Madrid,
13 de Maio de 2018
¡Hola, amigos! ¿Qué tal todo?
Pues aquí estamos…
Ui, que essa carta deveria ser em português… mas
depois de quase 13 anos vivendo e falando outro idioma constantemente, você
fica meio desorientado, sem saber o que dizer, que palavra usar. Sim, quase 13
anos aquí – faço 13 no dia 28 de Julho – uma coisa da qual me orgulho muito é
lembrar das datas, isso pode ser uma virtude ou um defeito – principalmente
quando você lembra do aniversário de um antigo amor… Mas enfim, na minha
primeira carta, não vou me pôr nostálgica…
São as 9 da noite e ainda é de dia. Em meados de
junho/ começo de julho só vai anoitecer lá pelas 10:30, no auge do verão. Mas
agora estamos na Primavera, supostamente a estação mais bonita do ano, a estação
das flores, do amor, do pólen flutuando e fazendo a alegria dos alérgicos. Pessoalmente
a Primavera é um horror pra mim. É quando você morre de frio de manhã, ressuscita
à tarde com um calor tremendo e volta a morrer de frio à noite.
Hoje faltam exatamente 13 dias para o meu 40º
aniversário. É curioso porque há quase 13 anos eu vim morar nessa cidade – que
a princípio eu não queria, mas que depois, como eu sempre digo, aprendi a
gostar... e às vezes até amar. Como eu vim parar aqui já é outra história que
não me apetece contar agora, quem sabe em uma próxima carta.
Injustamente Madrid é pouco lembrada quando se fala da
Espanha. Todo mundo só lembra da festiva Barcelona. Todos deveriam, pelo menos
uma vez vida, vir aqui. Essa Madrid dos filmes do Almodóvar e da “Movida
Madrileña” (o principal e colorido movimento artístico depois da abertura
política, que abrangia de tudo, desde o cinema às artes plásticas, passando
pela fotografia e a música); a Madrid dos clichês de que todo espanhol dança
flamenco e de que todos são simpáticos (talvez a grande mentira dos
estereótipos). A Madrid que cheira a charuto e a cigarrilha – esse foi o cheiro
que marcou a minha primeira visita aqui num longínquo julho de 1985.
Madrid é uma cidade austera, das senhoras elegantes
com seus casacos de pele e senhores de terno que tomam um vermute nos jardins
do Hotel Ritz. Mas também é uma cidade que teve a sua época barra-pesada com o
boom da heroína que assolou a Europa nos anos 80/90. Ainda hoje podemos ver
pelos bairros não turísticos (como o meu, por exemplo), os zombies daquela
época. Tanto faz se é homem ou mulher, a magreza extrema, os dentes caídos, o
cigarro pendurado na boca e uma latinha (ou uma litrona – uma garrafa de 1
litro) de cerveja, em seus grupos, sempre jogando conversa fora nas praças.
Austeridade à parte, Madrid é uma cidade pulsante,
sempre viva e alerta as 24 horas. E isso não é um clichê. É verdade. Logo
quando eu vim morar aqui saí uma noite e na volta pra casa a pé às 3 da manhã,
a rua estava lotada. Depois na segunda de manhã passei pela mesma rua às 11, e
surpresa: a rua praticamente vazia. Tinha mais movimento de madrugada que
durante o dia. É uma cidade onde você pode escolher entre uma exposição do
Warhol, do Alphonse Mucha, do Di Chirico, tudo rolando ao mesmo tempo e não
saber a qual ir e no final não ir à nenhuma (uma vergonha, mas foi o meu caso).
De resto, depois de dois casamentos fracassados, vivo
sozinha (bom, quase, com dois gatos e uma chihuahua), a minha vida se resume em
ir a trabalhar – oohh sou uma working girl! Às vezes me sinto como a Melanie
Griffith naquele filme – e em me divertir o máximo que eu puder. Seja na noite,
em casa, curtindo um som ou tomando um vermute no bar galego do meu bairro, o
Faustino – onde os garçons já me conhecem e quando chego me dizem: “-¡ole esa rubia!”. E moro num bairro
onde a gentrifiação ainda não chegou (esse é o grande problema atual do centro
da cidade), chamado Valdeacederas, no distrito de Tetuán, no norte da cidade.
Se comparamos com São Paulo, seria como morar em Santana, por exemplo. É um
bairro notavelmente de imigrantes, antes latinos e agora filipinos. Às vezes
parece que eu estou no set de Apocalypse
Now. Mas vale a pena, porque eu moro num apartamento parecido ao do Al
Pacino em Serpico. Bom, chega de
comparações com o cinema.
Bueno,
amigos, creo que, de momento, eso es todo. En breve tendréis más noticias mías…
os iré contando un poco más de la vida, de las cosas, de las costumbres de este
lugar tan complejo y al mismo tiempo tan acogedor. Espero no haber sido muy
aburrida en esta primera carta. Ah, y muchas gracias, ¡Chico! ¡Ya sabes,
siempre un placer!
Un
beso a todos y hasta pronto,
Juliana Rosano
(ou La Juli,
como me chamam aqui)
Juliana Rosano nasceu em Santos SP em 1978,
e vive na Espanha há alguns anos.
Novas "Cartas Desde Madri" surgirão por aqui
ao longo das próximas semanas.
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