Alguns
aspectos devem ser levados em conta com relação a essa inacreditável greve que
completou uma semana este final de semana. O mais claro: acabou o governo
Temer, mais por sua fraqueza do que por
seus atos. O presidente tomou muitas decisões importantes ao longo de seu
governo que vieram para aliviar as contas do país e só não chegou onde deveria,
muito mais pela inoperança de nosso Congresso do que outra coisa. Mas faltou
pulso, faltou liderança e, principalmente, representatividade.
Mas,
definitivamente, Temer é bem pior do que se imaginava. Essa greve, anunciada
alguns meses atrás, só explodiu por conta da irresponsabilidade da equipe
presidencial e dele mesmo. O problema é que a incompetência dos auxiliares presidenciais
é tão grande que nã dá para mesurar. Imaginem um presidente da República
recebendo orientações e conselhos de figuras como Eliseu Padilha, Moreira Franco e o inconcebível Carlos Marun.
Ninguém merece...todos citados na Lava Jato, inclusive Temer!
Tanto
caminhoneiros autônomos (os verdadeiros grevistas) como os representantes de
transportadoras mandaram vários recados para a Presidência da República pedindo
uma reunião emergencial para estudar os preços dos combustíveis (incontroláveis
com o mercado externo e com a política de preços diários) e regulamentar a
cobrança dos fretes, um dos grandes problemas dos caminhoneiros autônomos.
Bateram na porta da Brasília mas não obtiveram qualquer resposta. Resultado:
além da necessidade de melhorar o preço dos combuistível, a regulamentação dos
fretes, os motoristas aditivaram raiva ao movimento, muito mais pela maneira de
como foram tratados do que outra coisa. Deu no que deu...
O
governo, por sua vez, bem que tentou endurecer com os grevistas depois de quase
uma semana de greve, mas foi em vão. Eles fincaram o pé, começaram a receber o
apoio da população, esta cansada de tanta roubalheira, de tanto imposto cobrado
sem retôrno, de tanta mordomia, e acabaram se tornando heróis nacionais. Menos
de 24 horas depois de bater forte nos grevistas, o governo voltou atrás e
aceitou praticamente tudo que eles pediam: caiu de quatro, rendeu-se, entregou
os dedos e os anéis. Acabou.
Mas
todos esses acontecimentos vieram mostrar uma outra faceta deste País intolerante.
Comerciantes inescrupulosos aproveitaram a situação e os preços de alguns
alimentos, combustíveis e remédios, simplesmente dispararam. Um saco de batatas
que custava R$80,00, saltou para incríveis R$500,00! Um desses absurdos
incompreensíveis. Por sua vez, donos de automóveis lotaram postos de gasolina
para abastecer, levar para casa, o que acabou mostrando a falta de caráter de
todos: os donos dos postos chutaram o preço do combustível para os céus e, para
não fugir da tradição, o consumidor final acabou pagando o pato. Até concordo
com a lei do mercado: quanto maior a procura, maior o preço. E, no sentido
inverso, a mesma coisa. Agora, abuso, aí já é demais...
Para
reforçar essa triste realidade, a Polícia Federal investiga a participação de
proprietários de grandes transportadoras de petróleo no movimento. Eles têm o
poder de controlar as atividades de seus motoristas, obrigando-os, no caso, a
estacionarem nos acostamento das estradas e não entregarem as mercadorias. Isso
se chama de locausto. Segundo o governo, já foram instaurados 37 inquéritos e
alguns proeminentes propietários já estariam até presos, o que não foi
confirmado.
Tudo
isso, na verdade, mostra o ambiente em que vivemos. Lembro-me dos tempos de
Juscelino Kubitschek, que levava o astral do País para cima, apostando no bom
humor e na mentalidade desenvolvimentista. Construiu Brasília em quatro anos
–um feito e tanto!- cometeu o crime de abandonar as ferrovias brasileiras
(chegamos a ter mais de 30.129 kms e ferrovias) e deu prioridade para as
rodovias. Sim, foi um crime, mas ele, pelo menos, não vivia de revanchismos e
baseou sua política rodoviária na implementação da indústria automobilística do
país, responsável pela criação de milhões de empregos. O erro foi o
sucateamento de toda nossa malha ferroviária. E deu no que deu.
Sim,
vivemos tempos negros. E, talvez, muito pior do que a sem-vergonhice nacional,
a roubalheira e as mordomias, seja a incompetência, pois essa faz vítimas sem
ser identificada. Não temos bons políticos, não temos bons profissionais,
milhões de analfabetos e, pior, crianças semi-analfabetas, vítimas diretas da
imoralidade de alguns políticos que se aproveitam da ignorância. Uma rotina
triste e que parece não ter fim. Temos um ex-presidente preso, vários
ex-políticos importantes também presos e ainda não chegamos à metade do caminho
da limpeza. O próprio Temer e seus asseclas, assim que sair da presidência,
correm o risco de serem imediatamente envolvidos em inquéritos e acabarem na
cadeia. Difícil? Sim, mas não impossível.
E,
para surpreender mais ainda, personagens vampirescos saíram de suas tocas e
caíram na mídia. O principal deles foi o notório Rodrigo Maia, presidente da
Câmara dos Deputados que, sem qualquer pudor, simplesmente exigiu, e conseguiu,
a eliminação de alguns impostos que incidem sobre os combustíveis. A Câmara
aprovou sem discutir o assunto, sem indicar de onde sairá o dinheiro para
substituir esses impostos e empurrou o pepino para o Senado que, por sua vez,
faz nesta segunda-feira uma reunião para decidir o assunto. Tudo aos
trambolhões, sem planejamento, sem responsabilidade. Ninguém sabe como isso
acabará: sabe-se apenas que a brincadeira desses caras irresponsáveis pode
chegar à bagatela de R$ 10 bi. Grana que bobo não consegue contar...
Onde
vamos parar? Nem o mais famoso dos videntes pode imaginar. Um presidente fraco,
um presidente da Câmara venal, um presidente do Senado que desaparece e uma
sociedade que defende o fim da corrupção, da roubalheira institucionalizada no
governo, mas que adora uma molezinha, fazer movimento para soltar ex-presidente
corrupto, uma engrachadinha no policial que lhe aplica uma multa e até mesmo um
amigo na Receita para quebrar um galho. Assim, meus amigos, fica difícil. O
ideal é que a população entendesse o que realmente significa uma sociedade sem
corrupção, onde todos acabam se beneficiando. Da maneira que anda o barco, não
chegaremos ao tal porto seguro que já estamos carecas de tanto procurar. Vamos
jogar a poita em mares incertos e o final poderá ser um naufrágio coletivo. Uma
coisa é certa: pelo menos dessa vez, a seleção brasileira ficou de fora. Aliás,
já foi embora para a Europa e ninguém, ninguém mesmo, se incomodou. Talvez
ainda reste uma esperança...Inté.
Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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