A Comunidade é novo filme do diretor Thomas Vinterberg, o mesmo do ótimo A Caça.
Nele, um casal com apenas uma filha herda uma casa enorme em Copenhague, mas, apesar de terem uma situação econômica confortável – os dois são bem-sucedidos no trabalho –, não conseguem mantê-la sozinhos.
A decisão entre se desfazer da casa ou morar coletivamente, numa comunidade, dividindo as despesas, é o ponto de partida do filme.
A esposa, entediada com o a mesmice da relação de mais de 20 anos, é entusiasta da ideia -- enquanto o marido, mais autoritário, reluta em perder a autonomia, uma vez que as decisões deverão passar por um conselho. Mas a vontade dela acaba prevalecendo, e a família embarca na aventura de morar em comunidade.
A primeira escolha é óbvia: um casal de amigos de longa data. Depois o grupo vai ficando mais e mais heterogêneo.
No inicio, fica claro o deslumbramento da esposa com a experiência -- a convivência com outros juntamente com a presença do marido e da filha a deixa radiante.
Aliás, não só ela: todos aproveitam muito bem a experiência como uma viagem em grupo. Mas em pouco tempo, claro, os conflitos previsíveis começam: problemas com rateio de despesas, organização, etc.
A grande sacada de A Comunidade é não se concentrar no que seria obvio e apresentar temas que ficam longe de uma analise inicial da vida em grupo. Para então, a partir da quebra da dinâmica (ou do comodismo) do casal -– enquanto um parece se sentir cada vez mais realizado, o outro parece se incomodar cada vez mais --, assistirmos à derrocada publica de um dos habitantes da casa.
Se encarar dificuldades num relacionamento já é difícil com privacidade, imagine passar por isso em meio a várias pessoas?
A exposição publica dos problemas parece acelerá-los, trazendo cada vez mais insegurança e questionamentos, aumentando a obsessão e levando a uma espiral descendente em frente de uma plateia. E
isso faz com que os problemas mais previsíveis da vida em comunidade pareçam pequenos. Aos poucos, quem, a principio, parecia mais independente, passa a se mostrar cada vez mais dependente, tentando manter o outro por pertoa qualquer custo. Quem parecia mais acomodado, vai forçando situações cada vez mais extremas, simplesmente por comodismo, sem a mínima consideração.
O desastre é iminente, mas ninguém parece tentar evita-lo. A famosa civilidade dinamarquesa acaba servindo de desculpa para, de um lado, a manutenção de uma obsessão, e de outro a completa indiferença. Um pouco de passionalidade latina caberia muito bem neste contexto.
A atuação da atriz Trine Dyrholm é um espetáculo à parte. A queda de sua personagem, desde a euforia até a depressão, é algo impressionante. Não foi à toa que ela ganhou o prêmio de melhor atriz em Berlin este ano. Só sua performance já valeria o ingresso.
As crianças (são duas) somente observam. São muito caladas. Não consegui identificar nenhuma influencia da vida em comunidade neles. Apesar da presença da filha, Freja, crescer ao longo do filme, sua postura é muito hermética -- talvez para contrastar com a exposição cada vez maior dos pais.
A Comunidade se passa nos anos 70, mas poderia perfeitamente se passar nos dias de hoje.
Com a falta de privacidade que reina em nossas vidas, o tema é mais atual do que nunca.
A COMUNIDADE
(Kollektivet, 2016, 112 minutos)
Roteiro e Direção
Thomas Vinterberg
Elenco
Ulrich Thomsen
Trine Dyrholm
Lars Hanthe
Fares Fares
Julie Agnete Vang
Ole Dupont
Mads Reuther
em cartaz no
Espaço Itaú Frei Caneca,
Espaço Itaú Augusta
e no Belas Artes.
Espaço Itaú Frei Caneca,
Espaço Itaú Augusta
e no Belas Artes.
Fábio Campos convive com filmes
desde que nasceu, 50 anos atrás.
Seus textos sobre cinema passam ao largo
do vício da objetividade que norteia
a imensa maioria dos resenhistas.
Fábio é colaborador contumaz
de LEVA UM CASAQUINHO.
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