Madrid, 17 de Março de 2019,
Há dois assuntos atuais que me preocupam
muitíssimo. Não, não é a destruição do planeta, nem a quantidade de plástico
nos mares, nem a reservas mundiais de água e grãos... já sabemos que de uma
hora pra outra vai tudo pro vinagre, de um jeito ou de outro...
Posso ser egoísta e politicamente
incorreta, mas prefiro ocupar-me de assuntos que afetam a mim e às pessoas ao
meu redor. E nesse balaio, como disse antes, há dois que me preocupam de
especial maneira: o futuro do transporte nas cidades e a gentrificação dos
centros urbanos.
Sobre o primeiro, depois de quase 14 anos
pegando o transporte público em Madrid, estava a ponto de surtar. Já não
aguentava mais a corrida diária de casa ao metrô, pagar quase 55 euros de
vale-transporte (o que é relativamente barato, se comparado a outras cidades
europeias); logo dentro do vagão, aguentar a cara emburrada das pessoas, os
olhares, o cheiro de sovaco e de gordura dos casacos alheios às oito da manhã,
e em casos muito desafortunados, um peido sorrateiro de algum(a) viajante... e
não só isso, depois de chegar à minha estação de destino, caminhar quase 20
minutos até o escritório... Estava tão farta, que cheguei até me empolgar e me
inscrevi numa auto-escola, mas depois, disse “a tomar por saco” e me decidi por
um patinete elétrico. Vanguarda, o futuro do transporte urbano... Piada... As
pessoas ainda não estão preparadas, assim que conto uma das minhas aventuras:
“No sé si estoy triste, enfadada, molesta o un poco
de todo... Después de algo más de una
semana yendo y volviendo del trabajo en patinete, fui insultada de la manera
más vil y asquerosa.
Un TAXISTA con su Toyota Hybrid de matrícula azul me acerca y me grita a todo pulmón: "!!!!QUÍTATE DEL MEDIO, ¡¡¡¡¡¡GORDA!!!!!!"
Yo iba por mi carril-bici, en la Castellana, entre Cibeles y Colón, como manda la nueva ordenanza de Madrid. En fin, a lo que voy:
Después de pasar por una anorexia y una bulimia,
que todavía tengo algunos achaques de vez en cuando, viene un taxista con su
pinta de farlopero (nota da escritora: gíria para cocaínomano) y me insulta,
¿llamándome GORDA? Vale que yo llevaba un
pantalón ancho (y 2 tallas más grande de la que suelo llevar) que no me
favorecía en nada, pero hasta ahí, nos hemos pasado, señores. Es viejo el
cliché de "se amable porque no sabes las batallas internas de cada
uno" y yo odio toda esa onda de positividad y buen rollo, pero eso es
fundamental en la vida. ¿Qué cuesta ser amable? Como la primera vez que salí a
la calle en patinete y un conductor de autobús paró a mi lado y me dijo
"mira, vete por el medio del carril bici, no te va pasar nada". Eso
si se agradece y más de una persona currando el domingo noche.
Esto solo refuerza mi
opinión sobre el TAXI DE MADRID y sus conductores, ya que esa no es mi primera
aventura con ellos: prepotentes, arrogantes, maleducados y sinvergüenzas. Jamás
volveré a coger un taxi en Madrid. No, no me dio tiempo a coger ni la matricula
ni la licencia… Otra cuestión que me planteo es: me insultó por ir en patinete o por
ser mujer y GORDA(??????) No lo sé, quizás por la dos, quizás por ninguna, no
lo sé...”
Publiquei o texto acima, em forma de
desabafo, nas redes sociais na semana passada. A questão do taxista ter me
xingado, sim me doeu, mas me dói mais saber que os próprios taxistas reclamam e
fazem greves, parando toda a cidade, porque querem uma divisão mais justa com
os serviços dos aplicativo Uber e Cabify. Pô, malandro, se querem prestar a ser
o único serviço privado de transporte, convém que pelo menos dessem motivos
para sê-lo. Mas enfim, foi uma mera anedota infeliz e vou seguir usando o meu
patinete, e agora vi que em Santos foi aprovado o uso deste veículo. Em Madrid,
cidade onde não há uma cultura ciclista (como em Amsterdam, por exemplo, onde a
bicicleta tem prioridade sobre o pedestre), os patinetes podem circular na
faixa ciclista (outra piada da Prefeitura de Madrid, que depois de muita
pressão dos coletivos ciclistas, fez nas coxas as faixas-ciclistas, que nada
mais são uma faixa da via à direita, onde pode--se ir ao máximo a 30km/h). Mas
ainda assim não nos respeitam.
Seja em Madrid, Santos, São Francisco,
Pequim ou Bucareste, acredito que há lugar para todos os meios de transporte, e
espero que podamos conviver de forma pacífica na selva caótica do trânsito
urbano (ui, meu lado hiponga falando...) Galera (motorizada com o seu carrinho)
de Santos, caso um patinete cruzar o vosso caminho, vamos respeitar e ter
paciência. Pelo motivo X que seja, nem todos podem ir de carro, mas todos temos
o direito de ir e vir....
E mudando de alhos para bugalhos...
Portugal... Ahhh Portugal, a terrinha...
Embora não tenha família portuguesa, sinto-me especialmente atraída por
Portugal, sei lá, pode ser pelo idioma ou porque o centro de Lisboa (aquela
parte ali da Rua Augusta, Praça do Rossio) parece o centro de Santos, só que
mais luxuoso... Ah, os portugueses então? Cada vez que vou, me sinto em casa,
tão em casa, que paradoxalmente tenho mais vontade de ouvir música
brasileira....
Bom, Portugal ilustra perfeitamente a minha
preocupação sobre a gentrificação dos centros urbanos. Entre 2001 e 2019
visitei Portugal diversas vezes (sem mencionar a minha primeiríssima vez em
julho de 1985) e nesse tempo só a minha preocupação só fez-se aumentar.
Em 2001, quase não havia turistas, bom no
Porto, porque em Lisboa sempre teve (não como atualmente, nem como em outras
cidades como Roma ou Londres, mas sempre teve). Naquele longínquo 2001, na Ribeira do Porto,
você via um grupo de ingleses, um casal de alemães por aqui, uns franceses por
aí... Mas nada como hoje em dia, onde é quase impossível fazer um passeio pelo
Douro ou pegar o Elevador de Santa Justa em Lisboa, por exemplo, de tanta
gente.
Nesses últimos anos, o turismo em Portugal
explodiu, graças ao declínio de certos destinos por culpa do terrorismo, as
aero linhas low-cost, ou simplesmente por moda. E essa explosão levou ao boom
dos apartamentos turísticos, o que encareceu o custo de vida e expulsou os
moradores antigos das suas casas no centro (a tal da famosa gentrificação).
Pô, é muito bacana poder alugar um
apartamentinho no centro Porto, perto da Ribeira, mas a que preço? Que ali vivia gente velha ou jovem que teve
que ir embora porque a máquina do dinheiro deve ser alimentada? Ou então a
carestia dos preços? Em Lisboa; sentei com o meu namorado numa “esplanada” na
Rua Augusta e nos cobraram quase 20 euros por 2 cafés e dois docinhos – quando
eu vi a conta quase tive um enfarte. Sem falar que o comércio old school já não
existe, agora é tudo Zara, H&M, Intimissimi e etc... Em setembro do ano
passado, quando estive no Porto, conversei com a menina motorista do Uber que
me levou pra noitada e lhe disse que estava assustada com a quantidade de
turistas, e comentei a minha experiência em 2001 e olhem o que ela me disse:
“Em 2001 eu estudava numa escola ali na
Ribeira... alguns anos depois ainda estudante, tivemos que mudar de colégio,
porque a nossa escola ia se transformar em um hotel...”
Com as palavras da minha Uber termino esta
carta, algo a se pensar...
Besitos a todos y hasta pronto,
Juliana