Mais uma
vez, nossa resistente Mercearia volta a tratar de negócios. Negócios
públicos... dinheiro de governo, arrecadação e os ‘escambau’.
Já diria
o magnânimo Milton Friedman que governança é uma desgraça: como já sabem que
todo final de mês pinta o ‘dinheirinho’ dos impostos nos cofres do governo,
“... tendem a gastar muito mal...” essa arrecadação. O prêmio Nobel de ciências
econômicas de 1976, diferente do que muitos pensam, era um quase
revolucionário: “onde hay govierno, soy contra”.
No mínimo,
já caberia a pecha de ‘desconfiado’. E ainda tem gente que sapeca umas de ‘o
pai do neoliberalismo’: bom... se considerarmos que esquerda e neoliberais
partem de uma mesma pauta progressista, ...
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Levando-se
em consideração que o mundo não resolveu os graves problemas iniciados pela
Crise dos Primes de 2008, já era de se esperar a quebradeira geral: uma
depressão econômica internacional pior que o ‘crack’ de 1929! Só para se ter
uma ideia, o PIB japonês já caiu 27%.
Até
que...
...
pintou a pandemia.
Bom, as
restrições para o controle da pandemia meteram ‘o loko’ — feito uma ‘fratura
exposta’ — para cima de uma economia internacional que mais parece uma
‘caozada’ daquelas bem monstro. Apregoava-se que a economia ‘ia bem, obrigado’
porque agora fica tudo no bolso, é tudo eletrônico... no celular. Fodeu
lindamente! O que se viu é que a tal ‘proximidade social’ é que fazia a roda
girar, até para lavar dinheiro de crime, bem como ilícitos. Afinal, sem povo na
rua não é possível disfarçar que a galera precisa de uma ‘obrazinha’ tipo
aquelas que têm ‘cartas marcadas’ com empreiteiras de estimação.
Até para
assalto, homicídio, acidente automobilístico fatal, precisa-se de ‘povão’ nas
ruas.
Ora,
ora, ora... vejam freguesas e fregueses, queridíssimas(os) clientes: sem
comprar o que seja, não tem imposto! ‘Úia’! ‘Cadê’ a arrecadação?! Como
serviços públicos serão pagos?! Como o salário dos trabalhadores (públicos)
serão pagos se já não circula mais dinheiro por conta do ‘isolamento social’?!
É um
‘êita’ atrás de ‘êita’.
Com isso, a
aceleração da tal ‘reforma tributária’: necessita-se de ‘la plata’
urgentemente! Na maçaroca medonha de sumir com PIS/Cofins e botar em campo a Contribuição Social
sobre Operações de Bens e Serviços (CBS), vai para ‘le derrière’ da geral uma
belíssima de uma naba.
‘Úia’! Pegou o
livro! Vejamos o que é possível ser feito... e qual lubrificante ‘la tchurma’
pegadora do bastão ‘pós maio de 1968’ escolheu para aliviar o esfíncter.
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A alegação do
Ministro da Fazenda para tributar livro tem toda lógica do mundo: ele não é
literato, andou sempre ‘cagando & andando’ para livro e toda vez que
baixava numa livraria, para apoiar um amigo que lançasse sua mais recente obra,
encontrava uma penca de gente chique, metida à besta e endinheirada. Logo, “...
tributa essa merda, porra! Tem dinheiro, paga mais imposto!”.
Lógica mais
‘cartesiana’, impossível. Pela vivência que ele possui, faz sentido.
Quando acaba a
grana, supomos que também acabam os argumentos que serviriam para brecar a taxação
do ‘objeto livro’ — aqui entra a forma como o ministro enxerga livro e
literatura. A turma do ‘deixa disso’ veio com uma argumentação do século XIX:
uns troços de que “... um povo sem cultura...”, “... o livro traz o saber...”,
“... é importante para a educação...”, “... não se faz uma grande nação sem
livros...” já não seduzem mais ninguém. Para ‘o povão’, nunca houve tanto livro
e a porra do buraco só aumentando
Vejamos os porquês
literatas & literatos brasileiros, nesse momento, não podem nem ‘dar uma
gemidinha’.
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O povão já não
acompanha mais o livro. De verdade, não. Claro que há exceções! Mas, no geral,
ambiente com livros soa como ‘coisa de gente metida’: se bobear, até nas áreas
mais nobres de nossas grandes cidades. Esse elã entre massa populacional e o
livro, de fato, nunca existiu: se existiu, foi aquele gozo bem rapidinho.
Começa aqui a
primeira mentira que somente nossos ouvidos escutam: de que livro é importante.
Cascata! Isso caía bem na época em que a melhor gráfica era a do Guttemberg e
era uma penca de copista caprichando na caligrafia. Enquanto a eletrônica não
entrou em campo, até daria para dizer que o livro ‘era o tal’. Rádio e
televisão — somados ao cinema — já tinham dado a dica de que essas três áreas
seriam os postos avançados das Letras.
Literata &
literato que não viu isso, lamento: o livro, veículo ‘de tanta cultura’, com
alguma sorte, já nos anos 1980, servia para facilitar a vida de arquitetas e
arquitetos ‘designers de interiores’ para dar um ‘up’ — aquele ‘gasinho’ — no
ambiente decorativo da sala de estar (se bobear, hoje, nem isso!). O livro virou
coisa de entusiasta e apaixonado — como este humilíssimo merceeiro que vos fala
— na lida ‘do mundo cada vez mais incompreensível’. Lógico que rola um lance
com muito tesão ao qual damos o nome de estética — isso conta muito —o que
deixa a existência bem mais saborosa. Só que quem não curte essa praia nem
esquenta a cuca se o preço do livro subiu ou desceu. Cagando & andando.
Simples assim.
Logo, não entra na
cachola da massa populacional as argumentações do tipo “... o livro é
importante para o engrandecimento de uma nação”. Para ‘o povão’, isso é cascata
da grossa! Nunca se teve tanto livro, leitura, loja, rede de livraria, festival
e salão literário para o presidente ser o Bolsonaro.
Lamento, mas essas
literatas & literatos perderam: um troço meio 7X1, saca?!
Então, essa relação
perde completamente o sentido.
Sobrou para a
educação, com uma molecada nervosa com celular no bolso: “... ah! O livro
contém o saber”. A molecada se vira para você e fala: “Tio! O senhor já leu o
PDF do Taleb ou do Jordan Peterson?!”. PDF, putada! Que ‘mané’ livro, o cacete!
Um dos meus grandes
dissabores mais recentes, inclusive, foi o desdém de Noam Chomsky em relação a
Peterson manifestado numa singela entrevista de outubro do ano passado para um
grupo de alunos de pós-graduação de alguma ‘porta-de-esquina-acadêmica’ nos EUA,
entrevista, essa, que gerou — numa decisão pessoal — o encerramento quase
completo de qualquer boa vontade minha em relação ao linguista: Chomsky não
entendeu que os novos heróis da molecada incluem Peterson que, aliás, é um
enorme conhecedor de Jean Piaget.
“Vai lá, Chomsky!
Morra em paz, meu velho! Que Deus te acompanhe...”.
Ainda
que não goste dos novos heróis da meninada, há de se reconhecer que gente como
Sam Harris, Jordan Peterson, Bret Weinstein, Heather Heying, Glenn C. Loury,
Coleman Hughes, James Lindsay, Christina Hoff Sommers, Thomas Chatterton
Williams, Kmele Foster e o professor de linguística da Universidade de
Columbia, também colunista do The Atlantic, John McWhorter fazem um ‘para lá’
de excelente trabalho, mesmo que não tenha nada a ver com a minha cara. Ou
seja, mesmo concordando ou não com o que eles dizem, isso jamais terá qualquer
relevância quanto ao valor conferido por qualquer outra pessoa que aprecie
esses intelectuais e pensadores, principalmente quando se trata de grupos mais
jovens, enfiados — os coitados — num buraco que não foram eles que produziram e
loucos para, finalmente, dar um jeito nessa porra toda.
Nem é
preciso dizer que ‘as guerrinhas da engenharias sociais’ — responsáveis, na
minha modestíssima opinião, por tombarem Chomsky como “um grande intelectual de
ponta”, principalmente porque não teve colhões para bater de frente contra a
própria ‘tchurma’ (que ele mesmo alimentou durante todo esse tempo) no caso da
Universidade Evergreen e que vitimou um ‘colega de esquerda’ como Weinstein —
fizeram do objeto livro quase um símbolo de treta e um poço interminável do pior
enfado possível e existente.
Depois,
é bom não ficar com ‘cartinha’ na revista Harper’s como ‘manifesto contra a
cultura do cancelamento’. Porra, vão se foder! “Foram vocês que criaram essa
bosta!”. Quando era contra “... o inimigo de vocês...” (ou alguém que vocês
supõem ‘inimigo’), servia! Quando tomba gente do mesmo lado da mesa, numa
covardia de doer no espírito, como o que aconteceu com Bret Weinstein e Heather
Heying em 2017 na Evergreen, aí... “ai! Cartinha para a Harper’s”. É de mandar
tomar no...
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É por
essas e outras que rola o fim da isenção para livros prometida pela Contribuição Social
sobre Operações de Bens e Serviços (CBS) (não é um ‘aumento de imposto’ como
andam dizendo, mas o fim de uma isenção de 12%). Com o lance da quebradeira
promovida pela pandemia, somado à ausência da massa populacional que anda
passando a léguas de distância de um livro, as governanças aproveitam o ensejo
para tentar, de uma forma ou de outra, derrubar as isenções que esses veículos
tinham.
Governo ruim, que
não quer lidar com Cultura?! Sem dúvida! Enxergam a coisa na base do “... esse
bando de desocupados”. Só que eles têm apoio justamente na ausência de plateia:
seria algo como: “... de fato, entendemos patavinas desse troço de Cultura.
Mas, pelo jeito... vocês também não andam fazendo muito sucesso fora daquilo
que chamam de ‘cultura de entretenimento’”.
Cabe o debate: qual
seria o protagonismo social das Artes, em especial da Literatura, quando se
descobre que as próprias Artes parecem ter perdido por completo a embocadura de
uma lida mais abrangente com a massa da população?
Marcelo Rayel Correggiari
nasceu em Santos há 48 anos
e vive na mítica Vila Belmiro.
Formado em Letras,
leciona Inglês para sobreviver,
mas vive mesmo é de escrever e traduzir.
É autor de Areias Lunares
e O Verão No Café Atlântico
(à venda na Amazon, em livro e e-book).