publicado originalmente em 17/08/2012
Nunca dei muita bola para o gênero musical mais espiritual. Salvo algumas cantoras das igrejas americanas que derivaram para o Blues, na maioria das vezes achava que não era algo que me tocava, me parecia uma campanha de convencimento, rebanho em busca de crescimento.
Foi aí que conheci uma tradutora que me apresentou um cantor, de mantras. Não foi pessoalmente, o homem é americano e vive em Nova York boa parte do tempo, outra parte ele gira o mundo com a sua música. Mas voltando à tradutora, ela se aproximou numa sessão de autógrafos em que um dos autores da Realejo, o brasilianista Matthew Shirts, fazia em São Paulo. Ela presta serviço para a National Geografic, cuida da tradução dos textos contidos no site e de vários outros projetos editoriais.
Por ter amizade com o Matthew ela estendeu este sentimento ao seu editor e me ofereceu conhecer um pouco do Krishna Das. Em busca de uma editora que investisse na autobiografia do cantor, pensou na nossa Realejo.
A sessão de autógrafos estava concorrida, era aniversário do Matthew e a fila estava enorme - abraços e autógrafos.
Ana Ban (a tradutora) passava algumas informações iniciais que prometiam um personagem interessante. Primeiro vocalista de uma banda de rock dos anos 60, o Blue Oyster Cult, carregava a carga rockeira embaralhada com a sabedoria da Índia, tendo como resultado mantras com um toque ocidental, pensei.
Saí do lançamento com Krishna Das na cabeça. Passados alguns dias, recebo um envelope que continha um CD e parte da tradução do futuro livro.
Li passagens enquanto ouvia os mantras. Estranhei de começo, parecia um prato exótico, mas aos poucos Krishna Das me convenceu, do jeito dele, sem ser chato ou insistente.
O livro iria se intitular “Cantar para Viver, em busca de um coração de ouro”, e a história de vida do garoto roqueiro que descobre a Índia me ganhou. Humildade e verdade estão bem estampadas nas memórias espirituais do cantor americano. Além do livro, a edição tem um CD com mantras para o leitor cantar na companhia do Krishna Das.
O CD já tinha lugar no aparelho de som do meu carro, minha mulher e crianças já se familiarizaram com os mantras – o caminho era sem volta: topei publicar seu livro no Brasil.
Liguei e confirmei a publicação, e em mais ou menos um ano o livro sairia. Foi quando tive a maior das surpresas. A tradutora e agente me disse que o KD (os chegados usam as inicias dele - como sou chegado, usarei também) viria para o Brasil se apresentar no evento Yoga pela Paz, e aproveitaria para fazer uma turnê com algumas apresentações pelo país. Um dos seus pedidos era o de conhecer o seu editor no Brasil.
Dito e feito: num sábado à tarde desce da van o maior cantor de mantras da atualidade, na nossa livraria e editora, aqui em Santos.
Com ele a incansável Ana Ban, dois músicos da sua banda e o produtor musical gaúcho, o figuraça Miranda.
Depois de beberem chá na livraria, eu e o Miranda brindamos com uma cachaça mineira, fomos para um programa musical diferente. Levei todos para uma roda de Samba que acontece religiosamente (ops) no bairro do Marapé, o Ouro Verde.
A nossa turma foi logo notada. O destaque era o Miranda, que por aparecer como jurado num programa de jovens aspirantes a músicos, virou celebridade. Mas chamaríamos a atenção de qualquer maneira, KD com seus quase dois metros, camisa grunge de flanela, e seus companheiros com echarpes e olhares de gringos, caindo no samba?
Num dado momento o samba parou e toda a comitiva foi saudada pelos músicos, KD, Miranda e nós cumprimentamos a todos para depois dançarmos ao som de Paulinho da Viola.
Na semana seguinte fizemos uma sessão de autógrafos com show - acho que o certo é kirtan, do KD. Incrível a força da música ao vivo, entendi o por quê de tantos fãs espalhados pelo planeta.
Gosto muito do livro, dos mantras, e do Krishna Das. Espero que ele tenha gostado também da sua editora no Brasil.
José Luiz Tahan, 41, é livreiro e editor.
Dono da Realejo Livros e Edições em Santos, SP,
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