“A pior coisa do sucesso
é que você tem que continuar
sendo um sucesso”
(Irving Berlin)
Acontece cada coisa numa agência de propaganda que parece mentira. Mas não é. Essa história, por exemplo, teve como cenário a Novagência, no final de 1979. E é pura verdade.
Certa tarde o telefone tocou em minha sala. Era Silvana, a telefonista, dizendo que havia um policial rodoviário na recepção. “Ele quer falar com alguém do Departamento de Artes”, disse ela. “Trás ele aqui na Criação”, respondi.
Fiquei pensando o que um PM poderia querer com a gente. Estava eu matutando sobre aquela visita inusitada, quando a porta se abriu e Silvana entrou, acompanhada por ninguém menos do que Carlos Miranda, o Vigilante Rodoviário!
Se você tem menos de 40 anos, certamente nunca ouviu falar dele. Mas saiba que Carlos, junto com seu fiel companheiro Lobo, um cão pastor alemão, foi o protagonista do primeiro seriado de TV produzido no Brasil. Um sucesso tão inesperado quanto retumbante.
Para a minha geração, assistir ao Vigilante Rodoviário era obrigatório. Ninguém perdia um episódio. Era uma febre.
Pois, eis que, de repente, surge o próprio em minha frente. Em carne, osso, farda e coturnos. Foi difícil disfarçar o menino que, dentro de minha memória afetiva, se via tentado a pedir um autógrafo ao ídolo.
Convidei meu xará para sentar. Apresentei-o ao Mardi, meu diretor de arte. Pedi água e café para todos. Quem diria, o Vigilante Rodoviário na minha sala!
A situação estava assim, quando o próprio quebrou o silêncio. Pediu desculpas pela intromissão. Explicou que estava passando pela Avenida Brasil quando viu a placa: Novagência de Propaganda. Mandou o estafeta parar o carro.
Carlos Miranda nos contou sua trajetória.
Depois que a série saiu do ar, ele abandonou a carreira de ator. Disse que estava pensando no que iria fazer da vida quando, graças à enorme repercussão do Vigilante, recebeu um convite do próprio comandante para ingressar na corporação.
Como tinha curso superior, prestou exame para oficial e entrou como tenente. Resultado: seguiu carreira até capitão, sua patente naquele momento.
A conversa estava nesse ponto quando Mardi, não agüentando mais de curiosidade, perguntou do Lobo. Carlos deu um sorriso simpático, que revelava estar habituado à pergunta:
"Vocês sabiam que o Lobo era uma fêmea?"
Mardi e eu caímos na risada. Aproveitei para perguntar a razão dele ter nos procurado. Carlos foi sincero:
“Como, até hoje, a maioria das pessoas me chama de Vigilante Rodoviário, eu achei que poderia usar minha imagem em benefício da corporação. Pensei numa campanha de segurança nas estradas, comigo e outro Lobo como modelos. O único problema é que nós não temos grana. Será que vocês podem ajudar?”
A idéia era ótima. Mas precisávamos da autorização dos donos agência para trabalhar. Liguei para o Nélson Biondi. Contei o que estava acontecendo e ele topou, inclusive, bancar a campanha por conta da agência.
Já estávamos pensando no que iríamos criar quando a porta abriu e entraram Nélson e Herbert Levy Filho, os dois sócios. Vieram conhecer o famoso personagem. Pessoalmente.
O fato é que a campanha saiu. Na faixa. Com tudo o que tinha direito. De TV e rádio a anúncios de jornal e revista, além de outdoor, folhinha e até calendário de bolso.
Em todas as peças lá estava a imagem clássica dos anos 60: Carlos Miranda, o heróico Vigilante Rodoviário, junto ao velho Sinca Chambord amarelo-ovo, de prontidão no acostamento da estrada.
Ao lado, seu fiel cão Lobo, que dessa vez era macho.
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