Em toda sua história, que não chega a ser tão grande assim, o Brasil nunca teve eleições tão tumultuadas como essa que se encerrou domingo passado. Foram meses de agressões físicas e verbais, xingamentos mentiras, ofensas; enfim valeu tudo: dedo no olho, passar a mão na bunda, xingar a mãe, cusparada pontapé no saco e tudo mais. Ruim? Péssimo, mas como dizia minha mãe, sempre se tira algo de bom desses momentos de crise. E, se formos inteligentes, poderemos transformar completamente nossa vida política daqui para a frente. Basta analisar os números finais do pleito e teremos uma surpresa que, na verdade, não sei se agradável ou preocupante.
Pois
bem. De um universo de 104.838.753 votantes, 30,87% simplesmente não
participaram do pleito. Uns anularam seus votos, outros votaram em branco e
outros, a maioria (21,30 %), simplesmente preferiu ir para a praia. Mesmo
considerando que a não participação no pleito seja um comportamento político, trata-se
de uma massa suficiente para colocar um candidato no segundo turno, caso todos
resolvessem apostar num só nome. E, caso esse nome já tivesse alguns
correligionários, levaria o caneco no primeiro turno, enterrando Bolsonaro e
Haddad na mesma cova.
Assim,
isso vem provar a total falência do
atual sistema político brasileiro. Não dá mais para conviver com ele; um
facilitador e criador de bandidos, de falcatruas e o que é mais preocupante
ainda: um sistema mercantilista, onde pequenos partidos vivem desse famigerado
Fundo Partidário, nascedouro dessa vilania chamada “coalizão política”, que
seria melhor definida como formação de quadrilha, simplesmente. Mas essa são as
regras atuais e a democracia exige que leis, boas ou más, devem ser obedecidas
e respeitadas. Por isso, esse último pleito nos ensina e adverte, que chegou a
hora de mudar, de alterar completamente todo o sistema, optando por algo que
funcione de maneira clara, transparente, onde o eleitor seja o rei da cocada
branca.
Caso
contrário, continuaremos a eleger presidentes como é o atual caso de Jair
Messias Bolsonaro: eleito por maioria simples, mas sem a representatividade que
pensa ter. Claro, seus admiradores afirmarão que “do alto dos seus 57 milhões e
votos”, tem força para fazer grandes alterações. Não discordo, mas volto aos
números e o ambiente no qual ele foi eleito:
Jair
Bolsonaro teve, exatos, 57.797.847 votos, ou 55,13% do universo de eleitores.
Mas, aí é que a coisa pega. Pergunto: quantos apoiaram seu nome com certeza? Quantos acreditam
mesmo no programa que apresentou aos eleitores, se é que apresentou algum? Ou
será que um percentual muito, mas muito mesmo, alto o apoiou simplesmente para
afastar o PT do caminho, cansados de tantos anos de bandalheira explícita
diariamente nos jornais? Essa é a grande questão.
Por
outro lado, Fernando Haddad atingiu os 47.040.906 votos, ou 44,87% do universo
de eleitores. Volto a perguntar: quantos votaram acreditando mesmo num programa
apresentado pelo candidato? Quantos tiveram certeza do que estavam fazendo? Ou
quantos eleitores simplesmente votaram em seu nome para tentar fugir d ameaça
fascista que Bolsonaro representava, depois de declarações assustadores e
intimidadoras?
Chegamos
à conclusão de que, ao final, fomos para o segundo turno sem uma verdadeiera
opção, sem uma verdadeira opção, sem um candidato que pudéssemos chamar de
estadista, coisa rara nos dias de hoje. Fica claro que esse vácuo de votos
brancos, nulos e abstenções deixa em aberto uma enorme espaço para o
surgimento de algum movimento –- desde que bons nomes e seriedade -- que venha
alterar completamente nosso atual espctro político. Lembrem-se, numa somatória
de brancos, nulos e abstenções, chegamos ao insano número de 42.466.402
eleitores. É muita gente desinteressada da política e que não quer
participar. É muito triste.
Explicação
para esse fenômeno existe. A proletarização de nossa vida política é de
responsabilidade das lideranças que hoje dominam os partidos. Como se fossem
capitanias hereditárias, vivem do dinheiro que vem do poder e de homens
autoritários que não querem, em absoluto, largar o osso. Vamos usar dois casos
emblemáticos: PSDB e PT. Ao longo dos anos, desde nossa democratização, ambos
polarizaram o cenário nacional, alternado-se no poder sem dar a mínima chance para
alguém. Partidos dominados por meia dúzia de iluminados e por indíduos que, de
maneira mais dura ou suave, mas sempe com força suficiente para empurrar uma
montanha, decidem tudo.
Ninguém
vai ao banheiro fazer xixi, no PT, sem antes pedir licença ao presidiário Lula.
Chegamos ao cúmulo, nestas últimas eleições, de o seu candidato ir semanalmente
à cadeia onde seu líder está preso por corrupção, pedir orientação para a
campanha. Ridículo é elogio. E no PSDB, ninguém abre o champagne sem antes
perguntar ao FHC qual a temperatura da bebida. Sentado numa confortável
poltrona do século XV, dita os caminhos que o partido deve seguir, sempre
fantasiado de democrata incorrigível. Mas não larga os talheres de prata.
Diante
dessas posturas, homens de bem e inteligentes não se submetem aos caprichos de
pessoas sabidamente dominadoras. Preferem entregar suas inteligências na
iniciativa privada, onde, pelo menos, são respeitados pelo que pensam e assumem
postura independente em qualquer circunstância. Homens sérios e de bem não
serão nunca fantoches de pseudos líderes. Esses homens que se acham os donos da
polítioca brasileira deveriam ir para casa, cuidar dos netos e deixar o Brasil
andar com as próprias pernas. Permitir que gente jovem, com novas idéias,
comecem a empurrar este País para a frente.
Posso
estar enganado, mas acredito que o centro seja a grande tendência do
brasileiro, apostando que Sergio Buarque de Holanda esteja certo. Não somos
belicosos como os americanos e nem duros como os europeus. Podemos ser pessimamente
educados e sem compostura. Se temos violência nas ruas, é o resultado de um
sistema educacional destruído e de uma segurança abandonada. Eduque e acerte a
segurança e tenho certeza de que nossos índices de criminalidade serão surpreendentes.
Claro,
precisamos enterrar de vez esses partidecos que surgem em todas as eleições.
Vejam o caso do Eymael, o democrata cristão, que já entrou em hibernação e, ao
lado de Marina Silva, voltará dentro de mais dois anos. Arrisco-me a dizer que
personagens como Boulos (?), cabo Daciolo e outros menos cotados não ajudam em
nada na democracia. O povo deveria execrá-los via voto. E só não incluo o NOVO
nessa lista apenas porque elegeram um governador (Minas Gerais), 8 deputados
federais e nem sei quantos estaduais, numa demonstração clássica de que a
população anda louca correndo atrás de algo que mude o atual espectro político
do País.
Enfim,
entre mortos e feridos, todos se salvaram. Com todos os tumultos, brigas, xingamentos e agressões, nossas
instituições estão funcionando perfeitamente. As urnas eletrônicas, tão
criticadas, fizeram seu papel com perfeição e a democracia foi consagrada. Não
me venham afirmar que não temos democracia no País. Temos e estamos
aperfeiçoando dia a dia. Foi um domingo de festa. Nosso grande problema, ainda,
é o da compostura, detalhe que minha mãe corrigia com bom chinelo nas mãos e
muito castigo. Mas que demos uma aula de consciência democrática, HÁ!, demos.
Claro, com um xingamento aqui, outro alí, mas agora em tom bem mais baixo...Adiós.
Excelente matéria...
ReplyDeleteSou uma que votei no Bolsonano no segundo turno pra tirar o PT...
Nunca seria meu voto caso houvesse outra opção...