Eu, Odorico Azeitona, me lembro como se fosse ontem da primeira vez que a vi passeando pelos corredores na Central do Jornalismo da TV Globo no Jardim Botânico.
Fiquei literalmente paralizado com tamanha beleza.
Eu era recém-formado, e acabara de ser contratado para a redação do Jornal HOJE.
Ninguém prestava atenção em mim, era como se eu não existisse em meio àquela infinidade de jornalistas neuróticos trabalhando num deadline desumano.
E então, ela olhou para mim.
E sorriu.
E perguntou: "posso trocar a palavra concorrência por licitação?"
Eu disse que sim.
"É que licitação soa mais chique... li-ci-ta-ção... não acha?"
Concordei com tudo o que ela disse, sempre sorrindo.
Então, durante anos, sorrimos diariamente um para o outro nos corredores.
E por mais que a TV Globo fosse um celeiro de mulheres exuberantes nos Anos 80 e 90 -- Luciana Villas-Boas, Valéria Monteiro, Belisa Ribeiro, Dóris Giesse, Helena Ranaldi --, nenhuma delas jamais se comparou à belíssima e estonteante Cláudia Cruz.
Para quem já esqueceu dela, ou é jovem demais para lembrar dela, Cláudia Cordeiro Cruz, nascida na cidade do Rio de Janeiro em 19 de junho de 1967, foi âncora do Fantástico, do Jornal Hoje, do Jornal da Globo e do RJTV.
Começou na Rede Globo de Televisão em 1989, vinda da TVE, e logo chamou a atenção por sua beleza e por seus olhos azuis radiantes que se sobrepunham às notícias que ela apresentava.
Foi durante uns bons anos a "musa do RJTV".
Mas então, em 2001, não teve seu contrato renovado pela emissora.
O motivo, não declarado, seria seu casamento com um jovem político que acabara de assumir o cargo de Presidente da TELERJ e que a contratara para ser "a voz padrão da TELERJ" em comerciais e no call center da empresa.
Seu nome: Eduardo Cunha.
Para mim, a notícia do casamento dela com Cunha foi um choque, mas continuamos a sorrir um para o outro nos corredores da emissora, como sempre fizemos.
Sua atitude, no entanto, já não era mais a mesma.
O casamento distanciou Cláudia da camaradagem que sempre rola entre jornalistas em ambientes de trabalho.
Era como se, de repente, ela não fizesse mais parte da redação, e vivesse um andar acima de todos nós, seus companheiros de trabalho.
E então, ela começou a engatar uma licença maternidade em seguida da outra, até que, em 1991, logo após uma crise de faringite considerada suspeita pela direção da emissora, Cláudia não teve seu contrato renovado com a emissora.
Disposta a tudo para salvar sua carreira de apresentadora de telejornais, Cláudia Cruz aceitou um convite da TV Record em São Paulo para ancorar o telejornal principal da emissora.
Tudo parecia ir bem.
Mas, de repente, índices baixos de audiência somados a pesquisas de opinião revelaram que ela estava sendo rejeitada pelos telespectadores extremamente conservadores da emissora.
Motivo: era carioca demais.
Motivo: era carioca demais.
Sabe como é: paulista pobre que assiste a Record acha que quem fala com sotaque carioca é sempre um fornicador em potencial, daí não vê sentido numa emissora abençoada pessoalmente por Deus acolher gente assim em seus quadros.
Agora, Cláudia Cruz ressurge nos noticiários de TV --não como apresentadora, mas como notícia.
Ela é acusada de ter movimentado quase um milhão de dólares nos últimos anos com um cartão de crédito ligado a uma conta em seu nome num banco suíço, que era abastecida por comissões ilícitas negociadas pelo maridão.
Cláudia ainda não deu declarações a respeito disso.
Talvez nem dê.
Sabe-se que ela anda recolhida na mansão de 4 milhões de dólares na Gávea que pertence à Família Cunha -- a tal que antes pertencera ao bicheiro Luizinho Drummond.
Sabe-se também que seu marido Eduardo não se conforma dela ter movimentado tanto dinheiro sem achar que aquilo não iria dar na vista.
Foi através da movimentação nababesca dessa conta que foi possível ao Ministério Público Suíço rastrear as outras contas de Eduardo na Suíça.
Foi através da movimentação nababesca dessa conta que foi possível ao Ministério Público Suíço rastrear as outras contas de Eduardo na Suíça.
Hoje, Cláudia Cruz, que sempre sorriu para mim nos corredores da TV Globo, não sorri mais para ninguém.
Os quadros coloridíssimos que ela pintava, e que expunha em vernissages disputadas entre a sociedade carioca, pouco a pouco estão sendo retirados das paredes das galerias.
Alguns meses atrás, ela se queixava pelo Facebook por ter sido excluída das comemorações dos 50 anos da TV Globo.
Reclamou que, 25 anos atrás, tinha que se maquiar sozinha antes de entrar no ar.
Reclamou também que, por falta de figurino, teve se vestir com a mesma cor de suas companheiras de bancada em diversas ocasiões.
Tudo cruel demais...
Tudo cruel demais...
Acredite, Cláudia querida: a única coisa que realmente não mudou absolutamente nada nesses 26 anos é o que eu sinto por você.
Daí, se esse cuzão do Cunha fizer com você o mesmo que a TV Globo e a TV Record fizeram, pode me procurar, estarei sempre por aqui.
Guarde bem o meu nome: Odorico Azeitona
Odorico Azeitona
é um homem apaixonado
é um homem apaixonado
e escreve toda terça-feira
em LEVA UM CASAQUINHO
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