Nostalgia é um componente sempre presente na obra de Damien Chazelle. Whiplash é praticamente um lamento à morte dos anos de ouro do jazz e de seus grandes ícones -- e, ao mesmo tempo, uma crítica à preguiça do público e dos músicos atuais. Depois veio La La Land e a coisa ficou ainda mais explicita na homenagem aos musicais já quase extintos no cinema atual.
Com Primeiro
Homem Na Lua, a nostalgia continua. Desta vez, Chazelle aponta para um momento icônico
da história americana: a conquista do espaço.
A euforia do pós-guerra
vai dando lugar à desconfiança com o governo por conta da Guerra do Vietnã, a
guerra fria vai ficando mais intensa e os russos elegem a conquista espacial
como símbolo de uma suposta supremacia sobre os americanos.
Com o projeto
Gemini, o Governo Americano inicia os esforços para reverter a sequência de pioneirismos
russos, tendo como meta o plano arrojado de, em poucos anos, colocar um homem na
superfície da lua.
O filme narra
essa corrida, sempre focado na figura de Neil Armstrong, o conhecidíssimo
“primeiro homem a pisar na lua”. As etapas que vão sendo vencidas desde sua
seleção para o projeto até o famoso voo da Apollo XI -- os desafios, os
fracassos, os traumas, o relacionamento com os outros astronautas e técnicos -- sempre são mostrados sob a perspectiva de Armstrong e de sua família.
Se o tema em si
já é nostálgico, ainda temos um outro componente muito interessante, pois fica
evidente o contraste da personalidade contida e fechada de Neil e o culto à
celebridade de hoje.
O símbolo de uma
das maiores conquistas humanas -- mesmo hoje, quase 60 anos depois -- não visava o
protagonismo. Armstrong sempre agiu como um operário dentro do projeto. Nunca se importou
se seria ele ou não o tal “Primeiro Homem”.
Nada mais
contrastante com a cultura atual onde há um desespero por protagonismo, mesmo
sem nada de especial pra contar. Apesar de pouco mencionado acho esse um
aspecto essencial do filme.
Apesar das
críticas, gosto da atuação contida, sem expressão, do Ryan Gosling. Ressalta a
personalidade reclusa, intensificada pela perda da filha, de Armstrong. Um
ponto que eu desconhecia da biografia dele.
Também gostei
bastante da Claire Foy. Apesar da limitação do papel secundário de esposa de
astronauta ela consegue mostrar um outro ponto de vista, refletindo o conflito
entre a incerteza da volta do marido a cada missão e o orgulho de fazer parte
daquilo, mesmo que de forma indireta.
Na parte
técnica, o desenvolvimento do projeto Gemini até o Apollo e a chegada à Lua são
muito bem desenvolvidos, focando no relacionamento entre os astronautas e nos
desafios técnicos sem entediar o espectador -- apesar de isso ter sido melhor executado
em Os Eleitos (The Right Stuff, 1983) de Philip Kaufman, baseado no romance reportagem homônimo de Tom Wolfe -- ainda hoje, o melhor filme sobre a conquista do espaço
que eu assisti. Uma pena que não está disponível no Netflix, pois foi muito
pouco visto nos cinemas e muita gente ainda não o conhece.
Apesar de não
suplantar Os Eleitos, Primeiro Homem é um filme obrigatório para
os fãs da corrida espacial, e também não faz feio para quem simplesmente está a
fim de assistir um bom filme -- especialmente os fãs do diretor Damien Chazelle, que vem
construindo uma carreira sólida, apesar de ainda bem jovem.
O PRIMEIRO HOMEM NA LUA
(First Man, 2018, 142 min)
Direção
Damien Chazelle
Roteiro
Josh Singer
Produção
Wyck Godfrey
Marly Bowen
Damien Chazelle
Elenco
Ryan Gosling
Claire Troy
Kyle Alexander
Pablo Schreiber
Claire Stoll
Cory Michael Smith
Jason Clark
Christopher Abbott
Cotação
em cartaz nas redes
Roxy, Cinemark e Espaço de Cinema
O PRIMEIRO HOMEM NA LUA
(First Man, 2018, 142 min)
Direção
Damien Chazelle
Roteiro
Josh Singer
Produção
Wyck Godfrey
Marly Bowen
Damien Chazelle
Elenco
Ryan Gosling
Claire Troy
Kyle Alexander
Pablo Schreiber
Claire Stoll
Cory Michael Smith
Jason Clark
Christopher Abbott
Cotação
em cartaz nas redes
Roxy, Cinemark e Espaço de Cinema
Fábio Campos convive com filmes e música
desde que nasceu, 52 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.
Olá! O filme "Os eleitos" está disponível em vídeo. Pode-se até escolher o formato: Blu-ray, DVD ou até VHS (duplo), aqui na Vídeo Paradiso. Por sinal, este e mais alguns milhares de títulos que não estão disponíveis na Netflix...
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