangue como se fosse um mar;
sem ter defesa ou protecção, as nascentes do céu ultrapassam os seus limites
ao pressagiar num sorriso o óleo das lágrimas.
A noite, como uma lua de asfalto,
cerca na sua órbita os limites dos mundos;
o dia brilha nos ossos;
onde não existe o frio, vem a tempestade desoladora abrir
as vestes do inverno;
a teia da primavera desprende-se nas pálpebras.
A luz irrompe em lugares estranhos,
nos espinhos do pensamento onde o seu aroma paira sob a chuva;
quando a lógica morre,
o segredo da terra cresce em cada olhar
e o sangue precipita-se no sol;
sobre os campos mais desolados, detém-se o amanhecer.
(tradução: Fernando Guimarães)
Dylan Marlais Thomas nasceu em Swansea,
em Gales, no dia 27 de outubro de 1914.
É um dos maiores poetas do século 20
em língua inglesa,
juntamente com William Carlos Williams,
Wallace Stevens, T.S. Eliot e W.B. Yeats.
Dylan Thomas teve uma vida muito curta,
devido a exagerada boemia que o levou
ao fim de seus dias aos 39 anos.
Mas teve tempo de nos deixar um legado poético
que o tornou um dos maiores influenciadores
de toda uma geração de jovens escritores.
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