Saturday, December 29, 2018

QUE SITUAÇÃO (por Alvaro Carvalho Jr)



Bem, se existe um fundo do poço, acredito que chegamos lá. Não conseguimos encontrar a luz no fundo do túnel, mas as desgraças, essas, sem quaisquer dúvidas, parecem querer provar que a conversa de Deus ser brasileiro é balela. Vamos aos fatos: um sujeito de suposta boa formação, sem mais nem menos, entra numa Igreja e começa a fuzilar todo mundo. O resultado, cinco mortos e sete feridos, não poderia ser pior. Um Pai de Santo famoso sai da toca e é acusado de abusar sabe-se lá de quantas mulheres...a coisa está feia.

Como diz aquele derrotista, se entrar na Igreja morre, se for procurar Pai de Santo é comido e se for para Brasília, é roubado. Melhor é ficar no bar mesmo, lá, pelo menos, o risco de passar por qualquer das alternativas é bem menor. Para piorar a situação, esse bando de irresponsáveis que compõe nosso Congresso, amplia as mordomias para as montadoras, que terão descontos astronômicos em seu Imposto de Renda, uma justificativa para proteger o trabalho, salvaguardar a indústria brasileira e gerar empregos. Nada disso aconteceu anteriormente e não irá acontecer daqui para a frente. Uma vergonha.

Sinceramente, não há como explicar os novos tempos que se aproximam. Vejam o caso de Campinas, com o atirador Euler Grandulpho, 49 anos, analista de sistemas, homem com boa formação escolar, que chegou a trabalhar no Ministério Público de São Paulo, reconhecidamente “um bom colega” e que, num dia qualquer, tem um surto e começa a atirar numa Igreja. Amigos, parentes e conhecidos estranharam o fato. Como um sujeito pacato, que dificilmente saia de seu quarto, pode ter um ataque de loucura desses? E como esse mesmo sujeito consegue duas armas com seus números de série apagados para efetuar o crime? Estranho, muito estranho...

Esse tipo de arma é comum entre notórios marginais. Nós, sujeitos comuns, teríamos enormes dificuldades para encontrar um comerciante desse tipo de arma ilegal. Euler conseguiu e a própria polícia estranha, considerando que ele não tem qualquer passagem policial, sempre foi um cidadão de bem, teve bons empregos e era, reconhecidamente, um sujeito pacato. O que teria disparado o gatilho que o levou a um ato tão bárbaro? Essa resposta será difícil de responder, considerando-se que até a família está completamente desnorteada. Uma tragédia sem explicação...

João de Deus, no entanto, terá muito que explicar. Esse negócio de abusar de mulheres fragilizadas, como é o seu caso, pode render uma longa condenação de três algarismos. E não adianta seu advogado e seus seguidores jurarem de pés juntos a sua inocência. São muitas as mulheres que perderam o medo e resolveram fazer a denúncia contra o pai de Santo. Como definir um personagem que abusa de mulheres que tem como proteção pessoal apenas a fé? Elas estão lá à procura da cura e conseguem, no máximo, uma trepada. No mínimo, é nojento.

Infelizmente, o local onde o pai de Santo aprontava das suas, estava repleto de pessoas que acreditam nele, que o seguem, que o adoram e que o defendem a qualquer preço. Esse fanatismo religioso, comum em países como o nosso, são o resultado da ignorância, do desespero, da insegurança moral. São pessoas de baixa alta estima, que tentaram tratamentos com diversos médicos e que acabam apostando na fé como a grande cura. Particularmente, não acredito. Mas respeito aqueles que tem esse tipo de fé e até os admiro. Nem posso afirmar que nunca usaria essa aposta num desespero qualquer. Mas procuro ter a consciência de que a medicina tradicional ainda é o que nos resta.

Não sei o que acontecerá com o pai de Santo tarado. Espero, isso sim, que as mulheres que se sentiram abusadas apareçam para acusar esse falso mensageiro da fé. O tempo de abusar de mulheres já passou; cansou ver tantos casos impunes e ver tantos homicídios não resolvidos de mulheres que tentaram apenas, manter suas dignidades. Espero, também, que o tal pai de santo não use as mesmas alegações do outro líder messiânico que está encanado, que passou a vida inteira afirmando que nada era seu e que tudo era de amigos. Provavelmente, o pai de Santo vai afirmar que não era ele, mas o cavalo, exatamente como o enjaulado líder messiânico de Garanhuns. Aí vai ser gozado...Adios...


Álvaro Carvalho Jr. nos deixou no último dia 21 de Dezembro, vítima de um infarto fulminante. Éramos amigos há mais de 30 anos e sempre que nos encontrávamos bebíamos bem e ríamos muito. Nos vimos pouco nos últimos anos, mas falávamos semanalmente pelo telefone. A crônica acima foi escrita 3 semanas atrás e derrubada pelo próprio Alvaro, que me enviou outra alegando que esta havia envelhecido rápido e já estava datada. Mas diante dos fatos recentes, o que antes parecia  datado se tornou perene. E o que soava como uma visão ligeira de uma série de acontecimentos inter-relacionados acabou virando uma espécie de "big picture" de um fim de ano muito estranho. Que agora se encerra sem a presença sempre perspicaz e bem humorada de Alvaro Carvalho Jr, um cara que vai deixar uma saudade imensa em todos os que tiveram o prazer e o privilégio de contracenar com ele. Estranhamente, Álvaro, que quase sempre encerrava suas crônicas com um "inté", aqui encerrou com um "adios". Vai entender... (Chico Marques - Editor de Leva Um Casaquinho)

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