Tuesday, May 29, 2018

E TEMER ERA PIOR DO QUE SE IMAGINAVA... (por Alvaro Carvalho Jr.)



Alguns aspectos devem ser levados em conta com relação a essa inacreditável greve que completou uma semana este final de semana. O mais claro: acabou o governo Temer, mais por sua fraqueza do que por seus atos. O presidente tomou muitas decisões importantes ao longo de seu governo que vieram para aliviar as contas do país e só não chegou onde deveria, muito mais pela inoperança de nosso Congresso do que outra coisa. Mas faltou pulso, faltou liderança e, principalmente, representatividade.

Mas, definitivamente, Temer é bem pior do que se imaginava. Essa greve, anunciada alguns meses atrás, só explodiu por conta da irresponsabilidade da equipe presidencial e dele mesmo. O problema é que a incompetência dos auxiliares presidenciais é tão grande que nã dá para mesurar. Imaginem um presidente da República recebendo orientações e conselhos de figuras como Eliseu Padilha,  Moreira Franco e o inconcebível Carlos Marun. Ninguém merece...todos citados na Lava Jato, inclusive Temer!

Tanto caminhoneiros autônomos (os verdadeiros grevistas) como os representantes de transportadoras mandaram vários recados para a Presidência da República pedindo uma reunião emergencial para estudar os preços dos combustíveis (incontroláveis com o mercado externo e com a política de preços diários) e regulamentar a cobrança dos fretes, um dos grandes problemas dos caminhoneiros autônomos. Bateram na porta da Brasília mas não obtiveram qualquer resposta. Resultado: além da necessidade de melhorar o preço dos combuistível, a regulamentação dos fretes, os motoristas aditivaram raiva ao movimento, muito mais pela maneira de como foram tratados do que outra coisa. Deu no que deu...

O governo, por sua vez, bem que tentou endurecer com os grevistas depois de quase uma semana de greve, mas foi em vão. Eles fincaram o pé, começaram a receber o apoio da população, esta cansada de tanta roubalheira, de tanto imposto cobrado sem retôrno, de tanta mordomia, e acabaram se tornando heróis nacionais. Menos de 24 horas depois de bater forte nos grevistas, o governo voltou atrás e aceitou praticamente tudo que eles pediam: caiu de quatro, rendeu-se, entregou os dedos e os anéis. Acabou.

Mas todos esses acontecimentos vieram mostrar uma outra faceta deste País intolerante. Comerciantes inescrupulosos aproveitaram a situação e os preços de alguns alimentos, combustíveis e remédios, simplesmente dispararam. Um saco de batatas que custava R$80,00, saltou para incríveis R$500,00! Um desses absurdos incompreensíveis. Por sua vez, donos de automóveis lotaram postos de gasolina para abastecer, levar para casa, o que acabou mostrando a falta de caráter de todos: os donos dos postos chutaram o preço do combustível para os céus e, para não fugir da tradição, o consumidor final acabou pagando o pato. Até concordo com a lei do mercado: quanto maior a procura, maior o preço. E, no sentido inverso, a mesma coisa. Agora, abuso, aí já é demais...

Para reforçar essa triste realidade, a Polícia Federal investiga a participação de proprietários de grandes transportadoras de petróleo no movimento. Eles têm o poder de controlar as atividades de seus motoristas, obrigando-os, no caso, a estacionarem nos acostamento das estradas e não entregarem as mercadorias. Isso se chama de locausto. Segundo o governo, já foram instaurados 37 inquéritos e alguns proeminentes propietários já estariam até presos, o que não foi confirmado.

Tudo isso, na verdade, mostra o ambiente em que vivemos. Lembro-me dos tempos de Juscelino Kubitschek, que levava o astral do País para cima, apostando no bom humor e na mentalidade desenvolvimentista. Construiu Brasília em quatro anos –um feito e tanto!- cometeu o crime de abandonar as ferrovias brasileiras (chegamos a ter mais de 30.129 kms e ferrovias) e deu prioridade para as rodovias. Sim, foi um crime, mas ele, pelo menos, não vivia de revanchismos e baseou sua política rodoviária na implementação da indústria automobilística do país, responsável pela criação de milhões de empregos. O erro foi o sucateamento de toda nossa malha ferroviária. E deu no que deu.

Sim, vivemos tempos negros. E, talvez, muito pior do que a sem-vergonhice nacional, a roubalheira e as mordomias, seja a incompetência, pois essa faz vítimas sem ser identificada. Não temos bons políticos, não temos bons profissionais, milhões de analfabetos e, pior, crianças semi-analfabetas, vítimas diretas da imoralidade de alguns políticos que se aproveitam da ignorância. Uma rotina triste e que parece não ter fim. Temos um ex-presidente preso, vários ex-políticos importantes também presos e ainda não chegamos à metade do caminho da limpeza. O próprio Temer e seus asseclas, assim que sair da presidência, correm o risco de serem imediatamente envolvidos em inquéritos e acabarem na cadeia. Difícil? Sim, mas não impossível.

E, para surpreender mais ainda, personagens vampirescos saíram de suas tocas e caíram na mídia. O principal deles foi o notório Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados que, sem qualquer pudor, simplesmente exigiu, e conseguiu, a eliminação de alguns impostos que incidem sobre os combustíveis. A Câmara aprovou sem discutir o assunto, sem indicar de onde sairá o dinheiro para substituir esses impostos e empurrou o pepino para o Senado que, por sua vez, faz nesta segunda-feira uma reunião para decidir o assunto. Tudo aos trambolhões, sem planejamento, sem responsabilidade. Ninguém sabe como isso acabará: sabe-se apenas que a brincadeira desses caras irresponsáveis pode chegar à bagatela de R$ 10 bi. Grana que bobo não consegue contar...

Onde vamos parar? Nem o mais famoso dos videntes pode imaginar. Um presidente fraco, um presidente da Câmara venal, um presidente do Senado que desaparece e uma sociedade que defende o fim da corrupção, da roubalheira institucionalizada no governo, mas que adora uma molezinha, fazer movimento para soltar ex-presidente corrupto, uma engrachadinha no policial que lhe aplica uma multa e até mesmo um amigo na Receita para quebrar um galho. Assim, meus amigos, fica difícil. O ideal é que a população entendesse o que realmente significa uma sociedade sem corrupção, onde todos acabam se beneficiando. Da maneira que anda o barco, não chegaremos ao tal porto seguro que já estamos carecas de tanto procurar. Vamos jogar a poita em mares incertos e o final poderá ser um naufrágio coletivo. Uma coisa é certa: pelo menos dessa vez, a seleção brasileira ficou de fora. Aliás, já foi embora para a Europa e ninguém, ninguém mesmo, se incomodou. Talvez ainda reste uma esperança...Inté.


Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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sempre às segundas,
quando esquece que está aposentado.

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