Friday, October 26, 2018

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO (por Alvaro Carvalho Jr)



Nos idos de 1989 -- como esquecer? -- eu já estava com 43 anos e me preparava para votar -- imaginem! -- para presidente da República pela primeira vez. Quatro anos antes, em 1985, já vibrara com a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, eleito com 480 votos derrotando o representante da Redentora, Paulo Maluf (de triste memória...), esse mesmo que está em prisão domiciliar, depois de anos e anos de tramóias. Eram os ventos democráticos que me entusiasmavam. O cheiro e a sensação de poder tocar a Liberdade, aquela mesma que me haviam arrancado desde os 18 anos e que agora, já pai de filhos, voltava para meu aconchego.

Surpreendentemente, entre os 22 candidatos (todos queriam ser presidente!!!), apresentava-se apenas uma novidade, Fernando Collor de Mello (outro de triste memória), o famoso caçador de marajás que conseguiu apenas caçar a poupança da população e acabou escorraçado do Palácio do Planalto pela mais fantástica 

De lá para cá a história vem se repetindo. Tem-se a impressão de que nós brasileiros temos uma enorme dificuldade de escolher nossos candidatos a presidente, deputado, governador ou sejá lá qual for o cargo. Vejam a nossa situação para domingo agora. Ficamos entre a cruz e a espada: nenhum dos candidatos é de preferência nacional e o vencedor será única e exclusivamente a vitória do menos ruim. Mesmo assim, dependendo da visão de cada facção política.Será que o aperfeiçoamento democrático exige que se sofra tanto para se construir um País, finalmente, justo, democrático e progressista?


Provavelmente sim. Mas, apesar dessa tormenta mental que se transformou esse voto domingueiro, ficam algumas lições que, esperamos, sejam aplicadas em novas eleições. Parece mentira, mas descobriu-se que sem grandes fortunas pode-se fazer uma campanha política. E nesse quesito, acredito que o Partido Novo foi o que se saiu melhor. Sem se utilizar do jogo sujo, conseguiu emplacar 8 deputados federais, quatro estaduais e um quase governador em Minas Gerais, onde seu candidato dá uma verdadeira surra no PSDB: mais de 30 pontos na frente!

Importante mesmo é que com a decisão do STF (à vezes eles acertam...), proibindo a doação de grandes verbas empresariais, os políticos foram obrigados a se repaginar. Sem empresas, portas foram fechadas para a corrupção. Assim, mais da metade dos candidatos não recebeu recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (exatos 4.817 deles), um  alívio para os cofres públicos. Outro detalhe, este bastante interessante: o eleitor brasileiro não se deixa mais enganar pelos belos olhos e a grana dos candidatos apontados como vencedores. Tanto que Dilma Rousseff-PT investiu R$ 4,5 milhões na sua candidatura para senador e quebrou a cara. O mesmo aconteceu com Lúcia Vânia, PSB, que torrou a bagatela de RS$ 3,5 milhões e sifu! Tem mais: Danielle Cunha, filhota do indefectível presidiário, Eduardo Cunha, gastou R$ 2 milhões e não se elegeu deputada.Cristiane Brasil, cria do inimaginável ex-presidiário, Roberto Jefferson, tascou R$ 1,8 milhão na campanha. E também ficou de fora!!!! Aleluia!!!!

Fica, portanto, em aberto o final definitivo do tal financiamento de campanhas políticas, um desses absurdos que a gente não consegue entender. Partidos políticos são entidades particulares, com CNPJ e tudo e devem viver da contribuição de seus associados. Como o que acontece com os sindicatos, que são mantidos –em parte- pela contribuição de seus associados. Chegou o momento de o País acreditar mais em sua população, fechar asas, permitir que seus cidadãos sejam realmente livres e possam se organizar sem influências externas. Muitos ainda defendem a atuação do estado, um direito democrático, mas gostaria que matutassem um pouco sobre o assunto com mais seriedade e sem raízes paternalistas. Acredito que muitos mudariam de opinião...


Assim, depois de tantas ofensas, agressões verbais, um atentado, dedo no olho, cusparada, pontapé no saco, xingar a mãe e tudo mais, chegamos ao que mais importa que é o voto. Tiramos boas lições dessa campanha suja e dura que enfrentamos ao longo desses últimos meses e nunca, pelo menos que me lembra, conhecemos tão bem a hipocrisia e a moral dos candidatos. Infelizmente não primamos pela escolha no primeiro turno, mas isso é democracia. Quem vencer no domingo vai tomar posse e terá a obrigação de governar corretamente. As redes sociais estarão á nossa disposição. E, caso necessário, derrubamos mais um. Nisso, pelo menos, estamos ficando muito bons...

PS- Você que brigou com seu irmão, com seu pai, com a família, com o vizinho, com o amigo, a amante, a esposa e até com o vendedor de ovos, por favor, faça as pazes. Nenhum político e nenhuma ideologia merece que você alimente essas coisas negativas. Como dizia Eça de Queiroz, “as fraldas, como os políticos, devem ser trocadas regularmente. E sempre pelo mesmo motivo...”Adios.


Álvaro Carvalho Jr. é jornalista aposentado
e trabalhou para vários jornais e revistas
ao longo de 40 anos de carreira.
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quando esquece que está aposentado.





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