Doria
Pagland chegou à catedral do Palácio de Windsor pomposamente acompanhada de sua
filha, Meghan Markle, num belíssimo Rolls Royce que pertence ao Império
Britânito. Esse foi o início do casório de Meghan com o principe Harry, o mais
jovem e disputado varão da realeza européia e que se entregou a uma plebéia
divorciada, afro-descendente e ex-atriz. Já no casamento, Doria sentou-se num
lugar privilegiado para assistir à cerimônia e acompanhar o final do conto de
fadas que sua filha estava estrelando, como uma daquelas séries que ela fazia
para a TV americana até alguns meses atrás.
Fica
uma pergunta: será que Doria tem conhecimento da importância do Império
Britânico? Sua filha, com certeza, já sabe de tudo. Mas ela, que durante a
cerimônia ficou quieta em seu canto demonstrando apenas emoção e se permitindo
algumas lágrimas fortuitas, mais parecia um peixe fora d’água, deslocada, quase
sem graça, apesar de manter uma postura elegante e sem abrir mão de sua
cultura: mostrava orgulhosa um piercing no nariz e dreads nos cabelos que
ficaram um pouco sem graça com a boina que usou para complementar uma
vestimenta elegante e despojada.
O
único personagem que ainda tentou socializar com Doria foi o príncipe Charles,
o improvável Rei da Inglaterra e pai do noivo. Simpático e sem graça, tentou por
uma duas ou três vezes uma conversa com Doria que, talvez intimidada, peferiu
responder com sorrisos elegantes e dispersivos. Mesmo na saída da catedral,
Charles procurou ser elegante, mas a reciprocidade não foi verdadeira. Apenas
educação e mais um sorriso protocolar. Depois disso, Doria saiu de cena e
ninguém mais falou de seu nome. Foi como se ela tivessa se despedido de todos e
ido embora para seu hotel ou para um dos muitos palácios que a familia real
mantem em solo britânico. Ela foi a única pessoa da família de Meagan que
compareceu ao casamento.
Mas
o que ela real talvez não saiba é a importância ou o tamanho do Império
Britânico. O Commonwealth of Nations é formado por 53 países, nem todos de
língua inglesa, totalmente independentes, mas que prestam louvor e adoração à
uma só rainha: Elizabeth II. Para se ter uma boa ideia da importância desse
Império, basta citar que na Organição das Nações Unidas, existem 193 países
cadastrados; FIFA tem mais, 209; o Comitê Olímpico Internacional, 204.
Portanto, em qualquer das situações, fica claro que pouco mais de 1\4 dos
países do mundo fazem parte do Império Britânico. Não é mole não...
Todos
esses países tem vida própria, administração independente mas, quando
participam de Olimpíada, Campeonato Mundial de Futebol ou de qualquer outro
acontecmento político, ambiental fazem
questão de levar suas bandeiras que estampam, orgulhosas, o símbolo do Império.
Se considerarmos que esses países, 53, produzem e consomem e que trocam figurinhas
entre sí, poderíamos imaginar que viveriam muito bem sem o resto do mundo.
Assim, o império britânico que já vem por mais de 1000 anos é o que se pode
charmar de um sucesso, apesar de Reis e Rainhas, que no nosso conceito
republicano, apenas façam parte dos livros de histórias fantásticas que
contamos para nossos filhos quando pequenos.
Mas
Elizabeth II é o que se pode chamar de uma mulher poderosa e que tem apenas um
ponto fraco: adora suas roupas com cor de marca texto, o que ficou comprovado
no casamento do neto. Todo esse prestígio vem dos tempos da II Grande Guerra,
quando pilotou ambulâncias pelos escombros de Londres enquanto os alemães
despejavam suas aterrorizantes V-1 e depois as V-2 indiscriminadamente,
atingindo bairros e matando milhares de civis. A então princesa negou-se, como
seu pai, a se refugiar no Interior da Inglaterra para preservar a Família Real
e acabou se transformando numa heroina quase juvenil de tão jovem. Ficou
marcada e seus súditos a adoram, como adoram seus netos. Para tentar
explicar tal fenômeno, os políticos
ingleses tem uma frase padrão:” Os primeiros ministros passam, deputados e
políticos passam, mas o Império continua”.
Agora,
com o casamento de Harry, mais uma vez o Império mostrou que sabe se
transformar e caminhar a passos largos para a modernidade. Além das origens
completamente incorretas de Meghan (Orleans e Bragança, da Casa Imperial Brasileira,
condenou a escolha do príncipe. Devia ter ficado calado), todo o cerimonial
teve significados e símbolos claros que direcionam novos tempos. Um coral gospel
(maravilhoso!); muito mais famosos do que nobres entre os convidados; o papel
discreto da Rainha Elizabeth II sinalizando claramente que a festa era dos
noivos; o simples papel de William, irmão de Harry e futuro Rei, que
comportou-se como um padrinho mesmo e só. Claro, Kate e suas crianças foram um
destaque mas sinalizaram muito mais a união de uma família que ao longo dos
séculos tem passado por muitos perrengues mas que consegue se reconstruir e se
unir, pagando ou não altos preços.
Não
sou muito admirador de reis e rainhas, mas Elizabeth II merece todo meu
respeito. Apesar de não ter mais voz ativa na administração e governo ingleses,
ainda mantém um poder sereno e tranquilo. Funciona como espécie de catalizador
desse imenso Império formado por 53 países e está sabendo transmitir aos seus
descendentes esse milagre da união. Graças ao seu comportamento, a popularidade
da Família Real anda na casa dos 85% e no dia de sua substituição,
provavelmente seu filho, o Príncipe Charles, deverá abdicar e colocará no trono
seu filho William que é adorada por 10 entre 10 ingleses. Como diria Fellini, e
la nave va, sempre em águas traquilas e com rumo certo.
God Save the Queen!
Inté...
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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