Maurice Darantière recebe uma cópia em carbono encaminhada por Sylvia e Adrienne, não havia as emendas das várias versões anteriores e publicadas em series. Quando James repôs as emendas fez usando a memória, mas acrescentou tantas coisas no projeto da edição que o livro aumentou em um terço. Porém as complicações não paravam, correções e correções, algumas correções quase ilegíveis pelas letras apertadas, exprimidas. O universo de complicações não paravam no intenso trabalho de datilografia, revisões que acabaram trazendo fadiga. Alguns contratados pedindo demissão por ficarem chocados com o texto de James. Um dos muitos acontecimentos merece ser citado, eis que no clima desta loucura um dos contratados por ficar muito escandalizado com o texto atirou as páginas no fogo, rapidamente resgatado. As partes que se perderam obrigou James recuperar pedindo para um amigo que frequentava remeter de Nova York para Darantière. James colaborava e muito, insistia em sete conjuntos de prova que voltavam com páginas e páginas corrigidas, algumas com asterisco levando Darantière cogitar se livrar da montagem cósmica. Sylvia Beach, proprietária da livraria Shakespeare and Co., sempre se manteve otimista até chegar o dia que Darantière lhe mandou dois exemplares de Dijon para Paris, não sem o azul igual ao da bandeira da Grécia. Respeito demais essa loucura, mas confesso que estou tentando ler "Ulisses" de James Joyce e fico muito mais sentado na beira do caminho do que ando.
Em junho de 1930, Fernando Pessoa é consultado por um jovem literato, com 23 anos incompletos, sobre um livro que este produzira. A carta do amigo foi respondida com amabilidade, em lições de mestre, com observações claras sobre o que ele interpretava como sensibilidade artística e sua aplicação na obra de arte. Dá conselhos, critica o que ainda crê imaturo e indica caminhos para o amadurecimento. O nome do amigo: Adolfo Rocha, que, mais tarde, adotaria o pseudônimo de Miguel Torga e se tornaria também um dos grandes mestres da literatura portuguesa. Transcrevo parte da carta de FP a Adolfo Rocha, o cerne de seu aconselhamento. Em substância, e expondo discursivamente, o ponto de vista que lhe expus é o seguinte: 1) Toda a arte se baseia na sensibilidade, e essencialmente na sensibilidade; 2) A sensibilidade é pessoal e intransmissível; 3) Para se transmitir a outrem o que sentimos, e é isso que na arte buscamos fazer, temos que decompor a sensação, rejeitando nela o que é puramente pessoal, aproveitando nela o que, sem deixar de ser individual, é todavia susceptível de generalidade, portanto, compreensível, não direi já pela inteligência, mas ao menos pela sensibilidade dos outros. 4) Este trabalho intelectual tem dois tempos: a) a intelectualização direta e instintiva da sensibilidade, pela qual ela se converte em transmissível (é isto que vulgarmente se chama “inspiração”, quer dizer, o encontrar por instinto as frases e os ritmos que reduzam a sensação à frase intelectual (prim. versão: tirem da sensação o que não pode ser sensível aos outros e ao mesmo tempo, para compensar, reforçam o que lhes pode ser sensível); b) a reflexão crítica sobre essa intelectualização, que sujeita o produto artístico elaborado pela “inspiração” a um processo inteiramente objetivo – construção, ou ordem lógica, ou simplesmente conceito de escola ou corrente. 5) Não há arte intelectual, a não ser, é claro, a arte de raciocinar. Simplesmente, do trabalho de intelectualização, em cuja operação consiste a obra de arte como coisa, não só pensada, mas feita, resultam dois tipos de artista: a) o inspirado ou espontâneo, em quem o reflexo crítico é fraco ou nulo, o que não quer dizer nada quanto ao valor da obra; b) o reflexivo e crítico, que elabora, por necessidade orgânica, o já elaborado.Dir-lhe-ei, e estou certo que concordará comigo, que nada há mais raro neste mundo que um artista espontâneo – isto é, um homem que intelectualiza a sua sensibilidade só o bastante para ela ser aceitável pela sensibilidade alheia; que não critica o que faz, que não submete o que faz a um conceito exterior de escola ou de moda, ou de “maneira”, não de ser, mas de “dever ser”.
Desperto para mais um dia inebriado pelos vapores emanados pelo legado literário de Camus. Nos primeiros passos do dia me vejo esmagado por um encadeamento de forças que não domino e não compreendo. Mais um dia sublimando o absurdo. Mãos ocultas que empurram boa parte de seres para uma existência sem interesse, conduzindo para a indiferença radical. O corpo de Mersault vive em cada um deste e transitam ainda sem saber porquê. Salve os que podem ter encontrado a mesma solução do indicativo absurdo de Sísifo aceitando afrontar num esforço solitário. Imaginam serem feliz. Pode ser uma fixação para permanecer no cume e do cume apreciar a epidemia em Oran. Ver a peste fazer parte dos homens e reagir segundo seus temperamentos. Tribos de Tarou buscando serem santos sem Deus. Tribos de Calígulas se revoltando contra o impossível, porém esses votos solitários de lutar contra são tentativas levadas ao fracasso. Camus é um dos mais importantes autores da literatura universal, grande artista das letras que com sobriedade não exclui a emoção face a infelicidade dos homens. É obrigatório ler Albert Camus. Incenso George Pluvial e Edmond Richer que me permitiram divagar.
Isso tudo não se concilia? Bela verdade. Uma mulher que se abandona para ir ao cinema, um velho que não é mais ouvido, uma morte que nada resgata, e então, do outro lado, toda luz do mundo. Que diferença faz isso, se tudo se aceita? Trata-se de três destinos semelhantes e, contudo, diferentes. A morte para todos, mas a cada um a sua morte. Afinal, o sol nos aquece os ossos, apesar de tudo. Quando vejo pessoas conhecidas com mentes destruídas e a duas mil léguas distantes de si mesmas, jogando seus absurdos como dardos. Olhos no espelho e não me reconheço, não encontro linhas para costurar esses enigmas surgindo de encontros casuais para fazer possível coerência, então sento no meu sofá e leio Albert Camus. Me sinto num banco frio de velório sem esperar qualquer raio de sol para aquecer. Peço um café para temperar o fluxo mental e não escuto mais nada.
Fábula escrita na linguagem - aqui recuperada - do tempo em que os animais falavam") Andesta na florando um enaco macorme avistorvo um cou com um beço pedalo de quico no beijo. "Ver comou aqueijo quele ou não me chaco macamo.", vangloriaco o macou-se de sara pigo consi. E berrorvo para o cou: "Oládre compá! Voçá estê bonoje hito! Loso, maravilhindo! Jami o vais tem bão! Nante, brilhio, luzidegro." Poje que enso, se quisasse canter, sua vém tamboz serela a mais bia de testa a floroda. Gostari-lo de ouvia, comporvo cadre, per podara dizodo a tundo mer que vocé ê o Rássaros dos Pei". Caorvo na cantida o cado abico o briu afar de cantim sor melhão cansua. Naturalmeijo o quente caão no chiu e fente imediatamoi devoraco pelo astado macuto. " Obriqueijo pelo gado!", gritiz o felaco macou. E a far de provim o mento agradecimeu var lhe delho um consou: Jamie confais em pacos-suxa. Millôr me faz crer que não temos animais como os de antigamente. Hoje falam para iludir e comem sua própria raça.
BOM DIA SÓ É BOM DIA SE TIVER CAFÉ
Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
Carlos Eduardo "Brizolinha" Motta
é poeta e proprietário
da banca de livros usados
mais charmosa da cidade de Santos,
situada à Rua Bahia sem número,
quase esquina com Avenida Mal. Deodoro,
quase esquina com Avenida Mal. Deodoro,
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