por
Manuel Mann, de Lisboa
Winston
Churchill gostava de cinema.
Não
só dos filmes cómicos de Chaplin, mas também de melodramas como “Vitória
Negra”, com Bette Davis, de grandes produções históricas americanas e inglesas
como “E Tudo o Vento Levou” ou “A Batalha de Trafalgar”, com Laurence Olivier
no papel de lorde Nelson, e de “westerns”.
Mesmo
apesar do seu colossal ego, Churchill não deveria fazer ideia que, no futuro,
viria a ser interpretado, no cinema e também na televisão, por alguns dos
maiores e mais distintos actores britânicos: Richard Burton, Albert Finney,
Michael Gambon, Robert Hardy, Brian Cox, Bob Hoskins ou Timothy West.
E
ter-lhe-ia agradado saber que todos esses filmes, telefilmes e séries seriam
apologéticos, elogiosos, lisonjeiros, no essencial conformes ao cliché consagrado
do “velho buldogue” que teve a coragem de enfrentar Hitler quando o resto da
Europa se submetia a ele ou se agachava.
Se
queremos encontrar uma visão crítica e contrária à visão admirativa e icónica
de Winston Churchill – sobretudo do Winston Churchill no poder durante a II
Guerra Mundial — não é no cinema que a devemos procurar, mas nas obras de
historiadores e autores como John Charmley, Patrick Buchanan, David Irving ou
Peregrine Worsthorne, entre outros.
A
demonstrá-lo mais uma vez, e de forma edificante e grandiloquente, está o novo
filme sobre Churchill, “O Destino de Uma Nação”, de Joe Wright.
Ele
acompanha a sua nomeação para primeiro-ministro, em Maio de 1940, após a
demissão de Neville Chamberlain, e os dias em que Churchill (Gary Oldman) teve
que remar contra a maré do seu próprio partido, cujos membros mais influentes
não o achavam o homem ideal para o lugar face ao avanço Europa adentro da
máquina de guerra alemã, enquanto lidava com a evacuação das tropas inglesas de
França, amontoadas em Dunquerque.
A
fita é uma amálgama empolada e laboriosa de factos históricos, deturpações da
realidade, simplificações dramáticas e fantasias absurdas (a certa altura,
Wright põe Churchill a sair do carro e, sem comitiva nem segurança, a apanhar o
Metro – coisa que nunca fez na sua vida -, onde sonda o povo anónimo sobre se
deve discutir a paz com Hitler ou enfrentá-lo e tem uma resposta unânime pelo
confronto– isto quando parte considerável da opinião pública britânica, e não
só da classe política, torcia o nariz à guerra), ora dando uma no cravo da
verdade factual, ora outra na ferradura da sua distorção (por exemplo, o
primeiro-ministro não estava sozinho, no Gabinete de Guerra, na sua oposição a
uma negociação com a Alemanha).
Se
a invenção de uma secretária particular jovem, bonita e sensível (Lily James)
se aceita para fins de “humanização” de Churchill, já a promiscuidade entre
verdade e ficção no argumento (de Anthony McCarten, que já em “A Teoria de
Tudo” tomou liberdades com a vida intima de Stephen Hawking) faz de “O Destino de Uma Nação” um filme pouco fiável, em que o rigor histórico é sacrificado às
simplificações do entretenimento de massas.
O
estilo rebuscado e bombástico de Joe Wright, que usa e abusa do “ponto de vista
de Deus”, quer filme um bombardeamento alemão, quer a Câmara dos Comuns, e
recorre a a uma banda sonora a condizer, também não ajuda.
É
como se ele nos estivesse constantemente a lembrar, por imagens solenemente
iluminadas e notas musicais grandíloquas, que estamos a ver HISTÓRIA feita por
UM GRANDE HOMEM, em maiúsculas bem soletradas, no caso de não o percebermos
bem.
O DESTINO DE UMA NAÇÃO
(Darkest Hour, 2017, 125 minutos)
Direção
Joe Wright
Roteiro
Anthony McCarten
Elenco
Gary Oldman
Kristen Scott Thomas
Stephen Dillani
Lily James
Ben Mendelsohn
Cotação
em cartaz no Pátio Iporanga 4
e no Cinemark Praiamar Shopping
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