Bem, se existe um fundo do poço, acredito que chegamos
lá. Não conseguimos encontrar a luz no fundo do túnel, mas as desgraças, essas,
sem quaisquer dúvidas, parecem querer provar que a conversa de Deus ser
brasileiro é balela. Vamos aos fatos: um sujeito de suposta boa formação, sem mais
nem menos, entra numa Igreja e começa a fuzilar todo mundo. O resultado, cinco
mortos e sete feridos, não poderia ser pior. Um Pai de Santo famoso sai da toca
e é acusado de abusar sabe-se lá de quantas mulheres...a coisa está feia.
Como diz aquele derrotista, se entrar na Igreja morre,
se for procurar Pai de Santo é comido e se for para Brasília, é roubado. Melhor
é ficar no bar mesmo, lá, pelo menos, o risco de passar por qualquer das
alternativas é bem menor. Para piorar a situação, esse bando de irresponsáveis
que compõe nosso Congresso, amplia as mordomias para as montadoras, que terão
descontos astronômicos em seu Imposto de Renda, uma justificativa para proteger
o trabalho, salvaguardar a indústria brasileira e gerar empregos. Nada disso
aconteceu anteriormente e não irá acontecer daqui para a frente. Uma vergonha.
Sinceramente, não há como explicar os novos tempos que
se aproximam. Vejam o caso de Campinas, com o atirador Euler Grandulpho, 49
anos, analista de sistemas, homem com boa formação escolar, que chegou a
trabalhar no Ministério Público de São Paulo, reconhecidamente “um bom colega”
e que, num dia qualquer, tem um surto e começa a atirar numa Igreja. Amigos,
parentes e conhecidos estranharam o fato. Como um sujeito pacato, que
dificilmente saia de seu quarto, pode ter um ataque de loucura desses? E como
esse mesmo sujeito consegue duas armas com seus números de série apagados para
efetuar o crime? Estranho, muito estranho...
Esse tipo de arma é comum entre notórios marginais.
Nós, sujeitos comuns, teríamos enormes dificuldades para encontrar um
comerciante desse tipo de arma ilegal. Euler conseguiu e a própria polícia
estranha, considerando que ele não tem qualquer passagem policial, sempre foi
um cidadão de bem, teve bons empregos e era, reconhecidamente, um sujeito
pacato. O que teria disparado o gatilho que o levou a um ato tão bárbaro? Essa
resposta será difícil de responder, considerando-se que até a família está
completamente desnorteada. Uma tragédia sem explicação...
João de Deus, no entanto, terá muito que explicar.
Esse negócio de abusar de mulheres fragilizadas, como é o seu caso, pode render
uma longa condenação de três algarismos. E não adianta seu advogado e seus
seguidores jurarem de pés juntos a sua inocência. São muitas as mulheres que
perderam o medo e resolveram fazer a denúncia contra o pai de Santo. Como
definir um personagem que abusa de mulheres que tem como proteção pessoal
apenas a fé? Elas estão lá à procura da cura e conseguem, no máximo, uma
trepada. No mínimo, é nojento.
Infelizmente, o local onde o pai de Santo aprontava
das suas, estava repleto de pessoas que acreditam nele, que o seguem, que o
adoram e que o defendem a qualquer preço. Esse fanatismo religioso, comum em
países como o nosso, são o resultado da ignorância, do desespero, da
insegurança moral. São pessoas de baixa alta estima, que tentaram tratamentos
com diversos médicos e que acabam apostando na fé como a grande cura.
Particularmente, não acredito. Mas respeito aqueles que tem esse tipo de fé e até
os admiro. Nem posso afirmar que nunca usaria essa aposta num desespero
qualquer. Mas procuro ter a consciência de que a medicina tradicional ainda é o
que nos resta.
Não sei o que acontecerá com o pai de Santo tarado.
Espero, isso sim, que as mulheres que se sentiram abusadas apareçam para acusar
esse falso mensageiro da fé. O tempo de abusar de mulheres já passou; cansou
ver tantos casos impunes e ver tantos homicídios não resolvidos de mulheres que
tentaram apenas, manter suas dignidades. Espero, também, que o tal pai de santo
não use as mesmas alegações do outro líder messiânico que está encanado, que
passou a vida inteira afirmando que nada era seu e que tudo era de amigos.
Provavelmente, o pai de Santo vai afirmar que não era ele, mas o cavalo, exatamente
como o enjaulado líder messiânico de Garanhuns. Aí vai ser gozado...Adios...
Álvaro Carvalho Jr. nos deixou no último dia 21 de Dezembro, vítima de um infarto fulminante. Éramos amigos há mais de 30 anos e sempre que nos encontrávamos bebíamos bem e ríamos muito. Nos vimos pouco nos últimos anos, mas falávamos semanalmente pelo telefone. A crônica acima foi escrita 3 semanas atrás e derrubada pelo próprio Alvaro, que me enviou outra alegando que esta havia envelhecido rápido e já estava datada. Mas diante dos fatos recentes, o que antes parecia datado se tornou perene. E o que soava como uma visão ligeira de uma série de acontecimentos inter-relacionados acabou virando uma espécie de "big picture" de um fim de ano muito estranho. Que agora se encerra sem a presença sempre perspicaz e bem humorada de Alvaro Carvalho Jr, um cara que vai deixar uma saudade imensa em todos os que tiveram o prazer e o privilégio de contracenar com ele. Estranhamente, Álvaro, que quase sempre encerrava suas crônicas com um "inté", aqui encerrou com um "adios". Vai entender... (Chico Marques - Editor de Leva Um Casaquinho)