COMÉDIA
ALIMENTAR - TOFU DIDO
I- Quadras
Sabendo
que a carne é podre,
Fato
que muito me enoja,
Querendo
comida nobre
Fui
comer carne de soja.
Daí
que fiquei sabendo
De
um parasita, meu sócio,
Que
ganhava os dividendo:
Esse
tal de agronegócio.
Levei
sabugo de milho
(haja
papel higiênico)
Aqui
se come restolho,
é
o alimento transgênico
Tiraro
as floresta tudo
No
lugar pôs soja e boi
Os
pobre índio botocudo
Ganhou
celular da Oi,
Da
Tim, da Vivo, o cacete.
Brasil,
celeiro do mundo:
Empresários
cafajestes
Políticos
vagabundos
Uma
mídia bem canalha
Justiça
venal e lerda
E
o povo, nessa caralha,
Pagando
e comendo merda
II
- Tercetos
Cansado
de carne com papelão
Assunto
que virou carne de vaca
Foi
que eu me decidi por abrir mão
De
comer carne, já que a carne é fraca
E
transformei inteiro o meu cardápio
Pra
só comer soja, milho e alfavaca.
Rasguei
meus ternos, me cobri de trapos
(Quase
me interditou minha família)
Mas
tinha dignidade em meus farrapos
Morreu
papai, fiz chorar minhas filhas,
Família
não é mais minha seara,
Veja,
até Fátima largou de William
Chamou
de brocha, cuspiu-lhe na cara
Deu
piti, fez escândalo, que treta
Saiu
do jornal, fichou na Seara,
E
foi vender linguiça pra caceta
Mas
a mais trolhuda socou no cu
Daquele
que a trocou pela Poeta.
De
minha parte eu, pobre e seminu,
Me
viro como posso nesta piça
Montei
a fabriqueta de tofu
Porque
ruiu o império da linguiça
E
assim foi que me tornei empresário
Da
gororoba insossa, sem delícia -
Especialista
em nutrição de otários
Eu
me tornei, e fui bem sucedido
Pois
procurei um bom publicitário
Pra
criar um nome, um logo, apelido
Que
fizesse bombar o meu produto
E
ele me sugeriu meu nome: Dido.
Pensei
comigo, que sujeito arguto
Este
publicitário, este Olivetto
Botar
meu nome no tofu, que puto,
Não
achei bom mas, sei lá, nem me meto
Ele
é publicitário, estudou tanto
Deve
de ter razão, eu me submeto.
Com
meu queijo de soja me agiganto,
Me
deixou rico meu tofu querido
Feito
da melhor soja da Monsanto
E
hoje o Brasil consome Tofu Dido.
Tofu
Dido vem lá do Mato Grosso,
Vem
do Goiás, Pará, Rondônia, Obidos
Criar
boi não é mais futuro nosso
Comprei
uns matos, broquei, plantei soja,
Matei
uns índios e enterrei num fosso
Sob
o protesto de um bando, uma corja
De
vagabundos e ambientalistas
Essa
raça de putos que me enoja
Mas
que, por paradoxo, uns ativistas
Do
veganismo, adoram meu negócio -
E
eu vendo preles, já que eu estou na pista.
Eu,
pra ter lucro, aceito qualquer sócio
Hippie,
petista, coxinha vegano,
Eu
entrei nesse tal de agronegócio
Pra
ficar rico a qualquer custo, mano,
Tô
nem aí se dentro dos currais
O
boi tem tratamento desumano,
Se
foda o boi, eu quero é ganhar mais,
Se
foda os bicho todo, o porco, o frango
Pra
falar real, detesto vegetais.
O
foco desta minha empresa é o rango
Se
a moda agora é adorar o boi
Comprar
bife de soja a centos mango
Tô
dentro, minha ideia sempre foi
Acabar
c'a Amazônia e encher de gado
E
que, na frente, de berrante, entoe
O
boiadeiro aquele som cagado,
O
tal sertanejuniversitário.
Mas
se o boi acabou vitimizado
E
pro consumidor é prioritário
Cuidar
da saúde e o colesterol
Inda
que fazendo papel de otário
Nos
frigoríficos passo o cerol
E
planto soja nessa porra toda
Estou
bem convencido de que o sol
nasceu
pra mim, o resto que se foda,
Me
nome é Dido, Dido que é meu nome
Se
o Tony Ramos se queimou na roda
Bonito
fiquei eu, sujeito home
Eu
que vou sustentar toda a canalha
Não
quero ver meu povo passar fome
Tô
bem ligado que o esquema enxovalha
Quer
destruir a empresa nacional
Pro
americano vir meter cangalha
No
lombo dos brazuca etc e tal
Meus
concorrente vai ser dizimado
Também
sei manejar o capital
Preciso
destruir o tal Nikado
O
fazendeiro japonês vizinho
Que
diz o meu tofu falsificado
E
o dele é bom, "melhor, mais gostosinho,
Né?
japonês sabe fazer tofu."
Tem
que tirar o japa do caminho:
Nikado
vai ser pasto de urubu.
Portanto,
ficamo assim combinado,
Quem
comer carne vai tomar no cu
Come
queijo de soja batizado
Essa
bosta que tem gosto de rolha
Tem
Tofu Dido e tem Tofu Nikado –
Importa
é ter “liberdade de escolha”.
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