A 48 horas de um
pleito presidencial que anda valendo discurso de ódio e gente se estapeando
(literalmente!) nas ruas (na melhor das hipóteses), nosso querido editor desse
nobilíssimo Leva um Casaquinho fez a convocatória para o retorno às atividades
costumeiras.
Brincadeiras
(dessa perdida Mercearia) à parte, justamente num período em que, no caso de
palavras tanto bem quanto mal usadas, todas as situações de litígio andam sendo
resolvidas ‘no tapa’ (literalmente!).
Já sabem:
domingo, agora, à noite, o Cabaré começa a pegar fogo, sem hora para acabar.
A estupidez nos
últimos pleitos anda fazendo saudade diante da ignomínia estarrecedora
comportamental nacional da disputa eleitoral desse ano.
É de cair o queixo!
É de absurdar
como é que chegamos nesse ponto.
É de estarrecer
como a população brasileira coloca, no segundo turno presidencial, tanto de um
lado quanto de outro, o que há de mais espúrio em termos de populismo
extremista.
É de estarrecer
como pode o eleitorado brasileiro, independente de medos e fraquíssimas
indignações, colocar em escolha numa ‘segunda rodada’ o que havia de pior em
termos de opções.
E olha que havia
opções em harmonia com o cunho político-ideológico de sua preferência.
Desde o início
da “Nova República” (1985), ou da ‘redemocratização’ (falácia que recebeu tal
nome em que pese a base material do golpe de 1964 estar t-o-d-i-n-h-a
aí, inclusive com certa fauna pertencente a tal período... ninguém
largou o osso!), nunca uma eleição apresentou opções bem mais saudáveis
comparadas a pleitos anteriores.
E o eleitorado
brasileiro colocou, no segundo turno, justamente o que havia de pior.
Ora, dai-nos
paciência! Era a coisa mais dócil de se escolher: se você era conservador, o
Meirelles; no caso de ser liberal, o Amoêdo; se você fosse mais à esquerda, o
Ciro.
Dos três,
somente Ciro teve algum sucesso (12% do eleitorado). O resto virou ‘traço’ na
contagem final dos votos. E escolheram justamente o populismo extremista como
“... opção para o futuro da nação!”.
Uma cegueira
monumental! O povo provou que não conhece patavinas de ‘cunhos
político-ideológicos’. Nada! Nada, nada!!! Sequer procuraram saber qual a
origem clássica do conservadorismo, do liberalismo e/ou ‘da esquerda’.
Foi a análise
mais rasa que poderia ser produzida. Resultado diferente: esqueçam! É isso que
está aí para o próximo domingo. Um troço de doer.
Num país sem boa
intelectualidade, que estragou o cérebro e o fígado ‘entra em campo’, não há
outra saída que não seja ver o Cabaré em polvorosa! Uma espécie de ‘zona no
puteiro’, sem hora para acabar.
Lamentável! Em
especial com o resultado dos extremistas continuarem sua prática de
intimidação, falácias e populismo que não fazem nada além do que ‘irmão matar
irmão’ sem a menor cerimônia se estão em casa ou no meio da rua.
OK! Até
concordo. No século V a.c., fazia todo o sentido do mundo as pessoas se
engalfinharem em vias públicas, leitos carroçáveis e o escambau. Até poderia se
entender questões de litígio serem resolvidas no fio da espada.
Mas no século
XXI?!? Por má utilização do cérebro?!? Aí, é dose para elefante!
Voltamos a
repetir, querido(a) freguês(a): havia opções para conservadores, liberais e ‘de
esquerda’ muuuuuuuiiito melhores do que essa pantomima macabra extremista de
domingo.
Então, vamos lá, pléiade de cérebros privilegiados: vocês realmente acham que votando nesse, ou naquele, partidos políticos como MDB, PT, PPS PDT, PTB, PSDB, PUC, PLOC e a PQP vão realmente “ser varridos do mapa para sempre”?!?
Vocês realmente
acreditam que do jeito que o trem rachou (e não tem conserto!) vocês “varrerão”
esquerda e/ou direita “do mapa”?!? Olá! Qual o conceito de vida democrática que
habita vossos córtex frontal e insular, por tudo quanto é mais sagrado?!?
É o maior
descolamento da realidade na casa dos cem milhões que já existiu na face da
Terra. Se bobear, supera os EUA. Alucinação pura!
Então, vamos lá,
caríssimos(as): alguém aqui consegue explicar como é que TODO PAÍS QUE ANUNCIOU
AUTOSSUFICIÊNCIA EM PETRÓLEO CAIU EM DESGRAÇA?
T-O-D-O-S!!! Ou ficou à mercê de regimes totalitários sanguinários que
não respeitam nem um pouquinho o tal “Estado Democrático de Direito”?!?
Em nome de quê,
mesmo?!
Tradição?! Bons
costumes?! Medo da ‘esquerda’?! Fé?! Corrupção?! Vida pública saudável?! Luta
de classes?! Bom mocismo?! Propriedade?! Resgate das instituições?!
Instituições?!
‘Hã’?! Mas em
qual planeta vocês moram?!
Curiosíssimo!
Mas não aguentam um diagnóstico de câncer no pâncreas ou ELA e saem com esse
tipo de argumentação?! Dá para elaborar um pouquinho mais?! Vai ser isso?!
Tentando pensar como um “eleitor de centro” (espécie da fauna que é a maioria pelas bandas de cá), não restou nada que, desde 7 de outubro, não seja sentar no meio-fio e cair em prantos. O eleitor nacional teve a manha de “renovar a política” saindo da famíla ‘coroné’ para cair na família ‘buscapé’.
É de estarrecer
o talento brasileiro de “... só mudar as moscas”.
Vai ser isso?!
É de estarrecer
o “fôlego dissertativo” presente nessas jaboticabinhas “100% made in Brazil” da
estatura: “... sou conservador(a) nos ‘costumes’, mas liberal na economia”.
Ora.. dá
licença!
É o mesmo que,
torcedor fervoroso do Peixe, abrir uma exceção para torcer para o adversário
toda vez que for contra o Santos.
Não, filhão!
Não, filhona! Isso não existe! Se você é conservador(a) nos ‘costumes’, vai ser
conservador(a)’ também na economia! Se você é liberal nos ‘costumes’, vai ser
liberal igualmente na economia! Não tem como você ser conservador(a) na
economia e liberal nos ‘costumes’. Isso é hímen em lupanar! A probabilidade é
bem próxima de zero.
Como pôde o
eleitor brasileiro colocar o país em rota-de-colisão, agora, no domingo, com
esse tipo de argumentação!
Não, filhão!
Não, filhona! Se você é conservador(a) nos ‘costumes’ e liberal na economia,
você não é nem uma coisa, nem outra. Não sabe o que é conservadorismo, muito
menos liberalidade. Ou podemos concluir que, na economia, não existe economia
planificada, nem conservadora: só existe economia liberal, o que empurra os
costumes se tornarem profundamente liberais. É óleo na água: não dá mistura
homogênea.
Tentando intuir
como um “eleitor de centro”, o que passa na cabeça do eleitorado brasileiro em
enfiar goela abaixo o que há de pior em termos de populismo extremista no
próximo domingo quando tínhamos opções, a saber, conservadora (Meirelles),
liberal (Amoêdo) e ‘de esquerda’ (ou centro-esquerda)(Ciro)?!?
Apesar de “...
longe do ideal”, tínhamos boas opções de candidaturas que possuíam UM PROJETO
DE ESTADO, coisa que esse país anda precisando “... ‘pra’ ontem!”. Podia ser
somente um esboço, mas havia. E isso foi jogado na lata-do-lixo por qual motivo,
mesmo?! V-i-n-g-a-n-c-i-n-h-a
h-e-p-á-t-i-c-a?! “Ai...! ‘Tô’ com raivinha! Eles são muito safados...
roubam muito!”.
É assim que se
quer produzir um PROJETO DE ESTADO?! Com esse pensamento e arregimentação
completamente baseados no ódio, como se um pleito fizesse desaparecer todas as
pessoas que vocês não gostam e/ou desafetos?!
Uma das
vantagens desse pleito é que finalmente o brasileiro tirou a máscara: é um povo
que se faz de ‘Zé Carioca’ (o personagem da Disney), o “boa-praça”, o “alegre e
feliz”, “amigo de todo mundo”, o “tolerante”... enfim, a maior farsa dos
últimos 200 anos no hemisfério sul.
Não é à toa que
nossa vizinhança sulamericana nunca nos leva a sério. Não tem como...
Finalmente o(a)
brasileiro(a) será, a partir da próxima segunda-feira, o que sempre foi: um
povo que saiu do armário e será ‘frontal’. Convenhamos: essa coisa de brasileiro
‘lateral’ era a maior farsa nacional produzida em nosso sagrado território.
Deve haver
alguma vantagem em ser ‘frontal’: ‘lateral’ é que não dava para ser mais.
Pensem nas vantagens: é menos carne no ‘churras’, só o peito do Peru na ceia de
Natal, sem essa de “amigos para siempre” numa van para o litoral a fim de
curtir o reveillon, pulando aquelas paupérrimas sete ondas na esperança de um
‘futuro melhor e brilhante’.
Sim! Não haverá
mais a ‘família completa’ nas festas de fim-de-ano (exceto se o nível insidioso
de intimidação conseguiu mantê-la unida, sinal franco de que a liberdade de
escolha e pensamento é o que menos vale ‘intramuros’). Agora será “tudo por
binóculos”. Quer ter novidades sobre aquele familiar que você tanto gostava, ou
aquele amigo “de direita” ou “de esquerda”, procurem no ‘Livro de Róstos’ para
saber das últimas (no caso, obviamente, de vocês não saírem bloqueando
cão-e-gato).
A polarização
não é sobre ‘estilos-de-vida’ ou posições diante dos fatos: o racha veio para
ficar, produzido por argumentações com a profundidade de um pires.
E, para finalizar, o que absurda (mais ainda!) é como o eleitor brasileiro consegue, na Era de Aquário, preservar o que há de pior no Sebastianismo.
É quase como um
Alcácer-Quibir aéreo, intangível, que paira sobre nossas cabeças mesmo que não
queiramos.
O próprio eleito
nacional que faz ‘o servicinho’. Percebem?!
Repete 1989 em
2018, ou algo semelhante, numa bazófia astronômica de “... pôr fim à sujeita e
promover a renovação...”.
É exatamente com
esses nomes que conhecemos bem essa merda.
Um ‘viva’ &
‘salve’ para a intelectualidade brasileira, ruim de ‘trabái’ até não poder
mais, distante da população & ‘dis costa’ para a galera, incapaz de
promover algum debate que prestasse e caindo na famigerada cilada do ‘eles, lá’
& ‘nós, aqui’.
É espantoso como
chegamos no sectarismo, mas talvez pouco surpreendente se considerarmos a
máxima de que nossos compatriotas “... acham que sabem...”.
Tem certeza?!
Pelo ‘jeitão’ da
coisa, com essas opções de domingo (quando tínhamos opções!), ninguém realmente
sabe de patavinas...
Mas isso, de repente, meio que já era de se esperar: massas populacionais descoladas da realidade e agindo hepaticamente nada mais mostram do que descrédito & desespero diante do engano de uma “propaganda democrática” em que a democracia faltou à aula.
O que poderia
ser resumida numa frase...
... dois pontos:
“O que a
ditadura militar não conseguiu destruir em 21 anos, a democracia tratou de
fazer o resto do trabalho nos 33 anos seguintes”.
Nós, dessa destituída Mercearia, avisamos: nem o conservadorismo, nem o liberalismo e nem ‘a esquerda’ conseguem entender e desarmar um elemento constitutivo do tal chamado capitalismo moderno, a saber, a pauperização.
Bom entretenimento
a todos no próximo domingo! Aproveitem o Cabaré em chamas! O Cabaré da Ilusão.
Reiteramos que nós, dessa modesta Mercearia, não retornaremos a esse tema tão
cedo, ainda por cima com o tipo de reação violenta que as pessoas andam tendo
por conta do que se fala ou escreve tanto aqui quanto em qualquer lugar.
Num lugar
incapaz de entender com clareza o que se ouve ou se lê, e ainda reage com
violência principalmente quando não consegue compreender algo (uma crise
cognitiva monumental!), nada mais resta do a manutenção do silêncio a fim de se
salvar o próprio couro.
Semana que vem,
voltamos à programação normal. E continuaremos na nossa misteriosa missão de ir
além da ‘cortina-de-fumaça’ onde todo mundo se entretém em destilar ódio.
Porque ‘os
gigantes’ são bem maiores.
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 47 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É autor de Areias Lunares
(à venda na Disqueria,
Av. Conselheiro Nébias
quase esquina com o Oceano Atlântico)
e escreve semanalmente em
LEVA UM CASAQUINHO
O ano é 2022 e eu tenho orgulho de escrever que ainda me lembro desse texto (e dos sentidos nele).
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